A Vida do Rev. Francis Joseph Christopher Schneider

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Pioneiro presbiteriano no interior de São Paulo e na Bahia

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Francis J. C. Schneider nasceu em Erfurt, na Alemanha, em 29 de março de 1832 e emigrou para os Estados Unidos, tornando-se cidadão norte-americano. Bacharelou-se em letras no Jefferson College, em Canonsburg, oeste da Pensilvânia. Em 1861, concluiu os estudos no Seminário Teológico do Oeste (Western Theological Seminary), em Allegheny, o mesmo em que havia estudado o Rev. Alexander Blackford. Foi licenciado pelo Presbitério de Ohio e ordenado em 1861 pelo Presbitério de Saltsburg, na Pensilvânia. Foi o terceiro missionário presbiteriano a vir para o Brasil, tendo chegado ao Rio de Janeiro no dia 7 de dezembro de 1861. A Junta de Nova York o enviou para trabalhar entre os imigrantes alemães. No mesmo mês, a convite do diretor da Colônia D. Pedro II, mantida pela Companhia União e Indústria, pregou diversas vezes aos colonos alemães em Juiz de Fora. Dali voltou a tempo de assistir à fundação da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro e à primeira celebração da Ceia do Senhor, no dia 12 de janeiro de 1862.

Embora em 1860 e 1861 Simonton e Blackford tenham feito visitas de reconhecimento à então Província de São Paulo, Schneider foi o primeiro a residir no território paulista. No final de janeiro de 1862, esteve por alguns dias na capital paulista e pregou em alemão a cerca de trinta pessoas. Seguiu então para o interior, visitando as colônias alemãs e suíças de São Jerônimo, Ibicaba, Beri, Cubatingo, São Lourenço e Paraíso, pregando nelas e também em Campinas, Limeira e Rio Claro, sempre em alemão. Essas colônias estavam em terras de cidadãos ilustres como o senador Vergueiro, o senador Queiroz e o comendador Luís Antônio de Souza Barros. Nessa viagem, Schneider fixou-se em Rio Claro, ali permanecendo até março de 1863 e pregando aos domingos nas colônias citadas. Logo, porém, decepcionou-se com a espiritualidade dos alemães. Crendo na regeneração batismal, a maior preocupação dos colonos consistia em batizar os filhos e participar da comunhão, sem contudo abandonarem os vícios habituais.

Após um ano de trabalho, Schneider deixou Rio Claro em fins de março de 1863 e regressou ao Rio de Janeiro. Tendo falado somente alemão e inglês durante a sua permanência na Província de São Paulo, não aprendera português e pouco podia fazer entre os brasileiros. Dedicou-se ao estudo da língua portuguesa e ajudou os colegas Simonton e Blackford nas pregações. No dia 15 de maio, foi eleito co-pastor da Igreja do Rio. Transcorrido cerca de um ano, regressou a Rio Claro ao saber através do Rev. Blackford que os colonos sentiam a sua falta e desejavam que voltasse. Em 22 de março de 1864, o Rev. Blackford oficiou o seu casamento com Ella Grace Kinsley, uma norte-americana residente em São Paulo. Esse casamento, realizado na casa de Blackford, foi o primeiro a ser registrado no livro de atas da Igreja de São Paulo. No mês seguinte, o casal fixou residência em Rio Claro. Além de pregar e evangelizar, Schneider distribuiu bíblias e literatura evangélica, e iniciou escolas dominicais, ensinando aos meninos a história da Bíblia e o catecismo. Seu filho Robert Henry nasceu em 18 de dezembro do mesmo ano e foi batizado por Blackford em 12 de fevereiro de 1865, em Rio Claro. Mais tarde, o missionário enviuvou e casou-se novamente, mas a segunda companheira também veio a falecer.

O problema anterior voltou a repetir-se em Rio Claro. Os colonos pouco se importavam com a sua salvação ou com as coisas espirituais. Com isso, Schneider passou a pregar aos brasileiros. Participou da organização do Presbitério do Rio de Janeiro, ocorrida no dia 16 de dezembro de 1865 na cidade de São Paulo, e da cerimônia de ordenação do Rev. José Manoel da Conceição, no dia seguinte. Em 1866, fez várias visitas ao promissor campo de Brotas, cuja igreja fora organizada em 13 de novembro de 1865. Em uma das visitas, no início de maio, encontrou-se com George Chamberlain e José Manoel da Conceição e no dia 7 batizou sete pessoas, entre elas o Sr. Henrique Gomes de Oliveira e três parentes de Conceição – sua cunhada Antônia, sua irmã Gertrudes e o esposo desta, José Rufino. A presença de Schneider fez-se necessária no Rio de Janeiro, para onde novamente se transferiu, colaborando no púlpito e na Imprensa Evangélica. Prestou valiosos serviços ao novo seminário, que iniciou suas aulas em 14 de maio de 1867, encarregando-se da educação pré-teológica ou secundária. Na reunião do presbitério em julho daquele ano, leu um trabalho intitulado ―Algumas considerações que nos levam a crer que o evangelho de Jesus Cristo deve ser divulgado em todo o Brasil‖.

Schneider era versado em ciências físicas e matemáticas e conhecedor de diversos idiomas. No final de 1869, fez uma apreciada palestra científica aos alunos da escola dominical da Igreja do Rio, realizando experiências com diversos equipamentos. Contribuiu para a conversão do futuro escritor e filólogo Júlio Ribeiro, que lhe escreveu uma carta afetuosa no final de 1869. De 27 de setembro de 1870 a 19 de janeiro de 1871, auxiliou o Rev. Chamberlain em São Paulo e também fez alguns trabalhos literários, revendo a tradução de um dicionário da Bíblia publicado pela Sabbath School Union e outra do primeiro volume da História da Reforma do XVIº Século, de J. H. Merle D‘Aubigné, tradução essa feita por Júlio Ribeiro. Schneider foi eleito duas vezes moderador do Presbitério do Rio de Janeiro, em 1869 e 1872.

