QUEM SOMOS REALMENTE ?

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Precisamos nos ver com os olhos de Deus e, por sua graça, nos tornar tudo o que podemos ser em Jesus Cristo.

Texto: Deut. 8-11

Oliver Cromwell avisou ao artista que pintava seu retrato que se recusaria a pagar um centavo sequer pelo quadro se ele não se parecesse exatamente com ele, inclusive com “espinhas, verrugas e tudo o que você vê em mim”. Ao que parece, o grande estadista inglês era tão corajoso ao posar para um retrato quanto era liderando um exército no campo de batalha. A maioria de nós não é assim tão valente. Nossas fotos sem retoques nos incomodam e, certamente, pagaríamos de bom grado para que alguém pintasse um retrato que melhorasse nossa aparência.

Nesta parte de seu discurso de despedida, Moisés retratou o povo de Israel como era de fato, “com verrugas e tudo”. Era importante para a vida espiritual deles que Moisés fizesse isso, pois um dos primeiros passos para a maturidade é aceitar a realidade e tomar uma atitude em relação a ela. Precisamos nos ver com os olhos de Deus e, por sua graça, nos tornar tudo o que podemos ser em Jesus Cristo.

1. FILHOS NO DESERTO (Dt 8:1-5) – Os três elementos essenciais para que Israel conquistasse e desfrutasse a terra prometida eram: ouvir a Palavra de Deus, lembrar-se Palavra e  obedecer a Palavra. Esses elementos ainda são essenciais para uma vida cristã bem-sucedida e satisfatória nos dias de hoje. Ao andar neste mundo, não temos como progredir sem a orientação de Deus, sem sua proteção e provisão, sendo que uma boa memória também ajuda. Nestes capítulos, Moisés nos ordena quatro vezes a lembrar (8:2, 18; 9:7, 27) e em quatro ocasiões nos admoesta a não esquecer (8:11, 14, 19; 9:7). Moisés ressaltou quatro ministérios que Deus realizou por Israel e que realiza por nós hoje, quando procura nos amadurecer e preparar para aquilo que ele tem planejado para nós.

 DEUS NOS PROVA (W. 1, 2). Deus sabe o que há dentro do coração de seus filhos, mas nem sempre seus filhos o sabem – ou querem saber. “E todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações” (Ap 2:23). A vida é uma escola (Sl 90:12), e muitas vezes não nos damos conta de qual é a lição até termos sido reprovados no teste!

A forma como reagimos às provas da vida revela o que há, de fato, dentro de nosso coração, especialmente quando essas provas incluem experiências da vida diária.

DEUS NOS ENSINA (V. 3). Durante a jornada do povo pelo deserto, Deus enviou-lhes “pão dos anjos” (Sl 78:21-25) todas as manhãs para ensiná-los a confiar nele em tudo de que precisassem. Porém, o maná era mais do que o sustento físico diário. Era também um símbolo do Messias vindouro, “o pão da vida” (Jo 6:35). Quando foi tentado por Satanás para transformar pedras em pão (Mt 4:1-4), Jesus citou Deuteronômio 8:3 e mostrou que a Palavra de Deus também é o pão de Deus, pois nos “alimentamos” de Jesus Cristo quando nos “alimentamos” da Palavra de Deus. O Senhor estava ensinando os israelitas a buscar nele seu “pão […] de cada dia” (Mt 6:11) e a começar o dia meditando na Palavra de Deus.

DEUS CUIDA DE NÓS (V. 4; 29:5). Deus não apenas alimentou os israelitas a cada manhã com “pão miraculoso”, mas também guardou as roupas que vestiam de se desgastar e seus pés de inchar. As três perguntas mais prementes da vida da maior parte das pessoas é: “O que comeremos? O que beberemos? O que iremos vestir?” (Mt 6:25-34), e o Senhor supriu todas essas necessidades de seu povo durante quarenta anos.

