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Foi o cristianismo, e não o feminismo, que melhorou a vida da mulher
“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade“. Essa frase, comumente atribuída ao ministro de propaganda nazista Joseph Goebbles, retrata bem a essência do movimento feminista, principalmente os da década de 60 em diante.
O movimento feminista se tornou uma arma revolucionária para desconstrução de padrões “conservadores e retrógrados”. Principalmente devido a sua matriz antirreligiosa assumida no último século, as feministas se levantam em uníssono na afirmação de que o cristianismo é uma religião patriarcal e opressora, que nunca fez nada pela condição da mulher na sociedade, e que somente graças ao feminismo, a mulher vem ganhando espaço.
Colocar a mulher como vítima das circunstâncias, da sociedade, do homem, é o que o feminismo vem fazendo há anos. Como se somente as mulheres tivessem enfrentado dificuldades ao longo dos séculos nesse mundo pecaminoso. Mas isso não passa de uma grande jogada para criar um sentimento de gratidão das mulheres em relação às feministas, gerando assim uma espécie de dependência. Quando na verdade, a história foi exatamente ao contrário, como explica o historiador Martin Van Creveld: “Para cada homem que teve de enfrentar adversidades, houve e há uma mulher que não passou por elas ou só o fez num grau menor”. [1]
A questão a ser tratada aqui é demonstrar que na verdade foi a ascensão do cristianismo, pautado nos ensinos de Cristo, que impulsionou a elevação moral e espiritual de toda a sociedade ocidental, criando um ambiente muito melhor para homens e mulheres, mas principalmente para as mulheres.
Na Palestina do século I, o historiador judeu Flávio Josefo nos mostra que o testemunho das mulheres não era bem aceito pela sociedade. “Não deixe o testemunho de mulheres ser aceito.” [2] O mesmo acontecia em Roma. No que diz respeito à mulher, o essencial deste direito foi brilhantemente exposto pelo jurista Robert Villers: “Sem exagero nem paradoxo, a mulher em Roma não era sujeito de direito […]. A sua condição pessoal, as relações com os parentes ou o marido são da competência da domus, onde o pai, o sogro ou o marido são os chefes todo-poderosos[…]. A mulher é unicamente um objeto.“[3]
De testemunhas inválidas a sujeição completa ao ‘Pater Familias’, a vida das mulheres só começou a melhorar após o grande ponto de virada da história. Não somente as mulheres foram as primeiras a descobrir o túmulo vazio após a ressurreição de Cristo, mas elas são mencionadas nos quatro evangelhos como testemunhas oculares do fato mais importante da história do cristianismo, e do mundo, sendo essenciais na propagação da notícia.
Essas mulheres faziam parte do ministério de Jesus. Em Lucas 8, além dos 12 apóstolos também são relatadas que “mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades” o seguiam, tais como Maria Madalena, Joana e Suzana, “e muitas outras que o serviam com seus bens.” Enquanto os fariseus mantinham as mulheres afastadas do seu núcleo, Jesus recebeu delas profunda adoração.
Entender como Jesus tratava as mulheres nos ajuda a entender o porquê delas terem sido tão numerosas no cristianismo primitivo. O evangelho trazia a salvação tão aguardada, não somente aos homens, ricos ou nobres, mas também às mulheres, pobres e miseráveis, pois como a Escritura ensina, “Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” [4] Todos nós estamos debaixo do jugo do pecado, não importando sexo ou classe social. O evangelho trouxe a mensagem da salvação a todos, não fazendo distinções.
A rápida disseminação do evangelho ocorreu especialmente no meio feminino.
Vemos nos capítulos finais da epístola de Paulo aos Romanos, escrita na década de 50 d.C., que Paulo saúda pelo menos 15 mulheres que tinham posição de liderança na congregação romana. E muito mais mulheres participavam das congregações cristãs e eram peças chave em seu desenvolvimento, como Lídia, Maria (mãe de Marcos), Priscila e tantas outras. Estes não são casos isolados. Em 117 d.C., o governador romano da Bitínia, Plíno – o jovem, escreve uma carta ao imperador Trajano, dizendo que havia prendido duas mulheres cristãs que eram “chamadas de diaconisas”.[5]
Conhecendo tais fatos, o grande historiador de Cambridge, Henry Chadwick afirma: “O cristianismo foi especialmente bem-sucedido entre as mulheres. Foi através das esposas que o cristianismo penetrou nas classes mais altas no primeiro momento.”[6]
Buscando explicar essa atração das mulheres a nova religião cristã, o sociólogo americano Rodney Stark afirma: “As mulheres eram especialmente atraídas pelo cristianismo porque este ofereceu-lhes uma vida muito superior à vida que de outra forma teriam levado. […] Em nenhum grupo da antiguidade havia mulheres iguais a homens, mas havia diferenças substanciais no grau de desigualdade experimentado por mulheres no mundo greco-romano. As mulheres nas comunidades cristãs primitivas eram consideravelmente melhores do que as pagãs.”[7]
A vinda de Cristo foi o ponto de virada na história do mundo em diversos aspectos. Desde a salvação das almas através do seu sacrifício, o que já seria mais do que suficiente para a humanidade, mas também teve imenso impacto causado pela sua mensagem no âmbito sociocultural. Das universidades à arte, da literatura à ciência, dos direitos humanos à arquitetura, tudo foi influenciado pelo cristianismo.
