Rev. Alexander Latimer Blackford
Cunhado e sucessor de Simonton; implantador do presbiterianismo em São Paulo
Alexander L. Blackford nasceu no dia 6 de janeiro de 1829 em Martins Ferry (Condado de Jefferson), no leste do Estado de Ohio, sendo seus pais cristãos muito piedosos. Segundo consta, era descendente em linha direta de um reformador e martir inglês, o bispo Hugh Latimer (1485-1555), daí o seu nome do meio. Passou os primeiro tempos de sua vida na zona rural de fronteira com seus pais. Após estudar no Washington College, na cidade de Washington, no sudoeste da Pensilvânia, onde se formou em 1856, ingressou no Western Theological Seminary (Seminário Teológico do Oeste), em Allegheny, nos arredores de Pittsburgh, no mesmo estado, formando-se em 1859. Foi licenciado em 21 de abril de 1858 e ordenado em 20 de abril de 1859 pelo Presbitério de Washington. Apresentou-se à Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana, sediada em Nova York, e pouco depois conheceu Ashbel G. Simonton, vindo a casar-se com a irmã deste, Elizabeth (Lille). Após uma tumultuada e perigosa viagem marítima de três meses, o casal chegou ao Brasil em 25 de julho de 1860, quase um ano após a chegada de Simonton.
De início, Blackford cooperou com o seu cunhado no Rio de Janeiro. Eventualmente, concluiu que seria recomendável a mudança da sede da missão para São Paulo. Chegou a visitar essa cidade no início de setembro de 1861, mas não encontrou uma casa disponível.
Na sua ausência, Simonton escreveu à Junta de Nova York sugerindo a ocupação dos dois pontos, o que foi finalmente aceito. Por algum tempo, em 1861, Blackford trabalhou como secretário da Legação Americana no Rio de Janeiro. De novembro de 1861 a janeiro de
1862, fez uma extensa viagem de reconhecimento e colportagem na Província de Minas Gerais, visitando Juiz de Fora, Barbacena e São João Del Rei. Com isso, deixou de participar da organização da Igreja do Rio de Janeiro, ocorrida pouco antes de seu retorno.
Substituiu Simonton no pastorado da Igreja do Rio quando da prolongada viagem do mesmo aos Estados Unidos (março de 1862 a julho de 1863). Em 15 de maio de 1863, foi eleito pastor dessa igreja, sendo Simonton e Francis Schneider eleitos co-pastores. Esse ato
permitiu o registro oficial dos ministros junto ao governo, visando obter autorização para realizar o casamento de acatólicos.
Desde o princípio, Blackford percebeu a importância estratégica de São Paulo. No dia 9 de outubro de 1863, o casal fixou residência na capital paulista, enquanto Simonton permaneceu no Rio de Janeiro. Ali encontraram dois obreiros leigos, vindos da Igreja Evangélica Fluminense: o comerciante inglês William Dreaton Pitt e o colportor português Manuel Pereira da Cunha Bastos, da Sociedade Bíblica Americana. No dia 18, um domingo, Blackford deu início ao seu trabalho, celebrando um culto em inglês no salão de leitura dos ingleses, à Rua da Constituição, atual Florêncio de Abreu. Os cultos em inglês foram mantidos por um ano em diversos pontos: em casa de William Pitt, no escritório de Robert Sharp e Filhos, na residência de Daniel W. Fox, o superintendente da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, e na casa do próprio pastor, variando a assistência de cinco a quarenta
pessoas. Por alguns meses houve reuniões de oração nos lares de alguns trabalhadores ingleses, possivelmente operários da estrada de ferro. No mesmo mês de outubro de 1863, Blackford foi a Rio Claro, onde o Rev. Francis J. C. Schneider estivera trabalhando por algum tempo. Nessa viagem, teve o primeiro contato com o padre e futuro ministro presbiteriano José Manoel da Conceição, ao qual iria batizar um ano depois, no dia 23 de outubro de 1864, no Rio de Janeiro.
Depois dessa viagem a Rio Claro, no dia 29 de novembro de 1863 houve o início dos cultos em português, na residência de William Pitt, à Rua da Boa Vista, nº 5, e depois à Rua da Constituição. Pitt foi um grande colaborador de Blackford e veio a ser ordenado ao ministério. Mais tarde, os cultos passaram a ser celebrados na casa do próprio pastor, também na Rua da Constituição. A primeira celebração da Ceia do Senhor ocorreu no dia 29 de maio de 1864 e a segunda em 8 de janeiro de 1865. Em dezembro de 1864, foi alugado um sobrado no início da Rua Nova de São José (atual Líbero Badaró), junto ao
Largo de São Bento, para onde o Rev. Blackford transferiu a sua residência. Havia cultos aos domingos pela manhã e à noite, bem como às quartas-feiras, e escola dominical.
Em fevereiro de 1865, o missionário fez a sua primeira visita à vila de Brotas, no interior da província, onde achou o terreno preparado pela atuação do ex-padre Conceição. Poucos depois, no dia 5 de março de 1865, organizou a Igreja Presbiteriana de São Paulo, com a profissão de fé dos seis primeiros membros: Antônio Bandeira Trajano, Miguel Gonçalves Torres, Manoel Fernandes Lopes Braga e José Maria Barbosa da Silva, sua esposa Ana Luíza Barbosa da Silva e sua enteada Olímpia Maria da Silva. Na mesma ocasião, foi celebrada pela terceira vez a Ceia do Senhor, tendo participado dezoito comungantes.