DEUS NOS DISCIPLINA (V. 5). Deus considerava os Filhos de Israel como seus próprios filhos a quem muito amava. “Israel é meu filho, meu primogênito” (Êx 4:22; ver Os 11:1). Depois de anos de escravidão no Egito, os israelitas precisavam aprender o que era a liberdade e como usá-la com responsabilidade. A disciplina é a preparação da criança para as responsabilidades da vida adulta. A disciplina prova que Deus nos ama e que somos membros de sua família (Hb 12:5-8; Pv 3:11, 12). O segredo para o crescimento durante a disciplina é nos humilharmos e nos submetermos à vontade de Deus (Dt 8:2, 3; Hb 12:9, 10).

2. PEREGRINOS NA TERRA (Dt 8:6-20)-Depois de ser libertado do Egito, o destino do povo de Israel não era o deserto, mas sim a terra prometida, o lugar de sua herança. “E [Deus] dali nos tirou, para nos levar e nos dar a terra que sob juramento prometeu a nossos pais” (Dt 6:23). O mesmo acontece com a vida cristã: nascer de novo e ser redimido do pecado é só o começo de nossa caminhada com Cristo, sem dúvida um grande começo, mas nada além disso. Porém, se nos entregarmos ao Senhor e obedecermos à sua vontade, então ele nos capacitará, a fim de nos tornarmos “mais que vencedores” (Rm 8:37) quando nos apropriarmos de nossa herança em Deus e servirmos ao Senhor.

DESFRUTANDO A BÊNÇÃO DE DEUS (W. 6-9). A “chave” que abria a porta da Terra Prometida era simples: obedecer aos mandamentos de Deus, andar nos seus caminhos e reverenciá-lo (v. 6). Sem dúvida, era uma terra de leite e mel, onde nada faltava. Tudo isso tipifica, para o cristão de hoje, a riqueza espiritual que temos em Cristo: as riquezas de sua graça (Ef 1:7; 2:7), as riquezas de sua glória (Ef 1:18; 3:16), as riquezas de sua misericórdia (Ef 2:4) e as “insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3:8). Somos completos em Cristo (Cl 2:10), no qual habita toda a plenitude (Cl 1:19) e, portanto, temos tudo de que precisamos e de que viremos a precisar para uma vida cristã plena para a glória de Deus.

ESQUECENDO-SE DA BONDADE DE DEUS (VV. 10-18). A prosperidade e o conforto trazem consigo o perigo de nos envolvermos tanto com as bênçãos a ponto de nos esquecermos daquele que nos abençoou. Por esse motivo, Moisés admoestou os israelitas a louvar a Deus depois de fazer suas refeições, para que não se esquecessem do Doador de tudo o que é bom e perfeito (v. 10; Tg 1:1 7). Moisés descreveu os perigos relacionados a se esquecer de que Deus é a fonte de todas as bênçãos que desfrutamos. “Antes, te lembrarás do S e n h o r, teu Deus, porque é ele o que te dá força para adquirires riquezas” (v. 18).

 REJEITANDO A AUTORIDADE DE DEUS (VV. 19, 20). No ponto mais crítico desse declínio espiritual, os “israelitas abastados” deixariam o Senhor, o verdadeiro Deus vivo, e passariam a adorar aos falsos deuses de seus vizinhos. A idolatria começa no coração quando a gratidão ao Doador é substituída pela cobiça pelas dádivas. “Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus” (Rm 1:21). Um coração ingrato pode tornar-se rapidamente um abrigo para todo tipo de atitude pecaminosa e de apetite carnal. O que o Senhor faria? Trataria a idolatria de seu próprio povo como havia tratado a idolatria das nações que expulsara da terra e destruiria Israel e seus falsos deuses. Prosperidade – ingratidão – idolatria: três passos para a destruição. No entanto, não se trata de pecados da antiguidade, pois estão presentes nos dias de hoje em corações, lares, negócios e igrejas.