O cristianismo desempenhou um papel crucial na extinção de práticas como o sacrifício humano, a escravidão, o infanticídio e a poligamia. Ele, em geral, afetou o estatuto das mulheres, condenando o infanticídio, o divórcio, incesto, infidelidade, poligamia e aborto. Todos esses pontos foram cruciais para a elevação da condição da mulher na sociedade, trazendo mais segurança e dignidade a elas.
A situação superior da mulher cristã em relação as suas semelhantes pagãs começava no nascimento. O abandono de bebês indesejados era uma prática comum no império romano, e bebês do sexo feminino eram mais rejeitados do que do sexo masculino. Um estudo baseado em inscrições funerárias foi capaz de reconstruir 600 famílias romanas, e descobriu que apenas 6 delas tinham criado mais de uma filha.[8]
Para um cristão, o abandono de bebês era um ato abominável. O apologista cristão do século II, Justino Mártir, expõe que: “Nós, por outro lado, a fim de não cometer pecado ou impiedade, professamos a doutrina de que expor os recém-nascidos é obra de perversos.” [9]
Citando ainda um outro relato cristão do século II, condenando não somente o infanticídio, mas também o aborto: “Eu vejo seus bebês recém-nascidos expostos por vocês aos animais selvagens e as aves de rapina, ou sendo cruelmente estrangulados até a morte. Há também mulheres entre vocês que, por tomarem certas drogas, destroem os inícios do futuro do ser humano enquanto este ainda está no útero, e são culpadas de infanticídio antes de serem mães. Essas práticas certamente foram dadas a vocês pelos seus deuses.” [10]
O cristianismo foi a única voz a se levantar contra tais práticas. Toda forma de infanticídio foi condenada (o aborto entre elas), o que favoreceu mais nascimentos, principalmente de bebês do sexo feminino. Ou seja, o cristianismo proporcionou que mais mulheres nascessem, aumentando consideravelmente a população feminina.
O cuidado com as viúvas.
Outro exemplo de preservação da vida da mulher é a condição da mulher viúva, que após a morte do cônjuge, enfrentava além das dificuldades financeiras e jurídicas, o desprezo social. Em países como a Índia, era muito comum a prática budista do ‘Sati’, onde a viúva era morta logo após o marido. Na antiguidade greco-romana não era tão diferente. “A viúva é considerada o ser sacrificado por excelência; na antiguidade clássica, só algumas viúvas ricas escapam ao desalento que é a sorte normal daquela que perdeu o seu marido.” [11]
Enquanto em umas culturas as viúvas são desprezadas e mortas, no cristianismo elas são as primeiras a receberam cuidados da comunidade cristã, visto sua condição de vulnerabilidade. “A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades” [12]
Esse cuidado atravessou os séculos. No século IV, a Igreja começou a patrocinar a fundação de hospitais em larga escala na Europa, de tal modo que quase todas as principais cidades acabaram por ter o seu. Na sua origem, esses hospitais tinham por fim hospedar estrangeiros, mas depois passaram a cuidar dos doentes, viúvas, órfãos e pobres em geral.[13].
O matrimônio.
A vantagem da mulher cristã também ocorre em relação ao matrimônio. Essa instituição considerada “falida” pela modernidade, foi a responsável por garantir a segurança da mulher e de seus filhos. Santificar o matrimônio e proibir o divórcio deu muito mais segurança a mulher e foi fundamental para manutenção da família. Pois isso impedia, como em muitas culturas, que o marido a abandonasse por qualquer motivo.
