A JUSTIÇA RETRIBUTIVA DE DEUS

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A Retribuição Providencial de Deus

Gálatas 6.7

Este tema quase não é tratado em nossas igrejas na atualidade, mas é um dos assuntos bíblicos mais atual para o qual eu lhe convido a ler este texto de autoria do Dr. Heber Campos para que assim possamos entender a justiça retributiva de Deus.

Dr. Heber Carlos de Campos

Obviamente, este capítulo trata da justiça retributiva de Deus com respeito aos atos maus dos homens, sejam eles regenerados ou não. Os atos de retribuição estão diretamente relacionados com os atributos da santidade e da sua ira. Eles mostram que os seres racionais não podem ficar sem punição, nem escapar de suas conseqüências. Deus é um ser absolutamente justo e ele sempre dá a paga que os homens merecem. O princípio bíblico vale aqui com toda a força: “Aquilo que o homem semeia, isso também ele ceifará” (Gl 6.7).

Contudo, não podemos nos esquecer de que os atos retributivos de Deus são atos de sua providência, pois eles estabelecem a justiça no mundo, velam pela ordem no mundo e, em última instância, concorrem para o bem de todos os filhos de Deus.

Objetos da Retribuição Providencial

Assim como a graça comum atinge a todos os homens sem distinção, isto é, crentes e incrédulos, assim também eles todos são objetos da providência retributiva. A fim de demonstrar a sua santidade ele está debaixo da obrigação da sua própria natureza de intervir no mundo pecador para exercer a sua providência retributiva. Ninguém escapa dessas intervenções divinas. Uns a recebem mais fortemente, outros menos, mas Deus mostra o seu desagrado com todos os transgressores da sua lei.

As retribuições estudadas aqui não tratam dos castigos eternos, mas somente dos parciais, incluindo a morte física, tanto de ímpios como de crentes.

Retribuição Providencial aos Ímpios

Há muitos casos que evidenciam a retribuição providencial de Deus, mas daremos apenas alguns exemplos para ilustrar como Deus intervém na vida do mundo para punir os homens que transgridem as suas leis e afrontam a sua santidade.

Retribuição Providencial a Adoni-Bezeque

Adoni-Bezeque era um homem mau. Fez todas as maldades possíveis contra os seus adversários.

Acima, porém, dos homens maus, há um governador soberano no universo, que dá a paga aos homens dos seus atos maus. Não podemos nos esquecer de que Deus usa instrumentos humanos para que os seus propósitos retributivos sejam cumpridos (Jz 1.5-6).

Veja o que diz o texto sobre a providência retributiva de Deus:

Jz 1.7 – “Então disse Adoni-Bezeque: setenta reis, a quem haviam sido cortados os polegares das mãos e dos pés, apanhavam as migalhas debaixo da minha mesa: assim como eu fiz, assim Deus me pagou. E o levaram a Jerusalém, e morreu ali.”

E devemos entender essa atividade divina como obra de sua providência. Se os homens não são punidos exemplarmente, a proliferação da violência aumenta ainda mais neste mundo. O curioso, contudo, é que o povo hebreu que perseguiu Adoni-Bezeque não sabia da história passada dele, como um cortador de dedos dos reis a quem ele conquistava. Portanto, não pode ser dito que os hebreus estavam executando qualquer vingança pelos atos passados dele.

 Entretanto, o próprio Adoni-Bezeque admitiu que o que estava acontecendo ali com ele é a providência punitiva de Deus. Deus lhe estava devolvendo os atos que ele praticara com outras pessoas. Este é um testemunho de um rei pagão sobre a obra providencial de Deus em termos de retribuição.

O fato triste é que muitas pessoas, mesmo depois de milênios de história da revelação bíblica, ainda questionam que Deus possa agir como vingador dos pecados dos homens. Muitos cristãos ignoram que Deus tem o direito de vingança, de retribuição, coisa que ele proíbe aos homens (Rm 12.19). O que é proibido aos homens e permitido a Deus. Entretanto, muitos cristãos hoje têm a ignorância sobre Deus que pagãos em tempos tão antigos não tinham. Como a revelação bíblica tem sido desprezada pelos homens de nosso tempo que não reconhecem em Deus um direito que é dele somente.

Retribuição Providencial ao rei Agague

Agague era rei dos amalequitas. Havia feito muitos males contra Israel. Então Deus enviou Samuel para ungir Saul como rei de Israel e ordenou que Saul ferisse a Agague e destruísse totalmente tudo o que pertencia a ele. Veja a ordem dura do Senhor para Saul:

1 Sm 15.3 – “Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo o que ele tiver; nada lhe poupes, porém matarás homem e mulher, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos.”

Será possível que esse é o verdadeiro Deus que eu conheço?, alguns se perguntariam. Certamente, não é o Deus que muitos mestres, teólogos e pregadores apresentam. Este é o Deus das Santas Escrituras, o Deus das vinganças, o Deus das retribuições providenciais. Nós precisamos rever a nossa teologia, porque o Deus e Pai de Jesus Cristo, que é o mesmo Deus do Antigo Testamento, é apresentado como o Soberano Senhor, mesmo no Novo Testamento. É-nos dito no Novo Testamento que ele é o Deus das vinganças, como já afirmamos logo acima.