3. SALVOS PELA GRAÇA DE DEUS (D t 9:1 – 10 :11 )-Israel era um povo rebelde contra o Senhor. Pela quinta vez em seu discurso, Moisés diz: “Ouve, ó Israel!” (ver Dt 4:1; 5:1; 6:3, 4). Ele estava lhes entregando a Palavra de Deus, e quando Deus fala, seu povo deve ouvir. A palavra “ouve” é usada com frequência em Deuteronômio, pois o povo de Deus vive pela fé, e “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10:17). Os israelitas não podiam ver seu Deus, mas podiam ouvi-lo, enquanto seus vizinhos pagãos podiam ver seus deuses, mas não podiam ouvi-los (Sl 115:5). Nessa parte do discurso, Moisés lembrou o povo de que sua conduta, desde que tinham deixado o Egito, havia sido qualquer coisa, menos exemplar, apesar da longanimidade e da graça de Deus.

A GRAÇA DE DEUS (W. 1-6). Deus lembrou Israel da incredulidade da geração anterior em Cades-Barnéia, quando viram os obstáculos de Canaã, mas se esqueceram do poder de seu Deus (Dt 9:1, 2; Nm 13 – 14). Deus garantiu a seu povo que não havia necessidade de temer o futuro, pois o Senhor iria adiante deles para ajudá-los a derrotar os inimigos. Mas Deus trabalharia neles e por intermédio deles, a fim de conquistar as nações da terra (Fp 2:12, 13; Pv 21:31). Mais uma vez, Moisés lembrou a nação de que a terra era uma dádiva do Senhor, não uma recompensa pela retidão deles. A ênfase é sobre a graça de Deus e não sobre a vontade do povo de Deus, e essa ênfase é necessária nos dias de hoje (Tt 2:11 – 3:7). Quando nos esquecemos da graça de Deus, tornamo-nos orgulhosos e começamos a pensar que merecemos tudo o que Deus fez por nós; assim, Deus precisa nos lembrar de sua bondade e de nossa pecaminosidade, e tal lembrete pode ser doloroso. Esse é o tema da parte seguinte da mensagem de Moisés.

 A DISCIPLINA DE DEUS (9:7 – 10:11). Moisés estava se dirigindo à nova geração, mas aquelas pessoas precisavam ouvir essa parte da mensagem e conscientizar-se de que eram pecadores assim como seus antepassados. O tema é expresso com severidade em Deuteronômio 9:24: “Rebeldes fostes contra o S e n h o r , desde o dia em que vos conheci”. Deus chamou Abraão e conduziu- o à Terra Prometida, mas o patriarca fugiu para o Egito, a fim de evitar uma fome que assolava a terra (Gn 12:1Oss). O cenário no drama da vida de fé pode mudar, mas os atores e os textos são basicamente os mesmos: Deus abençoa, desfrutamos as bênçãos e, em seguida, rebelamo-nos contra sua disciplina e perdemos as bênçãos que ele planejou para nós. Em sua recapitulação da história de rebeldia de Israel, Moisés começou com a adoração do bezerro de ouro no monte Sinai (Dt 9:7-21; 25:10, 11; Êx 32) e, depois, simplesmente mencionou os lugares onde se rebelaram na jornada do Sinai até Cades- Barnéia (Dt 9:22). Em seguida, anunciou a incredulidade e a rebelião do povo em Cades-Barnéia (vv. 23, 24), prosseguindo com outro lembrete a respeito do bezerro de ouro (9:25 – 10:11). Moisés não seguiu uma cronologia rígida em seu relato de todos os acontecimentos da história de Israel, mas enfatizou seus dois grandes pecados: a adoração ao bezerro de ouro, no Sinai, e a recusa em entrar na terra, em Cades-Barnéia. Israel cometeu um pecado gravíssimo quando adorou ao bezerro de ouro (Êx 32 – 34). Em sua história da libertação do Egito, encontrava-se uma demonstração da graça e do poder de Deus e, ainda assim, o povo rebelou-se contra seu Redentor! Israel era o povo de Deus, remido pela mão do Senhor, no entanto, fizeram um novo deus! A impaciência e a incredulidade impeliram Israel a pecar tão gravemente no monte Sinai, pois Moisés havia estado na montanha com o Senhor durante quarenta dias e quarenta noites (Êx 24:1-18).