O próprio historiador Edward Gibbon, que culpava o cristianismo pela queda do Império Romano, foi obrigado a admitir; “Os cristãos restauraram a dignidade do matrimônio. ”[14]
A lei canônica da Igreja sobre o matrimônio considerou que para a validade de um casamento, era necessário o livre consentimento tanto do homem como da mulher, e que o ato poderia ser anulado se tivesse sido celebrado sob coação ou se uma das partes estivesse em erro a respeito da identidade ou de alguma condição importante da outra pessoa. Não apenas o cristianismo trouxe princípio legais para evitar a coação matrimonial, mas também para pôr fim a práticas bárbaras, como o casamento infantil. [15]
Para a Igreja, o adultério não se limitava à infidelidade da esposa, como se costumava considerar no mundo antigo, mas estendia-se também à infidelidade do marido. A influência que ela exerceu neste domínio foi de grande importância histórica. Como o historiador de Oxford Henry Chadwick explica; ” os cristãos consideravam a infidelidade do marido não menos séria que a quebra da fidelidade da mulher.” [16]
Isso ecoava por toda a idade média, os bispos do período carolíngio do século IX, regulamentaram o casamento tendo “a mulher reconhecida como pessoa com pleno direito familiar e em pé de igualdade com o marido e a violência sexual denunciada como crime grave e do âmbito da justiça pública.” [17]
Após a visão cristã permear a sociedade e causar grandes mudanças sociais, elevando a condição humana de modo geral, a vida da mulher na sociedade passou a ser muito melhor do que em outros tempos ou culturas. O ideal de igualdade como seres criados à imagem e semelhança de Deus dissolveu as barreiras em diversos aspectos.
A mulher na sociedade.
Com o avançar dos anos, após tremendos avanços no campo do matrimônio, família e com o aumento da perspectiva de não ser morta ao nascer, as mulheres cada vez mais exerceram seu papel na sociedade e passaram a formar comunidades religiosas dotadas de governo próprio, algo inusitado em qualquer cultura do mundo antigo. Elas dirigiam as próprias escolas, conventos, orfanatos e hospitais. Além de terem sido rainhas, princesas, abadessas, cientistas, escritoras e diversas outras coisas. Tudo isso apenas com a transformação social causada pelo evangelho de Cristo.
Podemos citar Fabíola, que fundou o primeiro hospital público em Roma no século IV para cuidar dos pobres e necessitados. [18] Ou Santa Teresa D’Avila, que reformou a Ordem religiosas das Carmelitas Descalças, fundando 32 mosteiros pela Europa em pleno século XVI, sendo uma das pessoas mais admiradas de seu tempo. [19]
Segundo a historiadora francesa Regine Pernoud, os registros da cidade de Paris do século XIII deixam claro: “mulheres não ficavam somente em casa ou nos conventos como nos séculos seguintes. Havia professoras, médicas, boticárias, tintureiras, copistas, miniaturistas, encanadoras, arquitetas, e também abadessas e rainhas”
As mulheres tinham papel ativo na sociedade, cada qual a sua maneira, e de acordo com o contexto de sua época e status social. Um bom exemplo disso foi papel fundamental de rainhas e princesas na propagação do evangelho.
Na Espanha, na Itália, na Gália e na Inglaterra, foi necessário que uma rainha fosse a precursora do cristianismo. No século V, Clodilte, a rainha dos francos, através da sua influência teve seu marido Clóvis I batizado, tornando a Gália (futura França), o primeiro reino cristão da história. E Teodolinda no século VI, que casada com o ariano Agilulfo, batiza e cria seus filhos na fé católica, sendo muito importante para o prolongamento da fé no Norte da Itália.
Poderíamos ainda mencionar Teodósia da Espanha, Berta da Inglaterra, Santa Odília, da Alsácia, ou ainda Santa Batilde, jovem vendida como escrava que depois se tornou regente dos reinos dos francos no século VI, sendo de extrema importância na abolição da escravatura no seu tempo.
A historiadora Regine Pernoud conclui: “É extraordinário verificar o papel ativo que as mulheres tiveram no domínio da evangelização, numa época em que o Ocidente hesita entre paganismo, arianismo e a fé cristã.” [20]
As mulheres e as letras.
Poderíamos ainda para citar algumas mulheres que foram pelo caminho das letras.
Faltonia foi uma famosa poetisa cristã do século IV, tendo sido incluída por Giovanni Boccaccio como uma das mulheres mais influentes da Idade Média. [21] Ou Hildegarda de Bingen (1098-1179), famosa por suas experiências místicas, foi também médica e grande escritora, tendo sido uma mulher ativa e influente em seu tempo. [22]
Poderíamos ainda citar Clara de Assis (1193-1253), irmã do famoso santo Francisco de Assis, Juliana de Norwich (1342-1430), Catarina de Sena (1347-1380), Teresa de Lisieux (1873-1897) e muitas outras mulheres que escreveram livros, cartas, tratados e que foram (e ainda são) muito admiradas por homens e mulheres pelo seu grande talento intelectual e piedade.
