AVIVAMENTO, UMA OBRA DE DEUS

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1884

O AVIVAMENTO, UMA OBRA DE DEUS

Neemias 8-10

Quando o avivamento veio a Florença, na Itália, em 1496-1498, o instrumento humano de Deus foi o italiano Savonarola. Ele estava chocado com o vício e a imoralidade do mundo a seu redor na Itália e pela corrupção da Igreja Católica Romana. Quando jovem, ele andava à margem do rio Pó, cantando a Deus e chorando pelos pecados, pelas injustiças e pela pobreza do povo a seu redor. Ele chorava e lamentava a impudicícia, o luxo e a crueldade de muitos líderes na igreja. Ficava deitado, prostrado, durante horas a fio, sobre os degraus do altar na igreja, chorando e orando pelos pecados de sua época e os pecados da igreja. 

O que pôde um monge desconhecido fazer em tempo de imoralidade tanto da sociedade quanto da única igreja existente naquela época? Embora católico devoto, as orações de Savonarola e sua vida cheia do Espírito ajudaram a preparar o caminho para a Reforma Protestante. Martinho Lutero chamou-o de “mártir do protestantismo”. A sua vida é mais um exemplo glorioso de que um guerreiro de oração, pela graça de Deus, pode ser usado para virar a maré e preparar o caminho para um poderoso avivamento.

Durante anos, Savonarola estudou as Escrituras, esperava em Deus e orava. Um dia, Deus de repente deu-lhe uma visão: os céus se abriram, e uma voz ordenou que ele anunciasse ao povo as calamidades futuras da igreja. Transbordando de poderosa unção do Espírito Santo, Savonarola começou a pregar para a população.

Quando o Espírito de Deus vinha sobre ele, a voz de Savonarola trovejava ao denunciar os pecados do povo. Um poder avivador se apoderou de toda a região. Seus ouvintes — homens e mulheres, poetas e filósofos, artesãos e trabalhadores braçais — choravam aos soluços. As pessoas andavam pelas ruas tão impactadas pelo convencimento do Espírito Santo que durante dias ficavam pasmas e sem palavras.

Esse avivamento trouxe imensas transformações morais. O mundo parou de ler livros vis e mundanos. Os mercadores restituíram às pessoas os lucros excessivos que tinham extorquido. Criminosos e moleques de rua pararam de cantar cantigas pecaminosas e começaram a cantar hinos nas ruas. Foram proibidos e abandonados os carnavais. Foram feitas gigantescas fogueiras em que livros mundanos, máscaras, perucas e ilustrações obscenas foram queimados. 

Israel ao retornar do cativeiro estava vivendo em uma situação triste não só por que as muralhas de Jerusalém estavam derribadas, mas por que o povo estava vivendo distante de Deus, praticando coisas abomináveis aos olhos do Senhor.

Na primeira parte do livro podemos ver o empenho de Neemias pela reconstrução das muralhas de Jerusalém e na segunda parte podemos ver a dedicação de Neemias pela restauração da nação. Neste momento eu lhe convido para aprendermos algumas lições com a restauração espiritual de Israel. O despertamento acontece quando:

1-FOME DA PALAVRA DE DEUS ( 8.3-9)

Na verdade, Neemias veio a Jerusalém para reconstruir o muro, e obteve sucesso em fazê-lo. Mas descobrimos agora que a reconstrução estava longe de ser tudo que ele objetivava. Neemias queria reconstruir o muro, mas além desse objetivo, ele desejava algo muito mais significativo: reconstruir a nação.

No capítulo 8 de Neemias vê-se o ponto de partida para a verdadeira renovação nacional. A Palavra de Deus.

Os versículos 2-12 mencionam uma grande assembleia pública em que Esdras, o sacerdote, lê a lei de Deus para o povo e como todos são afetados por isso. O povo veio para a cidade da zona rural vizinha, reuniu-se na grande praça pública ante a Porta das Águas, no lado leste de Jerusalém, e ouviu Esdras. Ele montou uma grande plataforma de madeira que havia sido erguida para a ocasião e ali, rodeado por 13 dos mais importantes levitas, leu o livro da lei (o Pentateuco ou “os cinco primeiros livros”) do início da manhã até meio-dia — cerca de seis horas.

O povo demonstrou reverência extraordinária pela lei, pois se levantou em silêncio respeitoso quando Esdras abriu o pergaminho. Quando orou, eles responderam: “Amém! Amém!”, e adoraram a Deus. À medida que a narrativa se desenrola, descobre-se que a leitura da lei divina levou ao avivamento nacional.

Esdras leu a Palavra de Deus (v. 3). Muito foi feito para elevar a Bíblia no pensamento do povo. A oração fazia parte disso. O mesmo aconteceu com a plataforma elevada da qual Esdras leu e como ele o fez: rodeado pelos 13 levitas cujos nomes estão registrados no versículo 4. Talvez o mais importante seja o fato de Esdras ler a lei por seis horas.

A explicação da Palavra de Deus (v. 7, 8). Uma das partes mais importantes de Neemias é a afirmação nos versículos 7 e 8 deste capítulo de que a leitura da lei foi acompanhada de interpretação ou explicação. O texto diz: “E Jesua, Bani, Serebias, Jamim, Acube, Sabetai, Hodias, Maaseias, Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã, Pelaías e os levitas ensinavam o povo na Lei; e o povo estava no seu lugar. Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia”.

Daniel Webster (1782-1852), o grande político e orador americano, disse: “Não há base sólida para a civilização a não ser na Palavra de Deus. Se respeitarmos os princípios bíblicos, nosso país continuará prosperando […]. A Bíblia é o livro […] que ensina ao homem a responsabilidade individual, a própria dignidade e a igualdade com o próximo”.