Nunca subestime a importância da liderança espiritual que estimula a obediência à Palavra de Deus. Moisés enfrentou a mesma prova em Cades-Barnéia e, mais uma vez, colocou a glória de Deus e o bem do povo antes do benefício próprio (Nm 14:12). Moisés estava mais preocupado com a glória e a reputação do Senhor diante das nações pagãs, pois sabia que o temor de Deus deveria ir adiante de Israel, a fim de que pudessem conquistar a terra e apropriar-se de sua herança. Mas tanto os líderes quanto os seguidores são provados, e Moisés passou no teste. Demonstrou que sua grande preocupação não era com a própria fama ou posição, mas com a glória de Deus e o bem do povo. Na verdade, estava disposto a morrer pelos israelitas para que Deus não os destruísse (Êx 32:31-34). O verdadeiro pastor dá a vida por suas ovelhas (Jo 10:11). Depois de recapitular o grande pecado no Sinai, Moisés mencionou as repetidas rebeliões de Israel a caminho de Cades-Barnéia (Dt 9:22). Em Taberá, o povo reclamou de suas “dificuldades”, e Deus enviou fogo do céu para consumir algumas pessoas das cercanias do acampamento (Nm 11:1-3). As pessoas que murmuraram para Moisés imploraram que seu líder orasse por eles, e Deus ouviu Moisés e fez cessar o julgamento. “Taberá” significa “queimadura”, e o nome deve nos lembrar de que a murmuração é pecado (Fp 2:14, 15; 1 Co 10:10). Em Massá, os israelitas reclamaram, pois estavam sedentos, de modo que Moisés feriu a rocha, e Deus proveu água em abundância para o povo (Êx 1 7:1-7). O nome “Massá” significa “provando” e é colocado junto com o nome “Meribá”, que quer dizer “contendendo”. “Quibrote-Taavá” significa “túmulo de concupiscência” e refere-se à ocasião em que Israel cansou-se do maná e pediu carne para comer (Nm 11:4ss). Deus enviou bandos de codornizes sobre o acampamento de Israel, e tudo o que o povo tinha a fazer era apanhar os pássaros, limpá-los, cozinhá-los e comê-los. Era o velho “apetite egípcio” se manifestando novamente, a carne se rebelando contra o Espírito. Enquanto os israelitas estavam comendo a carne, o julgamento do Senhor veio sobre eles, e Deus enviou uma praga ao acampamento. “Concedeu-lhes o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma” (Sl 106:15). As vezes, o maior julgamento de Deus é permitir que nossos desejos sejam satisfeitos (Rm 1:22-28). Por fim, Moisés recapitulou o grande pecado de israel em Cades-Barnéia (Dt 9:23, 24; Nm 13-14). Durante a marcha do Egito para Cades, os israelitas haviam visto a mão de Deus operando cada dia, suprindo todas as suas necessidades, mas em Cades acharam que Deus não era grande o suficiente para lhes dar a vitória sobre as nações de Canaã. A incredulidade é um pecado deliberado; é tentar o Senhor e dizer: “Não vou confiar no Senhor nem obedecer a suas ordens!”.

Deus é sempre fiel em suas promessas, e mesmo quando não permitimos que ele governe nossa vida, ele prevalece e, ainda assim, cumpre seus propósitos. Todo cristão e todo ministério cristão, quer seja uma igreja local, quer seja um ministério paraeclesiástico, deve crer que Deus suprirá suas necessidades a cada dia. Se murmuramos ao longo do caminho, estaremos apenas dando provas de que não confiamos em Deus, mas achamos que sabemos melhor do que ele o que é o ideal para nós. Quando chegarmos a um lugar como Cades-Barnéia em nossa vida, onde devemos nos apropriar daquilo que Deus planejou para nós e avançar pela fé, não devemos nos rebelar contra Deus e nos recusar a confiar e a obedecer.