E agora a pergunta que não quer calar: Onde estava o movimento feminista nisso tudo?
Em que elas contribuíram para a mudança que acabamos de ver?
Os retrocessos em relação a todas as conquistas femininas começaram a ocorrer no período do renascimento. Um movimento intelectual do século XV-XVI, que buscava o retorno aos ideais pagãos como uma forma de se desligar da religião cristã e secularizar a sociedade. Nessa busca por suprimir a mentalidade cristã e retirar Deus da esfera pública, foi a época em que as coisas começaram a piorar. O direito romano que restringia a liberdade da mulher retornou, a escravidão, que já havia sido abolida séculos antes na Europa também ressurge. O voto, que era garantido a mulheres nas comunas medievais, só será recuperado no século XX. [23] E diversas outras particularidades, como a obrigatoriedade do uso do nome do marido pela mulher, também tem início nessa época.
Não foi necessário nenhum movimento feminista para que a mulher recuperasse seu valor e dignidade na sociedade.
O feminismo nada mais é do que uma imersão num movimento de massa, que busca dissolver a identidade da mulher, dando-lhe uma postura revolucionária e um senso de pertencimento e dívida ao movimento. Ao se colocar como “salvador”, é necessário que a mulher esteja sempre na posição de vítima. O movimento tenta substituir o papel de Deus, buscando consertar toda forma de injustiça – que é fruto do pecado – com as próprias mãos. Crendo que, no lugar de Deus, teria criado um mundo melhor, mais justo e igualitário.
O evangelho
A verdadeira conquista para a mulher foi o evangelho de Cristo. Não adianta lutar por justiça e igualdade sem que esses conceitos possuam fundamento sólido. O evangelho trouxe verdadeira mudança no coração e da mente das pessoas, e isso se refletiu nas interações socioculturais, proporcionando a formação de uma sociedade melhor para todos. As coisas nunca serão perfeitas, somente o reino dos céus teremos a perfeição, mas com a visão correta sobre as coisas do mundo, podemos viver consideravelmente melhor.
Que as mulheres entendam que elas não precisam do feminismo, mas sim de Cristo. A sociedade será transformada à medida em que mais parecidas com Cristo forem as suas criaturas: homem e mulher. Somente o evangelho tem o verdadeiro poder da transformação, pois ele toca no profundo da alma humana, transformando pecadores impenitentes, em pessoas redimidas e humildes. O evangelho de Cristo fez mais por mulheres e homens do que qualquer ideologia jamais pregada. O evangelho de Cristo é nossa única esperança concreta de redenção e salvação nesse mundo.
Autor: Ramon Serrano
Fonte: O CAMINHO –Apologética para a glória de Deus!
Referências Bibliográficas:
[1] CREVELD, Martin Van, Sexo Privilegiado p.444
[2] JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas 4.8.15
[3] PERNOUD, Regine. A mulher no tempo das catedrais p.15
[4] Epístola aos Gálatas 3:28
[5] The Letters of the Younger Pliny 10.96
[6] CHADWICK, Henry. The Early Church, 1967
[7] STARK, Rodney The Triumph of christianity p.41
[8] LINDSAY, Jack. 1968. The Ancient World: Manners and Morals
[9] Justino Mártir. I Apologia p.26
[10] Minucius Felix, ‘The Octavius’ of Minucius Felix p.83
[11] PERNOUD, Regine. A mulher no tempo das catedrais p.21
[12] Epístola de Tiago 1:27
[13] WOODS, Thomas. Como a Igreja católica construiu a civilização ocidental p.168
[14] Apud WOODS, Thomas. Como a Igreja católica construiu a civilização ocidental p.202
[15] WOODS, Thomas. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental, p.182
[16] CHADWICK, Henry. 1967. The Early Church p.59
[17] DA COSTA, Ricardo et al. Visões da Idade Média p.162
[18] WOODS, Thomas. Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental, p.162
[19] MILLER, Rene-Fullop. Os Santos que abalaram o mundo p.365-380
[20] PERNOUD, Regine. A mulher no tempo das catedrais p.13
[21] apud CORTIJO OCAÑA, 2012, p. 206-207
[22] COSTA, Roberto Nunes et al. Mulheres Intelectuais na Idade média p.48
[23] PERNOUD, Régine. O Mito da Idade Média p. 101