William McKinley (1843-1901), o vigésimo quinto presidente dos Estados Unidos, declarou: “Quanto mais estudamos com profundidade esse livro maravilhoso, e quanto mais perto observamos seus preceitos, melhores cidadãos nos tornaremos e maiores serão os destinos de nossa nação”.

Eis o que o Dr. Martyn Lloyd-Jones, o grande pregador, disse sobre o valor da pregação:

O que sempre anuncia a aurora da reforma ou do avivamento? É o interesse renovado pela pregação. Não só ele, mas um novo tipo de pregação. O avivamento da verdadeira pregação sempre anuncia os grandes movimentos na história da igreja. Quando a Reforma e o avivamento chegam, eles sempre levam a grandes e notáveis períodos de pregação que a igreja já conheceu. Isso foi verdade no começo, de acordo com a descrição do livro de Atos, e foi também na Reforma Protestante. Lutero, Calvino, Knox, Latimer, Ridley — todos esses homens eram grandes pregadores. No século XVII, ocorreu exatamente o mesmo: os grandes pregadores puritanos e outros. No século XVIII, Jonathan Edwards, Whitefield e os Wesleys, Rowlands e Harris eram todos grandes pregadores. Foi uma era de grandes pregações. Sempre que ocorrem Reforma e avivamento, esse é inevitavelmente o resultado.[59]

PREPARO PARA O AVIVAMENTO NA COREIA –  Os presbiterianos na Coreia havia muito enfatizavam o tempo de estudo bíblico em grupos. Cada igreja separava uma semana, uma vez por ano, deixando o trabalho secular e todas as outras atividades, para se reunir para o estudo intenso da Palavra de Deus. O estudo bíblico sem interrupções, repleto de oração, sempre renovou, abençoou e vivificou as igrejas locais. Até os dias atuais, toda igreja evangélica coreana é igreja que crê na Bíblia e a ama. Não havia apenas um extenso estudo bíblico uma vez por ano, como também realizavam- se muitas classes de estudo bíblico nos distritos e circuitos.

O missionário Ronaldo Lidório, trabalhando entre os Konkombas, em Ghana, experimentou grandes maravilhas divinas como resultado da pregação da Palavra. Em nove anos de trabalho missionário, plantou 23 igrejas com cinco mil pessoas convertidas entre tribos animistas e feiticeiras. Os céus se fenderam e Deus desceu com grande poder, curando enfermos, salvando feiticeiros e libertando cativos. Ronaldo traduziu o Novo Testamento para a língua nativa desse povo até então não alcançado pelo Evangelho. Antes do Novo Testamento ser vertido para a língua konkomba, uma mulher de sessenta anos fez uma viagem de quatro dias a pé até a aldeia onde morava o missionário Ronaldo para decorar treze versículos da Palavra de Deus. Ao regressar para a sua casa, depois de dois dias de viagem, esqueceu-se de um versículo. Ela só conseguia se lembrar de doze; então, regressou do meio do caminho e voltou à aldeia onde estava o missionário para memorizar o versículo perdido e justificou: “A Palavra de Deus é muito preciosa para ficar perdida no meio do caminho”.

2-BUSCAMOS A DEUS EM ORAÇÃO  (8.6; Ne 9.1; Es 9.1-15)

A restauração das muralhas de Jerusalém, haviam sido concluídas, mas Neemias sabia que a nação precisava de restauração espiritual. O povo de Deus estava contaminado pelo pecado, no livro de Esdras diz: “O povo de Israel e os sacerdotes, e os levitas não se separam dos povos de outras com suas abominações, isto é,  dos cananeus, dos heteus,  dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas,  dos egípcios e dos amorreus (Esdras 9.1).

Esdras ao tomar conhecimento de tal situação rasgou as suas vestes, arrancou os cabelos da barba, e se assentou atônito. Mas ele não fez apenas isto, ele buscou a Deus em oração em favor da nação (9.5-10.1).

Esdras começou pela oração (v. 6). Essa é a primeira aparição de Esdras em Neemias (cf. v. 1), e sua oração antes da leitura da lei, mesmo sem registro, pode ser considerada apenas uma invocação formal. No entanto, seria errado pensar assim. A aparição de Esdras é significativa, e a oração era mais que uma formalidade, como comprova a resposta do povo.

O que a oração de Esdras efetuou? Parece ter realizado duas coisas.

Primeira, estabeleceu o senso entre as pessoas de que o que se seguiria — a leitura da lei — não era mera questão civil, mas tinha ligação com Deus.

Segunda, a oração de Esdras despertou a expectativa do povo sobre o que Deus poderia fazer entre eles. A oração deve sempre fazer isso, pois por ela a pessoa se aproxima de Deus, solicita algo e o recebe dele. (Também é adoração, confissão e ação de graças. Esses elementos estão presentes até nessa história. Mas também é pedir e esperar.) Com certeza o povo não errou ao manter a expectativa na ocasião.

A INGLATERRA ANTES DO AVIVAMENTO – O século 18 foi um tempo de grandes trevas morais e espirituais, inquietação política e carências sociais em muitas partes do mundo. Na Inglaterra, o deísmo teve efeitos devastadores, e a autoridade da Bíblia ficou abalada no país inteiro. Eram abundantes a indiferença espiritual e o ceticismo, e a liberdade havia se degenerado em licenciosidade. A religião fora esvaziada da sua espiritualidade e do seu poder. Vista com desprezo, era no máximo um código de ética. As massas eram intocadas pela igreja. Aqui e acolá havia alguns ministros piedosos e fiéis, mas o clero, em grande parte, era constituído de líderes de fachada que, além de não ensinar a doutrina da salvação pela fé, ainda se opunham a ela. Muitos eram conhecidos por hábitos de embriaguez. Às vezes até mesmo lideravam os tumultos contra os avivalistas.

Nos círculos mais altos da sociedade, pessoas zombavam quando a religião era mencionada. A grande maioria dos estadistas de renome era descrente, e eles eram conhecidos por sua vida grosseiramente imoral, que escarnecia do casamento. As famosas cartas de lorde Chesterfield para educar seu filho incluíam instruções de como seduzir as mulheres.