Ele tem o direito de ordenar o que foi ordenado acima ao rei Saul, porque ele é soberano sobre Saul, a quem ele próprio havia constituído rei (1 Sm 15.1-2).

Todavia, Saul não obedece as ordens de Deus exatamente da forma como Deus havia ordenado. Ele destruiu o povo, mas não o rei Agague e também tomou algumas coisas boas para si (v. 8-9). Além disso, ele mentiu a Samuel dizendo que havia cumprido todas as palavras do Senhor (v.13). Samuel percebe as ovelhas que haviam sido tomadas dos amalequitas e justifica que era para o sacrifício ao Senhor (v.15, 20-21), o que Samuel contesta (v.22). Samuel, então, pronuncia a setença de Deus contra Saul (v.23). Saul, por sua vez, reconhece o seu pecado (v.24) e pede perdão (v.25), mas não houve retorno.

Samuel, então, mandou buscar o rei Agague e lhe disse:

1 Sm 15.33 – “Assim como a tua espada desfilhou mulheres, assim desfilhada ficará tua mãe entre as mulheres. E Samuel despedaçou a Agague perante o Senhor em Gilgal.”

Assim como Agague havia deixado muitas mães sem filhos, assim sua mãe também ficaria sem o seu filho. Agague foi morto violentamente, assim como violentamente ele havia matado tantos! A retribuição providencial de Deus que deveria ter sido executada por Saul foi executada por Samuel. A palavra de Deus tinha que ser cumprida. Porque não a cumpriu, Saul perdeu o trono e o favor do Senhor (v.23). Samuel toma a iniciativa de retribuir a Agague as suas más obras.

Deus é providente em todas as coisas que faz, porque as faz para que o seu governo seja reconhecido na terra e todas as pessoas saibam que ele é o rei verdadeiro e soberano deste universo.

Retribuição Providencial aos seus Santos

Retribuição Providencial a Davi

Davi cometeu um dos crimes mais hediondos que já foram registrados nos anais da história. A hediondez é medida não simplesmente pelos estragos causados na vida de uma família, mas especialmente pelo grau de conhecimento que Davi possuía de Deus.

Davi usou o seu poder para cometer os seus pecados. Ele combinou uma série de fatores para levar avante o seu projeto maligno depois de cobiçar e possuir Bate-Seba. Davi pode ser considerado culpado de perfídia, crueldade e ingratidão para com um soldado leal ao seu exército. Ele chamou a Urias para conversar amistosamente sobre o seu exército (2 Sm 11.7). quando Urias deixou sua casa, Davi enviou-lhe presente (2 Sm 11.8), mas como soldado leal Urias não foi ter com sua mulher, mas permaneceu guardando o palácio real (v.9). Na verdade, Davi queria que ele fosse procurar a sua esposa, que tivesse relação com ele, a fim de que a gravidez dela fosse justificada, pois o verso 27 mostra que Bate-Seba ficou grávida de Davi. A lealdade dele fica mais evidente quando ele diz o motivo dele não ter ido à sua casa após a batalha (v.10). Então, Davi não encontra outra solução senão armar o crime contra o seu servo Urias, um homem leal, mas fez tudo para parecer casualidade, acidente de uma guerra. Somente o seu general Joabe sabia de seu motivos sujos (v.14-15). A trama urdida por Davi não conseguiu esconder a vergonha de seu pecado. Urias foi morto e Davi recebeu a notícia de sua morte. No entanto, a Escritura registra que “isto que Davi fizera foi mal aos olhos do Senhor” (v.27).

Mesmos os melhores homens são capazes dos crimes mais repugnantes, embora eles sejam preservados pela providência divina, mas não sem a manifestação do seu desagrado com os pecados deles.

Davi casa-se com Bate-Seba depois da morte de Urias e começam a viver juntos. Então, o Senhor envia um profeta a Davi. Era Natã. Ele se chega e conta uma triste estória de dois homens, um rico e outro pobre (2 Sm 12.2-4). É a história que narra as injustiças feitas pelo rico contra o pobre. Davi se ira contra a injustiça e ordena que tal homem injusto seja morto! Nata mete o dedo na face de Davi: “Esse homem que deve ser morto é você!” – e dá as razões de sua afirmação (12.8-9).

A seguir, vem a maldição divina sobre Davi e sua descendência por causa daqueles pecados. Deus não pode deixar mesmo os seus filhos sem a retribuição. Ele é um Deus zeloso das suas leis quebradas. Isso ninguém pode negar. Veja o que o profeta diz a Davi, da parte de Deus:

Análise de Texto

2 Sm 12.10-11 – “Agora, pois, não se apartará jamais a espada de tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol.”

Há algumas coisas muito importantes que não podem ser esquecidas neste texto:

A retribuição de Deus está vinculada ao desprezo que o homem tem por sua palavra.

Davi quebrou o mandamento divino de não adulterar. Às vezes não podemos fazer separação entre o Senhor e a sua Palavra. Desprezar a Palavra de Deus era equivalente a desprezar ao próprio Deus, da mesma forma que rejeitar a sua palavra é rejeitar ao próprio Deus.