4. SERVOS DO SENHOR (Dt 10:12 – 11:32)-As palavras: “Agora, pois, ó Israel” (Dt 10:12) constituem a transição a que Moisés chega ao encerrar essa parte de seu discurso, uma seção em que ele lembra o povo dos motivos para obedecer ao Senhor seu Deus. Não se tratava de um assunto novo, porém, ainda assim, era uma questão importante, e Moisés queria que todos compreendessem a mensagem e que não a esquecessem: a obediência por amor ao Senhor é a chave de toda bênção. Os israelitas não carregavam Bíblias de bolso e tinham de depender de sua memória, de modo que a repetição era um recurso importante.

Obedeçam pelos mandamentos de Deus (w. 12, 13). A sequência destes cinco verbos é significativa: temer, andar, amar, servir e guardar.

 A obediência ao Senhor é “para o [nosso] bem” (Dt 10:13), pois quando lhe obedecemos temos comunhão com ele, desfrutamos suas bênçãos e evitamos as consequências trágicas da desobediência. O elemento central desse conjunto de cinco verbos é o amor, sendo que nessa parte de seu discurso Moisés emprega seis vezes termos relacionados a ele (Dt 10:12, 15, 19; 11:1, 13, 22). É possível temer e amar ao Senhor ao mesmo tempo? Sim, pois a reverência que demonstramos para com ele é uma forma amorosa de respeito que vem do coração. A palavra “coração” aparece cinco vezes nessa parte do discurso de Moisés (Dt 10:12, 16; 11:13, 16, 18), de modo que ele deixou claro que o Senhor quer mais do que obediência externa. Deseja que façamos a vontade dele de coração (Ef 6:6), uma obediência motivada pelo amor que alegra nosso Pai celestial. O amor é o cumprimento da lei (Rm 13:10); portanto, se amarmos a Deus, não será um fardo nem uma batalha lhe servir e guardar seus mandamentos. Esses cinco elementos são como partes de um motor, que devem ficar juntas e trabalhar em conjunto.

Obedeçam pelo caráter de Deus (vv. 14-22). O equilíbrio entre o temor do Senhor e o amor ao Senhor é resultado de uma compreensão cada vez maior dos atributos de Deus, sendo que esses atributos encontram-se descritos na Bíblia. Quando o Criador do Universo é seu Pai, por que se preocupar? Ao olhar para a criação, não ê difícil ver que existe um Deus poderoso e sábio, pois somente um Ser poderoso teria como criar algo do nada e somente um Ser sábio teria como fazê-lo de modo tão completo e maravilhoso e como mantê-lo funcionando em harmonia. Quer você olhe por um telescópio, quer por um microscópio, vai concordar com Isaac Watts:

Do chão que estou a pisar

As noites estreladas,

Para onde volto meu olhar.

 Senhor, como tuas maravilhas são demonstradas!

Deus escolheu Israel porque o amava, e, por causa desse amor, entrou em aliança com ele, a fim de ser seu Deus e de abençoá-lo. O selo dessa aliança era a circuncisão, dada primeiramente a Abraão (Gn 1 7:9-14) e que devia ser realizada em todos os seus descendentes do sexo masculino. A circuncisão não era uma garantia de que todo judeu iria para o céu (Mt 3:7-12). A menos que houvesse uma transformação interior, realizada por Deus em resposta a sua fé, a pessoa não pertenceria, necessariamente, ao Senhor (ver Dt 30:6), sendo que essa mensagem foi repetida pelos profetas (Jr 4:4; Ez 44:7, 9) e pelo apóstolo Paulo (Rm 4:9-12; ver At 7:51).