Muitos do clero, sustentados pelo Estado, não viviam perto das igrejas para as quais tinham sido designados. Recebiam seus proventos, mas alguns jamais viram sua paróquia. Certo bispo gabou-se de que só teria ido uma vez à sua paróquia — vivia habitualmente à beira da lagoa. Os cultos nas igrejas estavam em declínio, os prédios das igrejas caindo aos pedaços, a adoração era negligenciada. Não mais que quatro ou cinco membros da Câmara dos Comuns frequentavam a igreja. Certa vez, o lorde Bolingbrooke repreendeu um grupo de pastores por seu estilo de vida, dizendo que era “o maior milagre do mundo” o cristianismo sobreviver quando estava entregue nas mãos de “homens tão anticristãos quanto os senhores”.¹

O povo comum na Inglaterra antes do avivamento era, em sua maioria, gente ignorante e espantosamente cruel. As escolas existiam somente para a elite. Poucas cidades tinham qualquer espécie de força policial, e a ralé saqueava e pilhava Londres e Birmingham, queimando as casas, escancarando as cadeias e aterrorizando o povo.

Os criminosos ficaram cada vez mais ousados e intimidavam a população. Uma em cada três casas em Londres vendia bebida forte, e bares convidavam o público a “embebedar-se por uma moeda, ou beber até cair por duas patacas, e palha sobre a qual deitar até acabar o torpor da bebedeira”.²

Os moradores de Londres raramente viajavam depois do anoitecer, até mesmo para os subúrbios mais próximos, a não ser com uma escolta armada. Os contrabandistas operavam nas regiões costeiras, e bandos armados levavam as mercadorias até Londres. Até mesmo as atividades esportivas eram brutais: brigas de galo, touradas, brigas de ursos e selvagens rinhas de buldogues.

A despeito da força policial ineficaz, a justiça criminal era implacável. Havia pelo menos 160 atos declarados como “passíveis de pena de morte sem benefício de clero” — ou seja, morte imediata. Derrubar uma cerejeira, surrupiar alguma coisa da mão de um homem e fugir com ela, roubos de quarenta xelins ou mais de uma casa, roubar de uma loja o valor de cinco xelins — até 1800, todas essas coisas levavam à pena de morte. Há documentação de que quarenta a cinquenta pessoas eram enforcadas a cada sessão dos tribunais.

As cadeias estavam cheias, eram escuras e imundas, com o cheiro ofensivo dos esgotos abertos que corriam pelas celas das prisões. Não havia roupa de cama e faltava água, e oferecia-se apenas dois pedaços de pão por pessoa ao dia. Muitos prisioneiros morriam em seus calabouços sujos e sombrios. Foi nessas prisões que Wesley e outros membros de seu grupo começaram a ministrar no início do período do avivamento.

O CLUBE SANTO – No início da década de 1730, os irmãos Wesleys juntaram alguns colegas estudantes no quarto de John no Lincoln College, Universidade de Oxford, buscando sinceramente a santidade. A membresia passou a ser de quinze pessoas, nunca mais que 25. Depois que John deixou Oxford em 1735, o grupo se desintegrou.³ Inicialmente, ele foi chamado de “Clube Santo”.

Esses jovens buscavam viver sob rigorosas regras, no intuito de alcançar a santidade. Havia um método de autoexame, toda semana participavam da comunhão, jejuavam a cada quarta e sexta-feira em imitação à igreja primitiva, e visitavam regularmente os prisioneiros e enfermos. Procuravam diligentemente agradar a Deus e ser santos com seus métodos, pelo que muitas pessoas começaram a chamá-los de “metodistas”.

Apesar da reforma espiritual de dois séculos antes, a possibilidade imediata de salvação ou de certeza da salvação era desconhecida pelas igrejas. Quando os Wesleys e Whitefield começaram a pregar essa doutrina, foram desprezados e quase excluídos da igreja, apesar de serem ministros ordenados pela Igreja Anglicana. Essa agora era sua mensagem e testemunho ardente, e eles a proclamaram por toda parte.

COMEÇA O AVIVAMENTO – No dia de ano-novo de 1739, John e Charles Wesley, George Whitefield e mais quatro membros do Clube Santo, com mais sessenta pessoas de pensamento semelhante, promoveram uma “festa de amor” em Londres, na Fetter Lane.

Cerca de três horas da manhã, quando continuávamos instando em oração, veio sobre nós o poder de Deus de maneira poderosa, a ponto de muitos gritarem, não se contendo de alegria, e outros caírem ao chão (vencidos pelo poder de Deus). Logo que nos recobramos um pouco daquele espanto e senso de admiração da presença de sua majestade, rompemos a uma só voz: “Louvamos-te, ó Deus; reconhecemos que só tu és o Senhor”.⁴

Esse acontecimento tem sido chamado de o Pentecostes metodista. Cinco noites depois disso, oito desses “metodistas” oraram e conversaram até altas horas, saindo de lá “convictos de que Deus estava prestes a fazer grandes coisas”. Em outra noite dessa mesma semana, um grupo se reuniu e passou a noite inteira em oração.

No fim de semana seguinte, em 14 de janeiro de 1739, Whitefield foi ordenado. Passou o dia antes de sua ordenação em jejum e oração até o entardecer. Levantou-se cedo no do- mingo pela manhã para orar. “Quando subi ao altar, não pude pensar em nada senão em Samuel, menino diante do Senhor […]. Quando o bispo impôs as mãos sobre mim, meu coração foi derretido, e ofereci-me, espírito, alma e corpo, ao serviço do santuário de Deus! Com a ordem do bispo, li o Evangelho com poder.”⁵

Daquele dia em diante, Whitefield pregou com grande unção e poder. Contava apenas 22 anos de idade, mas sempre que falava as multidões se ajuntavam para ouvi-lo. As suas salas estavam cheias de estudantes de Oxford. Ele escreveu: “Durmo muito pouco. Tivesse eu mil mãos, empregá-las-ia todas. Quisera ter mil línguas para louvá-lo. Ele ainda opera em mim mais e mais”.