Veja o exemplo que Paulo deu desse uso. Ele instou aos tessalonicenses a viverem de modo reto, seguindo o caminho da santificação (1 Ts 4.3). Quando aqueles que estão querendo constituir família pecam sexualmente, isso é impureza e Deus a condena, “porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e, sim, em santificação.” Então Paulo conclui: “Destarte, quem rejeita estas cousas não rejeita ao homem, e, si, a Deus” (1 Ts 4.7-8). Rejeitar a Palavra é rejeitar a Deus.

Foi exatamente essa Palavra do Senhor que Davi desprezou, pois ele a conhecia. Mesmo a sua prerrogativa real não lhe dava o direito de desprezar a verdade de Deus. Por essa razão, a retribuição providencial veio sobre ele e sobre a sua descendência de maneira muito dura.

A retribuição da providência divina é ordenada e levada a efeito por Deus através de seus agentes secundários.

Ele disse: “Eu suscitarei o mal sobre ti”. Os males de juízo sobre nós são ordenados por Deus, mesmo que esses males de juízo envolvam a quebra de princípios morais. O castigo que Deus suscitou foi uma punição que envolvia atos morais que os seus agentes praticaram. Aitofel, o conselheiro e Absalão, o praticante do atos punitivos de Deus, são agentes que Deus usa para a execução dos seus propósitos.

Aquilo que Deus determinou que acontecesse através de alguém da própria casa de Davi foi um mal moral, mesmo embora tenha sido considerado um julgamento de Deus sobre Davi. Deus suscitou o mal, mas o mal foi praticado por agentes secundários. É difícil entender como isso se processa, mas a Escritura diz que é assim e temos que crer como a Escritura afirma.

A retribuição providencial de Deus é feita através de pessoas que o próprio Deus determina.

Deus poderia ter escolhido um homem ímpio para cometer um pecado mais hediondo ainda. Todavia, Deus escolheu o próprio filho amado de Davi, Absalão, que queria ser o herdeiro do trono, para ser o executor do seu terrível decreto. Os caminhos da providência retributiva de Deus são mais altos do que os nossos caminhos e os seus pensamentos mais altos do que os nossos pensamentos. Eu não posso entender a razão última pela qual Deus faz uma coisa dessas, mas ele faz porque ele é soberano, e essa sua ação não traz nenhuma mancha sobre a sua santa natureza.

Ele levantou o filho de Davi para pecar contra o seu pai, mas foi um ato que evidenciou o modus operandi de Deus na sua justiça providencial que está além de nossa compreensão, mas que precisa ser aceito humildemente. Deus puniu um filho seu através de alguém do próprio sangue a quem ele próprio suscitou.

A retribuição providencial tem, em si mesmo dois aspectos:

1) O primeiro diz respeito ao sangue que seria derramado na sua descendência. A “espada jamais seria apartada da tua casa”. Toda sua descendência haveria de sofrer os pecados do famoso ascendente; 2) O segundo, por causa do seu pecado, Deus resolve expô-lo à vergonha. Este aspecto tem um caráter pessoal para Davi. Aquilo que ele havia feito com Batseba o seu descendente, Absalão, haveria de fazer com as suas mulheres, mas de uma maneira pior. A retribuição seria a tal grau que Davi iria ser envergonhado publicamente, quando suas mulheres seriam possuídas à plena luz do dia. O texto da profecia diz que Davi haveria de ver com os próprios olhos um seu descendente possuindo as suas mulheres.

No final das contas, todos os expedientes que Davi usou para a execução de seus pecados não puderam evitar a retribuição providencial de Deus. Ninguém pode fugir dos decretos divinos. Eles foram cumpridos literalmente algum tempo depois (ver 2 Sm 1.21-23). Quão poderoso, sábio e soberano é o Deus da providência. Quão profunda é a sua sabedoria! Quão insondável o seu poder e quão terrível a sua soberania!

Deus poderia ter feito a retribuição de um modo muito diferente, mas quem somos nós para julgar os atos retributivos providenciais de Deus? A sabedoria humana não pode compreender as profundezas do conselho divino! Ela não pode entender os caminho de Deus! A única saída nossa é nos submetermos aos juízos sábios e santos de Deus e ficarmos calados diante de suas ações, dando ouvidos e crendo naquilo que a sua Palavra afirma, mesmo que sejam suas afirmações além de nossa compreensão!

Instrumentos de Retribuição providencial

Retribuição através de homens maus

Não é raro observar que alguns agentes da retribuição divina são até piores do que aqueles que são os objetos dessa retribuição.

1) A fim de punir a pérfida Israel e a ingrata Judá, Deus usou gente ainda mais pérfida, como os reis da Assíria e Babilônia.