Infelizmente, a mesma cegueira espiritual ainda está presente em nosso meio hoje em dia, pois muitas pessoas crêem que o batismo, a profissão de fé, o fato de ser membro da igreja ou de participar da Ceia do Senhor garantem, automaticamente, sua salvação. Por mais importantes que sejam essas coisas, a certeza e o selo da salvação do cristão não estão em uma cerimônia física, mas sim na obra espiritual realizada pelo Espírito Santo no coração (Fp 3:1-10; Cl 2:9-12). A circuncisão dos judeus removia uma pequena parte da carne, mas o Espírito Santo despoja todo o “corpo da carne” e nos faz novas criaturas em Cristo (Cl 2:11).

Obedeçam pelo cuidado de Deus (10:21 – 11:7). As palavras “o que fez” ou semelhantes são usadas seis vezes nesse parágrafo, pois a ênfase é sobre os feitos poderosos de Deus em favor de seu povo, Israel, “a grandeza do S e n h o r , a sua poderosa mão e o seu braço estendido” (Dt 11:2). O que Deus fez por Israel? Em primeiro lugar, quando eram escravos no Egito, Deus cuidou deles e multiplicou-os grandemente. Quando os israelitas estavam no Egito, viram o grande poder de Deus em ação contra o Faraó e contra a nação, quando Deus enviou sucessivos juízos que finalmente levaram à libertação de Israel. O poder de Deus não apenas devastou a terra e destruiu o exército do Faraó, como também demonstrou que Jeová era o Deus verdadeiro e que todos os deuses e deusas do Egito não passavam de ídolos parvos e impotentes. Uma vez que Israel se assentasse na terra, comemoraria a Páscoa todos os anos e se recordaria do que o Senhor havia feito por eles. Moisés também lembrou a nova geração de que Deus havia cuidado deles durante o tempo em que vagaram pelo deserto, mas mencionou apenas um acontecimento específico: o julgamento de Deus sobre Datã e Abirão (Dt 11:5, 6; Nm 16; Jz 11). Era importante que essa nova geração aprendesse a respeitar os líderes de Deus e a obedecer aos mandamentos do Senhor com relação ao sacerdócio. Ainda hoje, indivíduos arrogantes que desejam promover-se e ser “importantes” na igreja devem ter cuidado com a disciplina e o juízo de Deus (At 5:1-11; 1 Co 3:9-23; Hb 13:17; 2 Jo 9-12).

Obedeçam pelas promessas da aliança de Deus (w. 8-25). A palavra-chave desta parte do discurso é “terra” e aparece pelo menos doze vezes, referindo-se à terra de Canaã que Deus havia prometido a Abraão e a seus descendentes quando entrou em aliança com ele (Gn 13:14-1 7; 15:7-21; 1 7:8; 28:13; 5:12; Êx 3:8). Canaã não era apenas a Terra Prometida pelo fato de Deus haver garantido a posse daquele território a Israel, mas era também a “terra das promessas”, pois naquele lugar Deus cumpriria muitas de suas promessas relacionadas a sua grande dádiva da salvação para o mundo todo.

O mesmo princípio aplica-se aos cristãos de hoje: em Cristo temos “toda sorte de bênção espiritual” (Ef 1:3), mas não podemos nos apropriar delas nem desfrutá-las a menos que creiamos nas promessas de Deus e que obedeçamos a seus mandamentos. Se a nação de Israel temesse a Deus, o amasse e lhe obedecesse, ele enviaria as colheitas de grãos em seu devido tempo e daria alimento ao povo e aos rebanhos. Deus não estava “comprando” a obediência deles, mas sim recompensando sua fé e ensinando-lhes sobre as alegrias de conhecer e de servir ao Senhor. O problema não era Deus nem a terra, mas sim o coração do povo. “Guardai-vos não suceda que o vosso coração se engane” (11:16). O instrumento mais eficaz para deter a idolatria era a Palavra de Deus (vv. 18-21; ver Dt 6:6-9), o tesouro que Deus deu a Israel e a nenhuma outra nação. Essa Palavra deveria governar a vida do povo e ser o assunto de suas conversas.