Nos primeiros dias do grande avivamento, foi Whitefield, mais do que John Wesley, quem ousou inovar e liderar. Quando Whitefield pregou na igreja de Bermondsey em fevereiro de 1739, a multidão era tão grande que até o quintal ficou cheio. Deus conduziu Whitefield a ir para fora a fim de pregar. Em vestes clericais, Whitefield pregou seu primeiro ser- mão ao ar livre a uma congregação de duzentas pessoas, e começou um novo dia na his- tória do evangelho.

As multidões se avolumavam a cada dia, até chegar a umas 20 mil pessoas reunidas. Alguns dos ricos ficavam sentados em suas carruagens, e outros, em seus cavalos. Algumas pessoas subiam nas árvores, e por toda parte as pessoas se juntavam pelo terreno para ouvir a pregação de Whitefield. Por vezes, todos eram levados às lágrimas, tomados pelo Espírito de Deus.

GEORGE WHITEFIELD: EM CHAMAS POR DEUS – No ano e meio antes de navegar até a América, George Whitefield pregou a multidões em quase todo lugar que ia. Tinha apenas 22 anos, mas seu nome se tornou conhecido em todas as casas por toda a Inglaterra. Era homem de oração, compaixão e verdadeira humildade. Desde sua primeira mensagem após sua ordenação até o final de sua vida, Whitefield manteve um único alvo: ganhar almas. Entre os sermões, ele gastava boa parte do tempo aconselhando e orando com pessoas que estavam convictas de seu pecado. Era chamado e “o Despertador” e “o que trouxe o fogo”. O Deus que respondera com fogo nos dias de Elias estava operando através de George Whitefield.

A ORAÇÃO POR AVIVAMENTO ACENDE O FOGO DO AVIVAMENTO – De 1857 a 1859, Deus iniciou um movimento de colheita de avivamento nos Estados Unidos que acabou atingindo as Ilhas Britânicas, levando renascimento espiritual para a Irlanda do Norte, Gales, Escócia e, finalmente, Inglaterra. O dr. J. Edwin Orr, historiador dos movimentos de avivamento, chama isso de Quarto Avivamento Geral.

Todos esses derramamentos do Espírito tiveram início em um movimento de oração motivado, dirigido e coordenado pelo Espírito Santo. Nenhuma pesquisa humana poderia descobrir todas as fontes e os ribeiros de oração que convergem em tão caudaloso rio de bênção. A oração prolongada e prevalecente continua em muitos corações, invisível aos olhos humanos, mas presente nas correntes do preparo do caminho do Senhor feito pelo Espírito. Não conhecemos todos os caminhos do Espírito Santo que prepararam a América e a Grã-Bretanha para o avivamento de 1857-1858, mas reconhecemos muitos dos eventos e pessoas que Deus usou para tanto.

CONVENÇÕES DE AVIVAMENTO  – Os presbiterianos convocaram uma convenção de três dias de pastores presbiterianos dos sínodos de Pittsburgh, Allegheny, Wheeling e Ohio. As reuniões foram realizadas em Pittsburgh de 1 a 3 de dezembro de 1856, tendo como foco o avivamento, examinando a necessidade de renovação, vencendo empecilhos e encorajando os pastores. Duzentos ministros e muitos leigos participaram da convenção, e grande parte do tempo foi dedicado à oração. Esses pastores voltaram para suas igrejas e passaram a pregar o avivamento no primeiro domingo de janeiro de 1857. A quinta-feira seguinte foi declarada como dia de humilhação, jejum e oração. Pouco tempo depois, outra convenção sobre avivamento foi realizada em Cincinnati, com atividades e resultados similares.

JEREMIAH LAMPHIER ACENDE A CHAMA Em 1o de julho de 1857, um empresário nova-iorquino de 46 anos de idade, quieto e zeloso, foi designado como missionário para o centro da cidade de Nova Iorque, na igreja holandesa. Jeremiah Lamphier tinha se convertido em 1842 no tabernáculo Broadway, a igreja de Finney construída em 1836.

Lamphier sentia-se chamado por Deus a iniciar uma reunião de oração semanal para empresários que quisessem se reunir ao meio-dia para orar. Qualquer pessoa podia parti- cipar por alguns minutos ou por uma hora inteira. As orações deveriam ser comparativamente breves. O grupo de Lamphier reunia-se no terceiro andar da Igreja Reformada Holandesa do Norte, na rua Fulton, em Nova Iorque. Lamphier imprimiu alguns folhetos anunciando as reuniões de oração, intitulados “Com que frequência devo orar?”. Ele deixou-os em escritórios e armazéns. Também colocou um na porta da igreja da rua ao lado.

No primeiro dia, 23 de setembro de 1857, Lamphier orou sozinho durante meia hora. Mas, chegando ao fim daquela hora, seis homens, vindo de pelo menos quatro denominações, juntaram-se a ele. Na quarta-feira seguinte, havia vinte pessoas. Em 7 de outubro, eram quase quarenta. A reunião foi tão abençoada que decidiram se reunir diariamente. Uma semana depois, havia mais de cem pessoas presentes, incluindo muitos ainda não salvos que, pelo Espírito Santo, estavam convictos dos seus pecados.

Dentro de um mês, os pastores que participaram da reunião de oração da rua Fulton ao meio-dia iniciaram reuniões de oração pela manhã em suas igrejas. Logo os lugares onde as reuniões eram realizadas estavam demasiadamente cheios. Homens e mulheres, jovens e idosos, de todas as denominações, reuniam-se indistintamente e oravam juntos. Era abundante o amor por Cristo nessas reuniões, amor pelos irmãos cristãos, amor pela oração e pelo testemunho. Os frequentadores sentiam a maravilhosa presença de Deus em seu meio. Oravam por pessoas específicas, esperavam respostas, e as obtinham.