Israel e Judá procederam de maneira ímpia contra o Senhor. Tanto o reino do norte como o do sul andaram contrariamente à vontade preceptiva de Deus. Quebraram os preceitos de Deus através dos seus ímpios reis. Então, provavelmente para humilhá-las, Deus levantou homens absolutamente incrédulos, ímpios com grande manifestação de soberba para punir os dois reinos por causa de seus pecados. Para punir o reino do norte, Deus levantou a Assíria e seu rei ímpio que acabou com Samaria e se portou de maneira soberba contra Israel e contra o Senhor. Para punir o reino do sul, quase dois séculos mais tarde, Deus levantou a soberba e orgulhosa Babilônia, com o seu rei Nabucodonozor.

Não sabemos as razões últimas da providência retributiva de Deus, mas Deus fez assim várias vezes para mostrar que é ele quem manda neste mundo, põe reis e dispõe deles para o exercício de sua providência.

2) A fim de punir a descendência de Jeroboão, Deus usou um homem ainda mais mau, Baasa.

Neste caso específico Deus haveria de punir um homem muito ímpio: Jeroboão. O profeta Aías deu um recado à mulher de Jeroboão, mandando que ela lho transmitisse: “Porquanto te levantei no meio do povo, e te fiz príncipe sobre o meu povo Israel, e tirei o reino da casa de Davi, e to entreguei, e tu não foste como Davi, meu servo, que guardou os meus mandamentos e andou após mim de todo o seu coração para fazer somente o que parecia reto aos meus olhos; antes fizeste o mal, pior do que todos os que foram antes de ti, e fizeste outros deuses e imagens de fundição, para provocar-me à ira, e me viraste as costas” (1 Rs 14.7-9). Então, Deus promete “trazer o mal” sobre a casa de Jeroboão de uma maneira violenta, matando todos os seus descendentes (v.10).

Acontece que Deus levanta um plebeu, Baasa, pior do que Jeroboão para executar a sua providência retributiva. Baasa fez o que era mau perante o Senhor (1 Rs 17.25-29), matando a descendência de Jeroboão, conforme o decreto divino e recebe também a justa punição por causa de seus pecados (1 Rs 16.1-7).

Retribuição através de pessoas da família

Deus tem caminhos estranhos ao executar a sua providência retributiva. Ele usa gente do próprio sangue dos transgressores, gente insuspeita para serem instrumentos de sua retribuição providencial.

A fim de punir Davi por causa dos seus hediondos pecados, ele usou o seu filho Absalão, uma pessoa que poderia e deveria ser insuspeita. Davi havia adulterado com Batseba e mandado matar o marido dela a fim de que pudesse ficar com ela de vez. Deus desgostou-se fortemente contra o pecado de Davi.

O que fez ele então? Anunciou através do profeta Natã um plano terrível, que choca a mente daquele que não conhece a soberania administrativa de Deus. Ele disse a Davi, pelo profeta:

2 Sm 12.11 – “Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti.”

Absalão era um filho muito amado por Davi. Seu amor pode ser visto no modo em que Davi se portou quando da morte desse filho. Todavia, Deus levantou alguém do próprio sangue para enfiar em Davi a seta do seu desgosto, uma seta que veio lhe trazer muita amargura ao coração. Quanto mais perto uma pessoa é de nós, mais dói o que ela faz contra nós. Essa experiência pode ser comprovada em qualquer situação onde uma pessoa querida impinge desgraça sobre a pessoa que ama. Deus feriu o coração de Davi quando fez com que Absalão se deitasse com as suas próprias mulheres (ver 2 Sm 16.22).

Retribuição através dos fenômenos naturais

Via de regra as punições parciais de Deus sobre cidades ímpias ou povos ímpios vem através da manifestação arrasadora dos fenômenos da natureza.

O princípio geral da retribuição divina através dos fenômenos da natureza tem sua base numa verdade bíblica do Antigo Testamento que está repetida com todas as letras em Gálatas 6.7 – “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará”. Esse é o princípio geral que é ilustrado de muitas maneiras na Escritura. Os desobedientes sempre haverão de colher a ira divina através de privações decorrentes da semeadura do mal.

O profeta Oséias trabalha com o mesmo princípio na sua profecia. Afinal de contas, ele entendia da matéria, porque era um lavrador. Veja o seu ensino:

Os 8.7 – “Porque semeiam ventos, e segarão tormentas: não haverá seara; a erva não dará farinha; e se a der, comê-la-ão os estrangeiros.”

O povo de Israel havia transgredido o pacto de Deus (v.1). No entanto, o povo alegava ter conhecimento de Deus (v.2), o que tornava a situação deles ainda mais culposa. Eles procederam como se não houvesse Deus. Eles fizeram as suas próprias leis, estabeleceram reis e príncipes, cometeram o pecado da idolatria (v.4-6). Estavam semeando ventos e haveriam de colher tempestades (v.7). O que aconteceria com eles? Deus iria usar a natureza para puni-los severamente. Eles haveriam de passar fome: não mais colheita. Se alguma coisa a terra produzisse, eles mesmos não haveriam de provar, mas os estrangeiros, os inimigos (v.7). A conseqüência da privação foi que Israel foi devorada (v.8). Em outras palavras, a economia de Israel foi à bancarrota. Israel ficou falida e tornou-se presa para os inimigos.

Além desse exemplo textual, há muitos outros onde Deus traz males físicos sobre o povo através de terremotos, enchentes, secas, pestes nas plantas, pragas de animais, etc. A natureza é um instrumento divino para a execução da sua providência retributiva.