Autorizado pelo presbitério, Schneider chegou com a família à cidade de Salvador em 9 de fevereiro de 1871, para implantar o trabalho presbiteriano na Bahia. Era um difícil desafio em virtude de Salvador ser a sede do arcebispado metropolitano e o centro da ação católica no país. Levava algumas cartas de recomendação do Rev. Richard Holden (1828-1886), missionário episcopal que havia trabalhado naquela província. A partir de 13 de junho, Schneider contou com a colaboração do colportor José Freitas de Guimarães, um membro da Igreja do Rio de Janeiro. O missionário organizou a Igreja de Salvador em 21 de abril de 1872, recebendo como primeiros membros apenas um casal: Torquato Martins Cardoso e Maria Pereira Cardoso. Outro dos primeiros conversos, o carpinteiro negro Marcos Luiz da Boa Morte, entregou ao missionário mudas de laranja baiana, que, levadas aos Estados Unidos, foram o ponto de partida para o cultivo dessa variedade naquele país.

Quando da inauguração do templo da Igreja do Rio, em 1874, Schneider não pôde comparecer, mas enviou um sermão sobre o governo da Igreja Presbiteriana, que foi lido num dos cultos e preservado em um dos números de O Púlpito Evangélico daquele ano. Schneider ajudou o Rev. James T. Houston a organizar a Igreja de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, em 12 de setembro de 1875. Algum tempo depois, seu filho Robert Henry estudou no Colégio Internacional de Campinas (Catálogo de 1877). Em 1877, Schneider desligou-se da missão e passou a residir em Nova York, sendo transferido para o Presbitério de Brooklyn. Colaborou com o Dr. José Carlos Rodrigues no conhecido

periódico O Novo Mundo (1865-1879) e trabalhou na tradução de várias obras, entre elas O Caminho da Vida, de Charles Hodge, e Esboços de Teologia, de Archibald Alexander Hodge.
Schneider retornou ao Rio de Janeiro em 1882, sendo novamente arrolado pelo Presbitério. Reatou as suas ligações com a Junta de Nova York por cinco anos (1885-1890) e tomou parte na organização do Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, em setembro de 1888. Em 1890, transferiu-se para São Paulo, onde passou os últimos anos de sua vida. Tornou-se funcionário público estadual, trabalhando por quase vinte anos na seção de meteorologia da Secretaria da Agricultura (Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo). Presidiu a comissão sinodal para edificação de templos, cujo órgão, Boletim Mensal, começou a ser publicado pelo Rev. Emanuel Vanorden em 1892. Lecionou grego e física no Instituto Teológico, fundado em 1893, e no Seminário Presbiteriano, que foi transferido de Nova Friburgo para São Paulo em 1895. Os alunos iam ter as lições na casa do velho mestre, no Largo do Arouche. Colaborou com a escola dominical da 1ª Igreja de São Paulo; de sua classe faziam parte os alunos do seminário. Mais tarde, também cooperou com a Igreja Unida. Transferido para o Presbitério de São Paulo, foi jubilado em 1895. Sua filha Mary Kinsley Schneider foi arrolada na Igreja de São Paulo em 2 de outubro de 1896, por transferência da 6ª Igreja Presbiteriana de Pittsburgh, e mais tarde se filiou à Igreja Unida.

Homem de trabalho, Schneider era visto com suas barbas brancas a andar apressadamente para cumprir as suas obrigações. Austero e de gênio impulsivo, era rigorosamente exato e exigia o mesmo dos outros. Sempre tomava parte nos concílios da igreja, acompanhando com interesse os temas palpitantes. No Sínodo de 1903, que resultou no cisma presbiteriano, por causa de declarações suas a respeito da maçonaria, os ―independentes‖ propalaram que Schneider não aceitava a mediação de Cristo, o que o levou a fazer uma comovente declaração de fé. Seu testamento tem a seguinte cláusula: ―Minha fé para a salvação está depositada no meu Senhor e Salvador Jesus Cristo que morreu por meus pecados e, ressuscitado, subiu ao céu, onde vive e intercede por mim à destra do Pai. Esta é a fé que recomendo aos meus filhos e amigos, e exorto-os, ainda depois de morto, a que aceitem este mesmo Jesus por seu Salvador e vivam obedientes à sua lei contida nas Sagradas Escrituras, comumente chamadas a Bíblia‖.

O Rev. Schneider faleceu em São Paulo no dia 21 de março de 1910, após prolongada enfermidade. Era o último sobrevivente dos companheiros de Simonton. Embora não tenha se equiparado aos seus colegas como pastor e evangelista, deu valiosa contribuição no preparo de candidatos ao ministério, na literatura evangélica e na obra missionária. Deixou vários sermões esparsos em O Púlpito Evangélico e nos suplementos da Imprensa Evangélica. Sua lápide no Cemitério dos Protestantes tem os seguintes dizeres: ―Nosso Senhor Jesus Cristo disse: ‗Pai! A minha vontade é que, onde eu estou, estejam também comigo aqueles que tu me deste‘‖ (João 17.24).

Bibliografia:  Lessa, Annaes, 18-22, 76s, 79-81, 166, 200, 392, 426, 458, 477s, 484, 520s, 668.  Ferreira, História da IPB, I:33, 41, 57, 81, 85-86, 128-32, 190, 194, 214s, 310s, 397, 576; II:189, 320.
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