Os Estados Unidos tinham entrado em novo período de fé e oração. Pessoas cultas e incultas, ricas e pobres, líderes empreendedores e operários comuns — todos oraram, creram e receberam respostas às orações. Até mesmo o presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, participava de muitas das reuniões de oração do meio-dia. Este não era um avivamento de poderosa pregação. Era um movimento sincero e poderoso de oração persistente.

EM CASAS, LOJAS, CAMPOS E IGREJAS – Chegavam relatos de centenas que se convertiam nas reuniões de oração em lares, oficinas e nos campos. Frequentemente, as portas dos locais de comércio ostentavam placas: “Fechado. Voltaremos após a reunião de oração”. Diariamente havia cinco reuniões de oração em Washington, D.C. 

3-CONVICÇÃO DE PECADO – QUEBRANTAMENTO (v. 9, 9.1ss).

 O resultado da oração antecipatória, da leitura da lei divina e da explicação dela consistiu em avivamento. A primeira evidência da ocorrência iminente do avivamento era a tristeza pelo pecado. O pesar era intenso, embora a história não se detenha nisso. Diz apenas que “todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei”, sem dúvida por ser condenado por ela. O pesar deve ter sido intenso pois Neemias, Esdras e os levitas que instruíam o povo tiveram de interromper a leitura e a exposição da lei para lidar com isso, instando o povo a se alegrar. “Este dia é consagrado ao SENHOR (V.9).

Quando o avivamento atinge um povo, a primeira evidência é uma profunda consciência do pecado e tristeza por causa dele. Isso aconteceu com os grandes avivamentos galeses do século XIX e os avivamentos sob os irmãos Wesley no século anterior àquele. Era o caso da Reforma e do primeiro avivamento registrado na história, o avivamento em Nínive, em resposta à pregação do profeta Jonas.

Quando o avivamento chegou àquela cidade, o povo declarou jejum e se vestiu com panos de saco, sinal de luto. Até o rei participou. Então o rei emitiu o decreto que dizia: “Nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem os levem ao pasto, nem bebam água; mas sejam cobertos de pano de saco, tanto os homens como os animais, e clamarão fortemente a Deus; e se converterão, cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos. Quem sabe se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?” (Jn 3.7-9).

A primeira evidência do verdadeiro movimento do Espírito Santo é a consciência desperta, levando à genuína tristeza pelo pecado no povo de Deus. Só depois disso o avivamento chega.

A tristeza do povo pelo pecado, resultante da leitura e do ensino da lei divina, foi observada no capítulo anterior, mas aqui ela foi deixada de lado ou contida por Neemias e os levitas. Quando Esdras leu a lei de Moisés, o povo deve ter reconhecido o quão longe estava dos seus padrões e quão culpado era aos olhos do Deus todo-poderoso. Isso afetou as pessoas até o ponto de chorarem: “Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei” (Ne 8.9). O dia tinha sido planejado para louvor e ação de graças, por isso Neemias repreendeu as lágrimas e mandou o povo embora “a comer, a beber, a enviar porções e a regozijar-se grandemente” (v. 12). Apenas depois disso — de fato, depois da celebração da Festa dos Tabernáculos, no décimo quinto ao vigésimo segundo dia do sétimo mês — ocorreu o dia especial de arrependimento e confissão de pecados descrito em Neemias 9.

CONFISSÃO E ARREPENDIMENTO GENUÍNO – Os primeiros três versículos do capítulo 9 nos contam o que aconteceu: No dia vinte e quatro deste mês, se ajuntaram os filhos de Israel com jejum e pano de saco e traziam terra sobre si. Os da linhagem de Israel se apartaram de todos os estranhos, puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados e das iniquidades de seus pais. Levantando-se no seu lugar, leram no Livro da Lei do SENHOR.

O QUEBRANTAMENTO DO POVO 9.1-5

Neemias, falando sobre o quebrantamento espiritual do povo que voltou do cativeiro, toca em cinco pontos importantes:

 Em primeiro lugar, o quebrantamento passa pela contrição diante de Deus (9.1). O povo caminhou da festa (8.13-18) para o jejum (9.1-3). O povo reconheceu o seu pecado. Reavivamento começa com choro, humilhação e quebrantamento diante de Deus (2Cr 7.14). Não podemos adorar o Rei da glória antes de contemplarmos a triste realidade do nosso pecado.

Em segundo lugar, o quebrantamento passa por uma separação de tudo o que Deus condena (9.2). Quebrantamento envolve obediência. O povo toma a decisão de deixar todos aqueles que não eram da linhagem de Israel para se consagrar ao Senhor. O problema aqui não é racial, mas teológico (10.28). Unir-se aos outros povos era transigir com a fé, era aceitar o sincretismo, era uma espécie de ecumenismo.

Em terceiro lugar, o quebrantamento passa pela confissão de pecado (9.2). Quando somos iluminados pela verdade, deixamos de nos justificar e, então, reconhecemos nossos pecados e os pecados dos nossos pais. Confissão é o maior sinal do arrependimento (Pv 28.13).

Em quarto lugar, o quebrantamento é produzido pela leitura da Palavra de Deus (9.3). Quando a Palavra de Deus é lida, explicada e aplicada, então, os corações se derretem (8.8-10).

Em quinto lugar, só um povo que se levanta do quebrantamento pode exaltar a Deus de modo digno (9.4,5). Só os que choram pelos seus pecados podem se alegrar em Deus. Só os que se humilham diante de Deus podem ser restaurados por Ele.

