Frances Jane Crosby (1820-1915)
Fanny Crosby
A compositora cega de hinos evangélicos Frances Jane Crosby, que ficou conhecida como Fanny Crosby, era filha de John e Mercy Crosby. Ela nasceu em 24 de março de 1820, no município de Putnam, em New York e tinha pouco mais de um mês de vida quando sofreu uma infecção nos olhos.
O clínico geral estava fora da cidade e um outro médico foi chamado para tratar do caso. Ele receitou cataplasmas de mostarda quente e o efeito foi desastroso, pois deixou a menina cega pelo resto da vida.[1]
Porém, o temperamento de Fanny era dócil e ela nunca se revoltou com sua condição. Pelo contrário, mesmo que seus olhos físicos nada enxergassem, seus olhos espirituais a auxiliaram durante toda a sua vida, pois é precioso possuir olhos de fé!
Quando menina teve a mensagem do evangelho plantada em seu coração por sua avó que passava horas lendo a Bíblia para ela. Aos 15 anos, ingressou no Instituto de Cegos de New York, onde recebeu uma boa educação. Ela voltou à instituição para lecionar inglês e história. Como aluna e professora, Fanny passou 35 anos naquela escola.[2]
Fanny era membro da Igreja Metodista Episcopal e se tornou uma excelente compositora. Durante as férias de 1852 e 1853, escreveu os textos de várias canções para o Dr. George F. Root, então professor de música na instituição para cegos. Logo depois, escreveu os textos das cantatas: The Flower Queen (A Rainha das Flores) e The Pilgrim Fathers (Os Pais Peregrinos). Embora essas obras tenham se tornado populares na época, ninguém sabia que Fanny Crosby era a autora delas.
Ela podia escrever hinos a qualquer momento e em qualquer lugar e não necessitava esperar um momento especial de inspiração. Seus melhores hinos surgiram dessa maneira. Aprendeu a tocar violão, harpa, piano e cantava muito bem com sua voz de soprano. Recebeu educação musical que a habilitava a compor.
Fanny amava em seu trabalho e era feliz. Gostava de se relacionar com as pessoas e apreciava conversas informais. O segredo de sua alegria e satisfação foi registrado em sua primeira composição, quando tinha apenas oito anos:
“Que pessoa feliz eu sou!
Embora não possa ver
decidi, neste mundo,
sempre contente viver!”
Aos 38 anos, ela se casou com Alexander Van Alstyne, músico cego, conhecido como um dos melhores organistas em New York. Homem bonito, jovial e muito apreciado, empregou-se em várias igrejas como organista e ensinava órgão para sustentar a família.[3]
Um dos hinos mais conhecidos de Fanny foi Safe in the arms of Jesus (Salvo por Jesus Cristo – 374 CC). Sobre esse hino ela disse: “Creio que foi ditado pelo Espírito do Senhor e que nasceu para uma missão”. Ele foi escrito depois que seu filhinho, ainda bebê, morreu enquanto dormia.[4]
Uma de suas primeiras participações como compositora aconteceu em um dos cultos de Dwight L. Moody, que realizava uma conferência na cidade de Northfield, no estado de Massachussetts. Impressionado com o talento de Fanny, o evangelista lhe pediu que ela contasse o testemunho pessoal de sua fé e de seu relacionamento com Deus. Na ocasião, Fanny leu a letra de um hino que acabara de escrever.
Em 1870, o regente e músico Ira David Sankey tinha se unido a Moody na evangelização. Em uma campanha de avivamento na Inglaterra, de 1872 a 1875, eles publicaram Sacred Songs and Solos, um hinário que teve mais de dez milhões de exemplares vendidos.[5]
E, em 1876, quando Fanny conheceu o renomado evangelista e Ira Sankey, seu solista principal, iniciou-se um longo relacionamento pessoal e profissional com ambos. Eles utilizaram muitos de seus hinos, reconhecendo seus dons como uma parte vital do seu ministério. Sankey publicou muitos dos hinos dela e forneceu a música para seus versos.[6]
Foi uma benção para Fanny essa parceria, porque quando escrevia um hino, ela recebia poucos dólares e não recebia nenhum direito autoral, já que os hinos se tornavam sua propriedade. Embora muitos achassem que era explorada ou que deveria pedir mais dinheiro, ela não concordava, sentindo que seus hinos eram seu trabalho para Deus e que sua recompensa era o efeito deles nas vidas daqueles que os ouviam.
Ela escreveu letras para hinistas famosos de sua época. Entretanto, nunca fez questão de remuneração adequada. Morava em casas muito simples, vivia modestamente e dava muito do que recebia aos outros.
Francis não se gabava na sua fama: conheceu mais de um presidente de seu país; foi a primeira mulher a falar diante do Senado dos Estados Unidos; pregava nos púlpitos de grandes igrejas e fez conferências em muitos lugares. À sua própria maneira, tornou-se uma evangelista das mais proficientes da sua época. Amava o trabalho das missões como o Exército de Salvação, Associação Cristã de Moços, e a famosa Bowery, que trabalhava com os alcoólatras e necessitados. Cooperava nesses trabalhos, dando muito de si mesma.