Retribuição através de animais

Deus usou de modo específico alguns animais para serem os instrumentos da sua providência retributiva. Eis alguns exemplos:

Deus usou cães e aves

Assim como Deus usou animais para suprir providencialmente a alguns de seus servos, como Elias por exemplo, ele também usa os animais para o cumprimento de sua providência retributiva, trazendo penalidade sobre os infratores da sua lei.

Exemplo de Jezabel

Deus preanunciou através do profeta Eliseu que Jezabel seria comida por cães (2 Rs 9.10) por causa de suas prostituições e de suas feitiçarias (v.22). Jeú ordenou que Jezabel fosse jogada da sacada do palácio para o chão, seu corpo partiu-se e sangue espalhou-se por toda parte, ele pensou em enterrá-la como filha de rei que era (v.33), mas só restavam fragmentos do seu corpo, porque toda a sua carne havia sido comida pelos cães (v. 35). Então, no verso 36 ele reconhece a providência divina cumprindo os seus decretos que anteriormente já haviam sido vaticinados pelo profeta Elias (1 Rs 21.24).

As mãos da providência haviam se antecipado à ordem de Jeú para que fosse sepultada. Quando ele resolveu dar a ordem para sepultá-la, as mãos divinas, através dos cães, haviam feito a sua obra, para cumprir a sua infalível palavra. Os cães, sem possuir qualquer noção inteligente do que estavam fazendo. Apenas eles estavam seguindo os seus instintos caninos, saciando a sua fome. Há uma outra coisa ainda que mostra a obra providencial de Deus: Por que havia no meio das ruas de Jezreel cães tão vorazes? O que eles faziam àquela hora ali? Certamente isso não é comum. Além disso, por que razão, Jeú conhecendo a profecia de Elias, havia mandado sepultá-la só algum tempo depois dela ter morrido espatifada? São as ações da providência, para que os cães pudessem chegar e fazer o seu trabalho que havia sido de antemão ordenado por Deus. Somente quando Jeú soube do que havia acontecido ao corpo de Jezabel é que se lembrou da profecia de Elias. Eis as palavras de Jeú: “Esta é a palavra do Senhor, que falou por intermédio de Elias, o tesbita, seu servo, dizendo: No campo de Jezreel os cães comerão a carne de Jezabel. O cadáver de Jezabel será como esterco sobre o campo da herdade de Jezreel, de maneira que já não dirão: Esta é Jezabel” (2 Rs 9.36-37).

Exemplo de Jeroboão e Baasa

Nos versos abaixo podemos ver a seriedade da justiça retributiva de Deus sobre a descendência de dois homens que ocuparam a função da realeza. Deus decretou que toda a descendência de Jeroboão, por causa de seus pecados (1 Rs 14.7-9), seria exterminada da terra (v.10). A providência retributiva de Deus haveria de cumprir de maneira violenta a sua palavra sobre a casa de Jeroboão. Então, o texto diz que os instrumentos da providência retributiva seriam os cães e as aves:

1 Sm 14.11 – “Quem morrer a Jeroboão na cidade os cães o comerão, e o que morrer no campo aberto as aves do céu o comerão, porque o Senhor o disse.”

Esse era um decreto que infalivelmente se cumpriria, por que o Senhor havia dito. Os cães e as aves haveriam de exterminar toda a carne da família de Jeroboão. Não há o registro direto de como isso aconteceu, mas há uma outra profecia que mostra exatamente que a única pessoa que seria sepultada da descendência de Jeroboão seria um filho doente, que morreria no mesmo dia em que a profecia foi dada à esposa de Jeroboão (1 Sm 14.12-13). Os demais descendentes seriam mortos por Baasa, até que toda descendência fosse realmente exterminada, comida pelos cães e aves, os instrumentos da retribuição providencial de Deus.

O outro exemplo é o de Baasa. Assim como Deus havia ordenado que Baasa destruísse a casa de Jeroboão, Deus também puniu a casa de Baasa pelas suas más obras irritando ao Senhor, e pelo mal que ele havia feito a Jeroboão (1 Rs 16.7). A mesma justiça retributiva de Deus caiu sobre o ímpio Baasa. Veja o que diz o texto:

1 Rs 16.4 – “Quem morrer a Baasa na cidade os cães o comerão, e o que dele morrer no campo aberto as aves do céu o comerão.”

Novamente os animais são os instrumentos da retribuição providencial de Deus a fim de que os seus decretos sejam cumpridos. Deus usa seres irracionais de forma que eles fazem o que lhes é natural e, fazendo isso, no tempo certo, do morto decretado, os planos de Deus são realizados na vida do mundo.

Exemplo no tempo do fim

Quando chegar a vinda do Senhor, Deus estabelecerá julgamento parcial sobre todos os homens que estiverem vivos naquela época, matando-os porque a morte é parte do castigo de Deus sobre ímpios. Está “ordenado aos homens morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo” (Hb 9.27).