Vemos a glória de Deus quando molhamos os nossos olhos nas lágrimas do arrependimento. Os levitas têm uma visão gloriosa da transcendente majestade de Deus (9.5b).  A teologia alcança suas alturas mais culminantes nas orações do povo de Deus. A mais profunda teologia de Paulo está nas suas orações. Esdras 9, Neemias 9 e Daniel 9 são exemplos de gloriosos lampejos da teologia através da oração.

Convicção de pecado

As conversões cruzavam os limites da sociedade. Homens cultos, ricos comerciantes, senhores e senhoras da nobreza choravam sob a mesma convicção de pecado que afetava as pessoas.

O avivamento de Belfast foi tremendamente usado pelo Senhor. A prostituição como estilo de vida começou a desaparecer à medida que as prostitutas eram salvas. Diminuíram os casos de litígio e aumentaram os depósitos nos bancos. As manifestações políticas cessaram temporariamente. Os empregados de uma gráfica foram de tal modo convencidos e impelidos à oração que a empresa teve de fechar temporariamente as portas. Várias fábricas fecharam as portas por algum tempo porque os empregados, convencidos dos seus peca- dos, não conseguiam trabalhar e então buscavam a misericórdia de Deus.

Você sente a necessidade de confessar seu pecado a Deus? Nesse caso, é assim que se faz — de maneira completa e direta! A oração dos levitas em Jerusalém nos dias de Neemias é um modelo de confissão. Mostra como encontrar a bênção espiritual de novo.

Vemos a glória de Deus quando molhamos os nossos olhos nas lágrimas do arrependimento. Os levitas têm uma visão gloriosa da transcendente majestade de Deus (9.5b).  A teologia alcança suas alturas mais culminantes nas orações do povo de Deus. A mais profunda teologia de Paulo está nas suas orações. Esdras 9, Neemias 9 e Daniel 9 são exemplos de gloriosos lampejos da teologia através da oração.

Precisamos olhar para o passado e ver as lições da História, pois o mesmo Deus fez, faz e fará maravilhas na vida do Seu povo.

Este texto pode ser dividido em três partes: a bondade de Deus e a ingratidão do povo; a disciplina de Deus e a inconstância do povo; a justiça de Deus e o clamor do povo por misericórdia (Neemias 9.16-37).

Esta oração é resultado da leitura, exposição e aplicação da Palavra de Deus, durante 21 dias. Quem não aprende com a História, está fadado a repetir os seus erros.128 O apóstolo Paulo alerta para esse fato solene: “Estas cousas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado” (ICo 10.11).

O pecado produz escravidão. Onde ele reina, há fraqueza e aflição. Agora, Neemias registra o clamor do povo por misericórdia (9.32-37). Esse clamor é manifesto de várias formas:

Em primeiro lugar, o reconhecimento tardio de quem é Deus (9.32-37). O povo de Israel sabia também que Deus é grande, poderoso, temível, fiel e justo, mas desafiou a Deus, rebelou-se contra Ele, tapou os ouvidos à Sua lei, matou os Seus profetas e no coração desprezou ao Senhor. Eles tinham uma teologia, mas outra prática. Eles professavam uma fé, mas viviam em desacordo com ela.

Em segundo lugar, o reconhecimento que o pecado se estende aos líderes políticos e religiosos (9.34). Na verdade, o pecado começou com esses líderes. Neemias não era defensor de uma ideologia totalitária, nacionalismo doentio ou triunfalismo religioso;130 ao contrário, compreendeu que todos eram culpados do pecado da soberba (9.16), desobediência (9.17), idolatria (9.18), assassinato (9.26) e ingratidão (9.35). Neemias não era um bajulador nem aplaudia os caciques da política quando estes eram corruptos.

Em terceiro lugar, o reconhecimento de uma grande ingratidão (9.35). Nada lhes faltou (9.21), exceto a gratidão (9-35). Deus lhes deu a terra e a fartura, mas eles não serviram a Deus nem se converteram de suas más obras (9.35). Agora  estão nessa mesma terra como escravos, debaixo de grande angústia (9.37). Sempre que o povo recebia as bênçãos de Deus, seu coração se apartava de Deus. Substituia Deus pelas suas bênçãos, o doador pela dádiva.

Em quarto lugar, o reconhecimento de uma servidão assoladora (9.36,37). O pecado trouxe escravidão e esta alcançou: 1) A terra. 2) Seus corpos. 3) Seus bens. 4) O fruto de seu trabalho. Ainda hoje o pecado é o opróbrio das nações. Onde ele medra, resultados nefastos acontecem. O pecado produz servidão, ele coloca o pescoço da sua vítima na forca, seus pés no tronco e sua alma no inferno.

4- MUDANÇA DE VIDA- COMPROMISSO COM DEUS 9.38-10.39

A PRIMEIRA REFORMA REALIZADA por Neemias foi estrutural. Jerusalém passara por uma grande reforma física, econômica e social. Os muros foram reconstruídos e as portas levantadas. Os ricos devolveram as terras e casas que haviam tomado dos pobres e os sacerdotes voltaram a cuidar da Casa de Deus.

A segunda reforma foi espiritual. Tudo começou com a fome pela Palavra de Deus. Estudo da Bíblia e oração produziram confissão, choro pelo pecado, alegria da obediência e acerto de vida com Deus.

As coisas mudaram de forma radical em Jerusalém, sob o governo de Neemias e o pastoreio de Esdras. Tenho-o designado avivamento, pois era um. Avivamento significa voltar à vida espiritual. O povo estivera morto. Agora, revivera, e as mudanças que vieram transformaram a nação e a cultura de modo permanente. Algumas delas duraram mais de 400 anos, até os dias de Jesus e além.

Ah, mas muitas pessoas expressam tristeza pelo pecado e reconheceram sua angústia sem mudar. Por isso o terceiro estágio do avivamento, relatado em Neemias 10, é tão importante. O terceiro estágio consiste no compromisso formal de mudança, expresso por meio de uma aliança. O texto se refere a ela como “uma aliança fiel” (Ne 9.38) em que líderes, levitas e sacerdotes colocaram seus selos, o equivalente à assinatura.