No final do mesmo ano, Blackford passou cerca de vinte dias em Brotas, acompanhado de José Manoel da Conceição, pregando e ensinando na vila e nos sítios. No dia 13 de novembro de 1865, estando presente Conceição, organizou naquela localidade a terceira
comunidade presbiteriana do Brasil. O ato se deu na residência de Antônio Francisco de Gouvêa (1825-1902) e incluiu as famílias de seus irmãos Joaquim José de Gouvêa e Severino José de Gouvêa, pai do futuro Rev. Herculano de Gouvêa. Antônio Francisco de Gouvêa por mais de cinqüenta anos prestou serviços à comunidade com um preparado seu, eficaz no tratamento de mordidas de cobras; faleceu em São Paulo e foi sepultado no Cemitério dos Protestantes. Brotas havia sido a última paróquia de Conceição. Devido à sua influência, várias pessoas se interessaram pelo evangelho, o que resultou em algumas visitas de missionários ao longo daquele ano: Blackford (fevereiro), Simonton e George W. Chamberlain (março e abril), Blackford e Conceição (outubro e novembro). Na data da organização, Blackford recebeu por profissão de fé e batismo onze pessoas, todas da família Gouvêa, e ministrou a Ceia pela primeira vez. No mês seguinte, em 16 de dezembro, a existência de três igrejas permitiu a criação do Presbitério do Rio de Janeiro, sendo Blackford eleito seu primeiro moderador (e reeleito três vezes consecutivas). No dia 17, o ex-padre Conceição foi ordenado ao ministério.
Blackford visitou ainda outros pontos do interior paulista, como o Vale do Paraíba, Sorocaba e Bragança. Nesta última pregou três vezes em janeiro de 1866 e encontrou boa acolhida, mas foi proibido de continuar pelo delegado da cidade. Em 25 de maio, fez nova visita a Bragança, encontrando ali o Rev. Conceição, que iniciara em fevereiro as suas viagens missionárias. Pregou por cinco dias a auditórios de cem a duzentos ouvintes (somente em 1927 seria organizada a igreja presbiteriana). Em 25 de março, recebeu em São Paulo o segundo grupo de membros, composto de oito pessoas, entre as quais os
portugueses Modesto Perestrello de Barros Carvalhosa e seu primo Pedro Perestrello da Câmara. No ano seguinte, na terceira reunião do presbitério, leu o estudo ―Algumas considerações sobre os obstáculos ao progresso do evangelho no Brasil‖ (16-07-1867).
No final de 1867, com a morte inesperada do pioneiro Simonton, Blackford regressou ao Rio de Janeiro, onde permaneceu por quase dez anos à frente da igreja-mãe. Em 1868, foi para os Estados Unidos em gozo de suas primeiras férias, tendo sido nomeado delegado do
presbitério perante a Assembléia Geral, a reunir-se em maio seguinte em Nova York. Substituiu-o no Rio de Janeiro o Rev. George Chamberlain. Nos anos seguintes, a obra presbiteriana expandiu-se grandemente na antiga capital, passando a ter as suas próprias instalações. Em dezembro de 1870, depois que a igreja teve por alguns meses a sua última sede provisória (Campo de Santana, nº 67), foi adquirido o imóvel da Travessa da Barreira, atual Rua Silva Jardim, junto ao Morro de Santo Antônio. Em 3 de outubro de 1872 foi incorporada junto ao governo a Sociedade Presbitério do Rio de Janeiro, a fim de legalizar definitivamente a propriedade. Finalmente, no dia 29 de março de 1874 foi inaugurado naquele local o primeiro templo presbiteriano do Brasil. Ao longo dos anos, Blackford organizou outras igrejas, como as de Lorena (17-05-1868), Sorocaba (01-09-1869), Petrópolis (19-03-1872) e Campos (11-03-1877). Foi editor do jornal Imprensa Evangélica e lecionou no ―Seminário Primitivo‖ (1867-1870), que formou os primeiros pastores presbiterianos nacionais: Antônio Bandeira Trajano, Miguel Gonçalves Torres, Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa e Antônio Pedro de Cerqueira Leite.
Entre 1877 e 1880, o Rev. Blackford trabalhou como agente da Sociedade Bíblica Americana, viajando em grande parte do território brasileiro. Durante o ano de 1877, visitou as províncias de Minas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, percorrendo quase cinco mil quilômetros, quase sempre a cavalo. Pregou em muitas cidades e espalhou 2360 exemplares das Escrituras. Em 1878, visitou as províncias do norte. No dia 11 de agosto daquele ano, participou da organização da Igreja Presbiteriana de Recife, ao lado do Rev. John Rockwell Smith. Esteve em outras províncias da região, indo até o Pará. Em 1879, ele e alguns colegas produziram uma ―versão brasileira‖ do Novo Testamento, com base no original grego (publicada pela Sociedade de Literatura Religiosa e Moral, com sede na Igreja do Rio). Foram seus auxiliares o Rev. Modesto Carvalhosa e o Dr. José Manoel Garcia, professor do Colégio Pedro II. No mesmo ano, a 23 de março, faleceu a esposa de Blackford, Elizabeth, sendo sepultada ao lado do seu irmão no Cemitério dos Protestantes, em São Paulo. Dois anos depois, em 24 de março de 1881, Blackford viria a casar-se com
Nannie Thornwell Gaston, filha do Dr. James McFadden Gaston (1824-1903), um médico e presbítero norte-americano que residiu em Campinas e escreveu o livro Hunting a Home in Brazil (1867). Outra filha do Dr. Gaston, Keziah, casou-se em 1884 com o missionário
John B. Kolb.
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