Depois de matar os principais líderes do mundo ímpio, a Besta do Mar e o seu auxiliar, o falso profeta, Jesus Cristo mata os outros para cumprir o decreto divino da necessidade da morte de todos os transgressores de suas leis.

Ap 19.21 – “Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes.”

Com a espada que sai da boca de Jesus Cristo (que é uma linguagem figurada do seu poder de ira) todos os homens serão mortos naquele dia. E, então, as aves do céu haverão de fazer o que elas já haviam feito em tempos passados, quando Deus exerceu a sua providência retributiva com indivíduos, pondo um fim nas maldades dos homens. Agora, a tarefa delas seria de caráter universal, não particular. É curioso que, como parte de suas providências, naquele dia Deus, através de um seu anjo, clamou em grande voz

Ap 19.17-18 – “falando a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a grande ceia de Deus, para que comais carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e seus cavaleiros, carnes de todos, quer livres, quer escravos, assim pequenos como grandes”.

Esse é o banquete do juízo de Deus no qual todas as aves do céu haverão de tomar parte. Elas são instrumentos da retribuição providencial de Deus de uma maneira espetacular. Será um imenso e horrível espetáculo, mas que mostrará quão justo e providente é esse Deus que elimina do seu mundo todos os ímpios.

Deus usou as feras do campo

A justiça retributiva de Deus, que é parte da sua essência santa, tem de ser mostra neste mundo pecaminoso. Além de realmente usar animais ferozes para a execução da sua justiça retributiva (que veremos abaixo), o próprio Deus usa para si a figura de animal raivoso que está a ponto de matar a sua presa. Deus tem usado animais como simbólicos do seu desgosto com o pecado, ao ponto do próprio Deus comparar-se aos animais violentos que espreitam os homens para devorá-los. Veja como Deus pinta a si próprio, por causa do pecado do povo:

Os 13.6-8 – “Quando tinham pasto eles se fartaram, e uma vez fartos ensoberbeceu-se-lhes o coração; por isso se esqueceram de mim. Sou, pois, para eles como leão; como leopardo espreito no caminho. Como ursa, roubada de seus filhos, eu os atacarei, e lhes romperei a envoltura do coração; e como leão ali os devorarei, as feras do campo os despedaçarão.”

Esses animais mencionados, com os quais Deus se identifica no seu desgosto com o pecado, são muito mencionados na Escritura como agentes irracionais da providência retributiva de Deus.

O profeta Jeremias está vivendo num período de grande crise para Judá. Jerusalém está sob a pesada mão de Deus. Ali não á água pela falta de chuva sobre a terra (Jr 14.3-4) e todas as criaturas sofrem pela grande seca (v.5-6). Então Jeremias começa a fazer intercessão em favor do povo, mas Deus se recusa a ouvir a oração do seu profeta, e isso por três vezes (cap. 14 e 15). Deus dá a triste nova a Jeremias que alguns haveriam de morrer ali em Jerusalém pela espada, pela fome e muitos iriam para o cativeiro (15.2).

Deus estava absolutamente desgostoso com o povo de Jerusalém por causa dos pecados dos reis (Jr 15.4), dos seus príncipes e de todo o povo. Então, vem o anúncio de como Deus haveria de fazer com que suas providência retributiva fosse efetivada:

Jr 15.3 – “Porque os punirei com quatro sortes de castigos, diz o Senhor: com espada para matar, com cães para os arrastarem, e com as aves do céu e as feras do campo para os devorarem e destruírem.” (cf. Ez 33.27)

Já vimos exemplos onde cães e aves do céu foram usados como instrumentos da providência retributiva de Deus. Agora há mais animais acrescentados. Aqui Deus se refere às feras do campo, animais violentos que devoram os homens.

Apenas dois exemplos clássicos do uso das feras, dos muitos que há na Escritura.

Exemplo dos filisteus

Este é um exemplo individual de como Deus usa as feras do campo para executar o seu juízo sobre os homens. Neste caso, o feitiço virou contra o feiticeiro. Golias havia zombado do pequeno Davi e, desprezando-o disse: “darei a tua carne às aves do céu e às bestas-feras do campo” (1 Sm 17.44).

Davi, por sua vez, tinha certeza do que estava para fazer com Golias, porque ele estava agindo em nome do Senhor dos Exércitos a quem Golias havia afrontado (v.45). Então, com a convicção que vinha da parte do Senhor disse ao gigante:

1 Sm 17.46 – “Hoje mesmo o Senhor te entregará na minha mãos; ferir-te-ei a cabeça, e os cadáveres do arraial dos filisteus darei hoje mesmo às aves dos céus e às bestas-feras da terra; e toda a terra saberá que há Deus em Israel.”

Todos os cadáveres dos filisteus haveriam de ser comido pelas feras porque eles, com Golias, haviam afrontado o Deus verdadeiro. Deus é justo e, por causa do seu santo Nome, ele vinga os altivos e os entrega à morte. Neste caso, os animais foram instrumentos para consumir toda a carne deles, como expressão de desprezo pelos adversários ímpios.

Exemplo no tempo do fim

Ap 6.8 – “E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras da terra.