Quatro grupos diferentes de pessoas assinaram o documento.

1-O poder civil(v.1), 2- Os sacerdotes (v 2-8), 3 – Os levitas (9-13) e 4- Os nobres (v. 14-27). Todo o povo (v.28,29).

Mudança por mudança não significa nada, é claro. O que importa é a direção da mudança. Portanto, antes de examinarmos as especificidades da aliança, será útil a análise de suas três características, que indicam para onde as pessoas se viam caminhando.

1. A autoridade da Bíblia. Tudo no compromisso formal do povo é a resposta ao que entendem ser as exigências da lei do AT.

O impressionante da aliança em Neemias 9 é que o povo estava preocupado em colocá-la em prática. Isso mostra que eles foram convertidos de fato e queriam progredir no relacionamento espiritual.

2. A importância do templo. Embora as promessas específicas dos versículos 30-39 abranjam um amplo espectro da vida dos judeus antigos, uma porção surpreendente lida com o templo e a adoração ali: os impostos do templo, as primícias das colheitas e frutos, as ofertas regulares e o dízimo. A construção do templo foi a primeira preocupação dos exilados que retornaram anos antes.

Poderíamos pensar que Neemias, o governante civil, não teria se preocupado com o templo, pois seus esforços foram direcionados à reconstrução dos muros da cidade. Mas agora vemos de forma diferente. Ele também estava comprometido com o templo. Por quê? Por saber que o templo e a adoração a Deus que aconteciam ali uniriam o povo em uma nação autoconsciente e coesa.

3. A responsabilidade do povo. A terceira característica marcante da aliança é o forte senso de responsabilidade do povo. Na aliança, ninguém depende do outro para cumprir sua obrigação. Nada libera alguém das responsabilidades ou atribui tarefas específicas a um grupo e outras tarefas a outro. A palavra dominante é nós, como referência a todo o povo. Eles se comprometeram a cumprir toda a lei de Deus como um povo inteiro.

Vivemos em dias de psiquiatria e psicologia. Milhares de pessoas visitam seus conselheiros semanal ou quinzenalmente. No entanto, uma coisa que sempre me intrigou é por que há tão poucas mudanças na vida dessas pessoas, por que os problemas persistem por tanto tempo e por que a terapia, com frequência, continua por anos. Uma vez perguntei a um amigo psicólogo: — Por que há tão pouca mudança na terapia? Meu amigo respondeu: — Porque as pessoas não querem realmente mudar. As mudanças nunca ocorrem a menos que você as queira.

Passei a pensar nisso e estou convencido de que a situação também se aplica à mudança espiritual. Muitas pessoas “falam”, mas não mostram crescimento na caminhada com Jesus Cristo, pois não querem mudar a forma de viver. Não querem abandonar os pecados ou reordenar as prioridades. Elas sabem que deveriam. Às vezes podem até ser levadas às lágrimas pelos fracassos.

Mas não avançam porque querem fazer apenas o que já têm feito. Se quisermos progredir na vida, deve haver compromisso com algo diferente, maior ou mais grandioso que nós.

O avivamento de Belfast foi tremendamente usado pelo Senhor. A prostituição como estilo de vida começou a desaparecer à medida que as prostitutas eram salvas. Diminuíram os casos de litígio e aumentaram os depósitos nos bancos. As manifestações políticas cessaram temporariamente. Os empregados de uma gráfica foram de tal modo convencidos e impelidos à oração que a empresa teve de fechar temporariamente as portas. Várias fábricas fecharam as portas por algum tempo porque os empregados, convencidos dos seus peca- dos, não conseguiam trabalhar e então buscavam a misericórdia de Deus.

A reforma espiritual alcançou não apenas os líderes mas, a partir deles, todo o povo. Homens, mulheres e crianças assumiram o compromisso de andar com Deus e de obedecer à Sua Palavra. Fica completamente claro que todos, até mesmo as crianças menores que podiam compreender (8.12; 10.28), participaram desse juramento.

Jonathan Edwards registrou em seu livro, The Religious Affections, que aos vinte anos de idade assumiu um compromisso com Deus, por escrito, de que viveria para a Sua glória. Ele foi um dos homens que mais influenciaram a história do cristianismo. Fato semelhante pode ser visto na vida de David Brainerd, o missionário que evangelizou os índios peles vermelhas nas selvas americanas. Esse jovem extraodinário fez uma aliança com Deus e, mesmo morrendo aos 29 anos de idade, deixou marcas indeléveis na História, a ponto de João Wesley afirmar que o seu diário era o livro mais importante no mundo depois da Bíblia e que sua leitura era imperativa para alguém interessado em ser um obreiro aprovado.

Os grandes avivamentos surgiram quando o povo entrou em aliança com Deus para O buscar, O conhecer e O obedecer. Vivemos hoje uma espiritualidade centrada no homem e no que podemos receber de Deus. Não é mais o homem quem está a serviço de Deus, mas Deus é quem está a serviço do homem. Não é mais a vontade de Deus que deve ser feita na terra como no céu, mas a vontade do homem que deve ser imperativa no céu. Precisamos voltarmos para Deus por causa de Deus e não apenas por causa de Suas bênçãos. Deus é melhor do que Suas bênçãos, o doador é mais importante do que a dádiva.

Os compromissos da reforma (10.28-39)

Esse é o mais sério documento que nos vem dos antigos tempos, por onde podemos ler as preocupações, quer do povo, quer dos seus líderes, quanto ao futuro da nação renascente. Eles escreveram e selaram. Nesse pacto, eles assumiram sete compromissos com Deus:

Em primeiro lugar, consagração a Deus (10.28). A mistura das raças entre os judeus não seria tanto uma questão de pureza racial, mas de preservação da religião. A mistura de credos levaria ao afrouxamento das relações com Deus. A questão não era o preconceito racial, mas a fidelidade espiritual.