Fanny definia um hino como uma “canção do coração dirigida a Deus”. Ela publicou muitos hinos sob seu próprio nome, mas também usou muitos pseudônimos, incluindo rótulos como “o amigo da criança” ou iniciais, ou mesmo símbolos como asteriscos e sinais de números. Uma das razões pelas quais ela fez isso foi a insistência de sua editora, que não gostava de depender tanto de uma única pessoa.[7]
Além de seu próprio nome, foi usado o nome de Sra. Van Alstyne. Entretanto, um grande número aparece sob diferentes pseudônimos: Grace J. Frances, Mrs. C. M. Wilson, Lizzie Edwards, Ella Dale, Henrietta E. Blair, Rose Atherton, Maud Marion, Leah Carlton e muitos outros; chegando a usar 204 pseudônimos!
Fanny escreveu cerca de oito mil poemas, muitos dos quais nunca foram musicados. Publicou quatro volumes de suas obras poéticas. Também escreveu cânticos para a Escola Dominical e muitos hinos evangelísticos. Foi essa parte de sua obra que lhe deu verdadeiramente notoriedade. Um de seus mais famosos hinos, conhecidos em língua portuguesa, é Blessed assurance, Jesus is mine! (Que segurança sou de Jesus!; ou Vivo feliz pois sou de Jesus!).
Os hinos de Fanny tornaram-se os mais populares nos hinários de várias denominações evangélicas. Só para citar alguns deles do Cantor Cristão (CC- hinário dos batistas brasileiros): 15. Exultação – A Deus demos glória; 116. Desejo da Alma – Vem Espírito divino, grande ensinador; 126. Louvai – Louvai, louvai Cristo, o bom mestre divino; 171. Avivamento – Aviva-nos, Senhor!; 187. Teus pecados – Pecador, teus pecados brancos, brancos se farão; 196. Conta-me – Conta-me a história de Cristo; 210. Cristo te chama – Cristo te chama com mui terno amor; 237. Tão perto – Tão perto do reino, mas sem salvação; 289. Ao pé da cruz – Quero estar ao pé da cruz; 339. Não consintas – Oh! Não consintas tristezas dentro do teu coração; 375. Segurança – Vivo feliz, pois sou de Jesus; 422. Trabalho Cristão – Vamos nós trabalhar, somos servos de Deus; 471. Vitorioso. – Sempre vencendo, mui valoroso; 501. O nosso lar – Querido lar tenho eu no céu.
Hinos de alento, de conforto, de motivação ao serviço no Reino de Deus, de louvor ao Senhor, de convite ao pecador, de comunhão com Deus; de alegria, vitória e anseio pelo lar eterno. Temas diversos que percorrem as páginas dos hinários e enchem os corações com mensagens edificantes.
Fanny teve uma influência incrível na igreja. O que ela não pode fazer em um ministério público, ela conseguiu fazer nos bastidores. Pregadores, teólogos e estudiosos da Bíblia, que não permitiam que uma mulher falasse ou ensinassem na igreja, semana após semana cantaram seus hinos e se beneficiaram de seu ministério.[8]
Ela ministrou e continua a ministrar ao mundo todo com suas mensagens que tocam o coração. Poucos dias antes da sua morte, declarou que:
Creio que a maior bênção que o Criador me proporcionou foi quando permitiu que a minha visão externa fosse fechada. Consagrou-me para a obra para a qual me fez. Nunca soube o que é enxergar, e por isso não posso compreender a minha perda. Mas tive sonhos maravilhosos. Tenho visto os mais lindos olhos, os mais belos rostos e as paisagens mais singulares. A perda da minha visão não foi perda nenhuma para mim.[9]
Fanny Crosby faleceu em 12 de fevereiro de 1915, aos 94 anos. Encontra-se sepultada no Mountain Grove Cemetery and Mausoleum, Bridgeport, município de Fairfield, Connecticut nos Estados Unidos. A laje da sua sepultura é simples, como pedira; tinha simplesmente as palavras: Aunt Fanny – She Did What She Could (Tia Fanny – Ela fez o que pôde). Em 1955, um grande monumento foi erigido sobre o seu túmulo homenageando esta serva de Deus e incluindo a primeira estrofe de seu famoso hino: “Que segurança! Sou de Jesus!”
Mulheres como ela servem de modelo cristão: cada uma com seu dom específico, com sua capacitação divina e, principalmente, com sua disposição de servir a Cristo, independentemente das circunstâncias.
Simei Monteiro e Rute Salviano
© 2018 do texto de Simei Monteiro e Rute Salviano Almeida
[1] Fanny Crosby: música sacra e adoração. Disponível em: <https://musicaeadoracao.com.br/37208/fanny-crosby/>. Acesso em: 30 de nov. 2017.
[2] Fanny Crosby: música sacra e adoração.
[3] A Deus demos glória: cantando com a História.
[4] REESE, Ed. The life and ministry of Frances Jane Crosby. Disponível em: <https://www.truthfulwords.org/biography/crosbytw2.html>. Acesso em: 30 de nov. 2017.
[5] GISEL, Pierre. (Org.). Enciclopédia do protestantismo. São Paulo: Hagnos, 2016, p. 1219.
[6] ADAMS, Anne. Fanny Crosby, hymnwriter. Disponível em: <http://www.historyswomen.com/womenoffaith/abigail2.htm>. Acesso em: 7 de out. 2017.
[7] ADAMS, Anne. Fanny Crosby, hymnwriter.
[8] TUCKER, Ruth; LIEFELD, Walter. Daughters of the church, p. 257.
[9] A Deus demos glória: cantando com a História.
Fonte: Honologia Cristã