Assim como aconteceu através de toda a história da revelação divina, com indivíduos e povos ímpios, as feras do campo também serão instrumentos de Deus na matança dos homens nos dias que precedem a vinda do Senhor, como demonstração da ira divina contra os homens maus.

Este é um juízo parcial de Deus, que acontece um pouco antes da vinda de Cristo, onde cerca de 25% dos habitantes da terra serão mortos na abertura do quarto selo. Um desses instrumentos de mortandade tem a ver com as “feras da terra”. Até no final elas serão úteis para os propósitos providenciais retributivos de Deus.

Deus usou vermes

Os vermes são pequenos animais ativos especialmente nas coisas que estão em decomposição. Todos os seres vivos que morrem são comidos por vermes que fazem parte da própria natureza cheia de bactérias que, inclusive, infectam o nosso organismo, mesmo enquanto vivos. Mas no caso abaixo, parece-nos que a morte de Herodes foi causada parcialmente por vermes, com mostra o texto, logo a seguir.

Herodes era um homem extremamente altivo. Cheio de pompa, apresentou-se perante os representantes dos habitantes de Tiro e de Sidom para resolver questões entre eles, dirigiu-lhes a palavra, e o povo clamava: É a voz de um deus, e não de homem! (At 12.20-22).

At 12.23 – “No mesmo instante um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou.”

Certamente, ao ouvir a aclamação da sua divindade, ele congratulou-se consigo mesmo, e aceitou a louvação do seu nome, mostrando a sua altivez e recebeu a justa retribuição divina.

Este caso não é muito comum na história da revelação bíblica. Este é um exemplo isolado, mas mostra como Deus manifesta a sua providência retributiva através de pequenos animais, como os vermes.

Deus usou Serpentes

Desde há muito os hebreus estavam murmurando no deserto, descontentes com Moisés e com Deus. Eles estavam com saudades das coisas que eles tinham no Egito em comparação com as que recebiam providencialmente de Deus durante a longa peregrinação. “Queixou-se o povo da sua sorte aos ouvidos do Senhor… E o populacho, que estava no meio deles, veio a Ter grande desejo das comidas dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar, e também disseram: Quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que no Egito comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos. Agora, porém, seca-se a nossa alma, e nenhuma cousa vemos senão este maná” (Nm 11.1, 4-6).

A murmuração foi constante, por muito tempo. O texto a seguir mostra novamente o povo insatisfeito: “Porém o povo se tornou impaciente no caminho. E falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizeste subir do Egito, para que morramos neste deserto, onde não há pão nem água? E a nossa alma tem fastio deste pão vil” (Nm 21.4-5).

O povo pecava claramente contra o Senhor. Então, Deus enviou a sua providência retributiva mostrando o seu desagrado com o pecado do povo. Novamente ele usou um animal incomum, mas que tem uma significação muito grande na historia da revelação da salvação. Deus mandou serpentes. Eis o texto:

Nm 21.6 – “Então o Senhor mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel.”

Esse animal que esteve presente e participou do episódio da queda do homem agora é usado por Deus para ferir e matar muitos do povo hebreu. Como Satanás foi usado para ser o seu capataz em várias circunstâncias de sua justiça retributiva, agora Deus usa a serpente que foi anteriormente o instrumento que Satanás usou no Éden.

Não é regra divina fazer isso, mas não podemos negar as providências divinas ali no deserto. Assim como ele bondosamente fez com que as sandálias e as vestes deles durassem quarenta anos sem se gastarem, também a sua providência possuiu no deserto uma tonalidade de desagrado e desgosto pelos pecados dos homens.

Entretanto, a mesma simbólica serpente foi levantada no deserto e os que olhavam para ela eram curados das mordidas das outras serpentes (21.8). É extremamente significativo que a serpente de bronze levantada no deserto é típica de Jesus Cristo quando foi levantado da terra e curou a muitos dos seus pecados e da morte (Jo 3.14).

Propósitos da Retribuição Providencial

Reivindicar a santidade e a Justiça Divinas

Deus é absolutamente santo. Ele não pode, por causa desse aspecto de sua natureza, receber provocação e manter-se calado. A santidade divina obriga-o a manifestar a sua justiça. O ímpio não pode ficar impune.

No que respeita à administração do mundo, como governante santo que é, Deus está preocupado com a justiça dos homens que é lenta e falha. Vivemos num mundo onde todos têm culpa e, em muitos casos, não existe punição porque ninguém quer ser punido. Ninguém denuncia pecados porque todos estão comprometidos de alguma maneira com a maldade. A justiça não se manifesta, a impureza e a violência campeiam na sociedade. Essa era a constante reclamação dos profetas do Antigo Testamento.

Porque Deus é santo, ele tem de manifestar justiça. Sabedor disso, o profeta Habacuque se inquieta por Deus demorar-se na sua intervenção providencial retributiva, dizendo: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar: por que, pois, toleras os que procedem perfidamente, e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele? Por que fazes os homens como os peixes do mar, como os répteis que não têm que os governe?” (Hc 1.13-14).

Certamente Deus nem sempre manifesta a sua justiça da maneira e no tempo que queremos, mas ele é justiça e, no tempo dele, a sua justiça será manifestada porque ele não pode negar-se a si mesmo.