Em segundo lugar, observância da Palavra de Deus (10.29). De suma importância é a própria aliança. Há a decisão de se submeterem à autoridade das Escrituras. Eles sabiam que não podiam esperar bênçãos de Deus sem obediência à Sua Palavra.

Em terceiro lugar, a proibição do casamento misto (10.30). O princípio espiritual tratado aqui é lealdade a Deus. Essas uniões mistas com estrangeiros pagãos era condenada pela lei (Ex 34.12-16), mas era permitida quando o estrangeiro era convertido a Deus. Como já destacamos, Rute, sendo moabita, casou-se com Boaz e tornou-se membro da família genealógica do Messias.

O motivo, portanto, para proibirem o casamento misto não era racial, mas espiritual. A questão não era preconceito racial, mas pureza doutrinária. A mistura de credos levaria ao afrouxamento das relações com Deus.135 Os casamentos mistos foram a porta da apostasia em muitas ocasiões na vida do povo. Muitos casamentos mistos eram feitos também por vantagens financeiras. A ascensão social era uma tentação naqueles dias difíceis e o casamento misto oferecia uma escada atraente.136 Paul Freston afirma que o casamento com vizinhos pagãos no tempo de Neemias, era um meio de subir socialmente.137 Esdras (Ed9.1-3), Neemias (13.23- 29) e Malaquias (Ml 2.10-16) confrontaram esse problema de forma firme depois do cativeiro babilónico.

Em quarto lugar, a observância do dia do Senhor (10.31). O princípio espiritual tratado aqui é acerca do uso do tempo, bem como do perigo da ganância e do vício do trabalho. A quebra do sábado era profanação da religião. Muitos evangélicos atualmente transgridem essa boa norma, comprando e vendendo no domingo, o dia do Senhor, o nosso sábado cristão.1 O sábado é o memorial da criação. O domingo é o memorial da ressurreição. Um dos sinais de todo reavivamento na História é a volta à observância do dia do Senhor. Nesse dia não se deve comprar nem vender. Não se deve negociar nem buscar lucros. Hoje, porém, o comércio está abrindo, aos domingos, os crentes estão buscando no dia do Senhor tanto o trabalho quanto outras atividades afins. Hoje os crentes já não se preparam mais para o dia do Senhor.

Em quinto lugar, a observância do ano sabático (10.31b). O princípio espiritual tratado aqui fala da ansiedade pelo futuro e da confiança em Deus (Êx 23.11; Lv 25.4-7,20- 22; Dt 15.1-11). O ano sabático era o ano de descanso da terra e o ano do jubileu, o ano do perdão das dívidas. O povo precisava compreender que a terra é de Deus. O povo deveria aprender que nós somos apenas mordomos. O propósito de Deus não era apenas de mordomia, mas também de confiança na providência divina, ao mesmo tempo em que protegia o povo da ganância.

Em sexto lugar, a observância das ofertas para a manutenção do culto (10.32-34). O princípio aqui é o uso do dinheiro e a importância do culto público. Eles deviam prover a Casa de Deus de todos os elementos do culto: os pães, os holocaustos, a lenha. Os sacerdotes e os levitas não apenas cobraram do povo, eles também com alegria e sacrifício ofertaram para a manutenção da Casa de Deus.

Em sétimo lugar, a observância dos dízimos (10.35-39). O dízimo é primícia e não sobra (10.35,36). O dízimo precisa ser trazido à Casa de Deus e não administrado pelo ofertante (10.35). O dízimo deveria ser recebido pelos levitas (10.37), pois cabia a eles a administração dos dízimos (10.39). O dízimo precisa ser administrado com transparência (10.38). Os levitas precisavam ser também dizimistas (10.38). Reter o dízimo é desamparar a Casa de Deus (10.39). Antes do exílio, o Templo, mui frequentemente, fora um mero talismã, e seus cultos bem-frequentados, um calmante para a consciência (Jr 7.4). Agora a tentação era inversa: ressentir-se do esforço e da despesa daquilo tudo.

Que “aliança fiel” a igreja evangélica deveria assumir com Deus hoje? Quais as implicações de uma aliança com Deus? O conhecimento da Palavra deve nos levar a um compromisso de aliança com Deus e a uma reforma espiritual.

Esta pode ser liderada por poucos, mas deve ter a participação de todos. Os nossos compromissos com Deus não devem ser apenas gerais, mas também, e sobretudo, em áreas específicas como santificação, casamento, dia do Senhor, contribuição e adoração.

Autor: Pr. Eli Vieira

Ref. Bibliográfica:

1- Duewel, Wesley L. Fogo do avivamento : o avivamento de Deus através da História e sua aplicação para Hoje, São Paulo : Hagnos, 2015.

2-Montgomey Boice, James – Neemias Comentário Expositivo – Brasilília-DF: Monergismo, 2020

3-Lopes, Hernandes Dias Neemias: O líder que restaurou uma nação  – São Paulo, SP: Hagnos 2006.

4-J. Barber, Cyril, Neemias e a Dinâmica da Liderança Eficaz,  São Paulo, SP: Vida, 1982

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Pastor Eli Vieira é casado com Maria Goretti e pai de Eli Neto. Responsável pelo site Agreste Presbiteriano, Bacharel em Teologia, Pós-Graduado em Missiologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, Recife-PE e cursando Psicologia na UNINASSAU. Exerce o seu ministério pastoral na Igreja Presbiteriana do Brasil desde o ano 1997 ajudando as pessoas a encontrarem esperança e salvação por meio de Jesus Cristo. Desde a sua infância serve ao Senhor, sendo educado por seus pais aos pés do Senhor Jesus que me libertou e salvou para sua honra e glória.

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