Os cristãos de hoje enfrentam o mesmo perigo. É muito mais fácil usar uma cruz de ouro no pescoço do que carregar a cruz de Cristo na vida diária, e pendurar um texto das Escrituras na parede de nossa casa é mais simples do que guardar a Palavra de Deus em nosso coração. Se amamos o Senhor e se nos apegamos a ele, vamos ansiar conhecer mais de sua Palavra e lhe obedecer em todas as áreas de nossa vida. De que maneira nos apropriamos das bênçãos de Deus? Ao dar um passo de fé (Dt 11:24, 25). Foi isso o que Deus ordenou a Abraão (Gn 13:17), bem como a Josué (Js 1:3). Essa foi a promessa da qual Calebe se apropriou quando pediu sua herança na terra prometida (Js 14:6-15) e essa é a promessa da qual todos os cristãos devem se apropriar se esperam desfrutar as bênçãos que Deus tem para eles.

Hudson Taylor, fundador da China Inland Mission [Missão para o Interior da China], hoje chamada Overseas Missionary Fellowship, disse: “Como fazer para que a fé se fortaleça? Não lutando por ela, mas, sim, descansando sobre aquele que é fiel”.

Obedeçam pela disciplina de Deus (w. 26-32). A conclusão era que o povo precisava escolher se iria obedecer a Deus e desfrutar suas bênçãos ou se iria desobedecer-lhe e sofrer sua disciplina. Tinham opção de desfrutar a terra, de suportar o castigo na terra (Livro de Juizes) ou de ser expulsos da terra (cativeiro na Babilônia). Seria de se esperar que a escolha fosse fácil, pois quem iria querer a disciplina do Senhor?

Suas vitórias no futuro dependiam de suas decisões no presente, da determinação em seu coração de amar ao Senhor e de obedecer à sua Palavra. A oferta era simples: se obedecessem ao Senhor, ele os abençoaria; se desobedecessem, ele os disciplinaria. Depois que os israelitas entrassem na terra e começassem a conquistá-la, deveriam realizar uma cerimônia especial em Siquém, localizada entre o monte Gerizim e o monte Ebal (os detalhes são apresentados em Dt 27 – 28 e a realização da cerimônia em Js 8:30-35).

Em termos espirituais, os cristãos de hoje se encontram entre dois montes: o Calvário, onde Jesus morreu por nós, e o monte das Oliveiras, para o qual um dia Jesus irá voltar (Zc 14:4; At 1:11, 12). Porém, Deus não escreveu a lei da antiga aliança em pedras nem nos advertiu sobre suas maldições. Antes, ele escreveu sua nova aliança em nosso coração e nos abençoou em Jesus Cristo (2 Co 3:1-3; Hb 8; Ef 1:3). “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1 (. As dispensações de Deus podem mudar, mas seus princípios são sempre os mesmos, e um desses princípios é que Deus nos abençoa quando obedecemos e nos disciplina quando desobedecemos. Ao caminhar no poder do Espírito, superamos os desejos da carne, a retidão de Deus se cumpre em nós (Rm 8:4) e nunca ouvimos as vozes do monte Ebal.

Adaptado e publicado por Pr. Eli Vieira

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Pastor Eli Vieira é casado com Maria Goretti e pai de Eli Neto. Responsável pelo site Agreste Presbiteriano, Bacharel em Teologia, Pós-Graduado em Missiologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, Recife-PE e cursando Psicologia na UNINASSAU. Exerce o seu ministério pastoral na Igreja Presbiteriana do Brasil desde o ano 1997 ajudando as pessoas a encontrarem esperança e salvação por meio de Jesus Cristo. Desde a sua infância serve ao Senhor, sendo educado por seus pais aos pés do Senhor Jesus que me libertou e salvou para sua honra e glória.

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