Todavia, quando Deus manifesta a sua justiça punindo os homens pelos seus pecados, ele está honrando a sua santidade que torna necessária a aplicação da providência retributiva.

Frear a Manifestação do Pecado

A retribuição providencial de Deus tem uma outra finalidade salutar na vida da sociedade: é refrear a manifestação da maldade humana. Se Deus não fizesse isso, seria intolerável a vida na sociedade. Se, com a sua graça comum ( que é a obra de Deus entre santos e ímpios), Deus não botasse um freio na maldade dos homens, esse mundo viraria um caos.

Os filhos de Eli andavam impiamente. Então, para por um freio nos seus pecados, Deus trabalhou com sua providência retributiva de um modo muito duro, mas ele foi absolutamente justo. Ele mandou um recado a Eli, através do jovem profeta Samuel:

1 Sm 3.11-13 – “Eis que eu vou fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que a ouvir lhe tinirão ambos os ouvidos. Naquele dia suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado com respeito à sua casa: começarei, e o cumprirei. Porque já lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniqüidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele os não repreendeu.”

Deus é nosso Pai celestial, mas ele não age como alguns pais terrenos. Eli fez vista grossa aos pecados de seus filhos, mas Deus não esconde os pecados dos seus filhos, porque ele não protege ninguém. Ele zela para que haja justiça na terra. Aliás, ele sempre mostrou as impurezas dos seus filhos. A Escritura é recheada das denúncias que o próprio Deus faz dos seus amados. Deus torna públicas as faltas dos seus filhos porque ele quer frear o senso de impiedade que ainda existe, mesmo nos de sua família. É porque ele os ama que quer extirpar a injustiça da vida deles.

Deus não quer que o pecado se espalhe e tome conta da sua comunidade. O propósito divino em suas providências retributivas é frear a manifestação de pecado no meio do povo.

Procurar a reforma dos homens

O propósito divino da providência retributiva não se limita a honrar a santidade divina nem simplesmente reivindicar a sua justiça ou o refreamento dos pecados, mas ela visa também a correção do erro objetivando a reforma dos pecadores. Mesmo nos estados onde não há uma base religiosa sólida dos seus cidadãos, existe uma atividade corretiva para com os criminosos no sentido de reabilitá-los, de torná-los úteis novamente para a sociedade.

— Quando Deus pune mesmo o ímpio, o seu desejo é ver o ímpio recuperado para o exercício de suas funções.

O texto abaixo tem uma conotação soteriológica, mas reflete o objetivo da punição e, ao mesmo tempo, a preocupação divina em vê-lo andando de maneira correta, segundo os preceitos divinos.

Ez 18.23 – “Acaso tenho eu prazer na morte do perverso? Diz o Senhor Deus; não desejo eu antes que ele se converta do seus caminhos e viva?” (cf. 33.11)

— Quando Deus castiga os seus filhos, o seu objetivo principal é torná-lo obedientes, ainda mais úteis do que são no seu reino. A retribuição providencial divina atinge também seus filhos, pois eles ainda são pecados. Não são punições judiciais, como é o caso com os ímpios, mas são retribuições paternais que mostram o desejo do Pai celestial em lhes ensinar o que caminho próprio em que devem andar.

Quando o filho pródigo chegou ao fundo do poço, isto é, quando ele chegou à miséria, então ele “caiu em si” e percebeu quão errado estava em ter saído da companhia do seu pai, desperdiçando tudo aquilo que lhe pertencia. Ele percebeu o que o profeta Jeremias séculos antes já havia ensinado, por causa da infidelidade de Israel: “A tua malícia te castigará, e as tuas infidelidades te repreenderão; sabe, pois, e vê, que mau e quão amargo é deixares o Senhor teu Deus, e não teres temor de mim, diz o Senhor Deus dos Exércitos” (Jr 2.19).

O Salmista percebeu a amargura de ter pecado contra o Senhor. Por muito tempo, enquanto calou os seus pecados, teve os seus ossos envelhecidos. Ele sofreu amargamente a dor dos seus pecados. Todavia, por graça divina, ele voltou-se de seus pecados, e andou em retidão.

Os resultados maravilhosos da retribuição providencial podem ser vistos nas palavras do salmista:

Sl 119.67 – “Antes de ser afligido eu andava errado, mas agora guardo a tua palavra.”

O salmista havia sido um constante transgressor das leis divinas. Foi necessária uma ação corretiva de Deus, uma retribuição providencial na sua vida a fim de que ele pudesse ser obediente à Palavra divina. Deus lhe deu aflições, isto é, a vara do descontentamento (mas do amor de Deus) lhe trouxe o “andar correto” de volta. Por essa razão, alguns versos mais abaixo, no mesmo salmo, o escritor sacro diz: “Foi bom eu ter passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.71). Ele reconheceu que a finalidade da retribuição divina foi alcançada e, agora, ele era um homem vitorioso!

Capítulo 9 do livro O Ser de Deus e as Suas Obras – A Providência e a Sua Realização na História, Dr. Heber Carlos de Campos,Editora Cultura Cristã, 2001

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