A ascensão de Davi ao trono de Israel é uma história dramática, que nos enseja
grandes lições. Ele foi o candidato improvável ao trono de Israel. Filho caçula
de uma família de oito irmãos, não tinha idade para ser percebido como o
escolhido de Deus. Sua carreira solitária nos desertos de Belém, apascentando
rebanhos e defendendo ovelhas dos predadores era todo o seu currículo. Nas
horas de folga tangia sua harpa e compunha poemas inspiradores.
Ele foi o escolhido de Deus para suceder o fracassado rei Saul. Ungido por
Samuel, foi revestido com o poder do Espírito Santo. Por divina providência,
aproximou-se do palácio, tornando-se o músico do rei; mais tarde, escudeiro do
rei; e finalmente, genro do rei. Davi tornou-se um herói nacional ao triunfar
sobre o gigante Golias. Sua fama de vitorioso guerreiro tornou-se notória em
toda a nação. Seu prestígio crescente, porém, perturbou o já atormentado rei
Saul. Na mesma medida que o Espírito Santo dirigia Davi, um espírito maligno
atormentava Saul. Na mesma proporção que Davi crescia aos olhos da nação, Saul
revelava sua fraqueza. Enquanto Davi era um jovem quebrantado e sempre
confiante em Deus, Saul foi rebelde ao Senhor, jamais cumprindo suas ordens.
Sempre que confrontado, Davi reconhecia seus erros; Saul, porém, sempre
colocava a culpa nos outros, sem jamais admitir sinceramente seus pecados.
Uma música entoada pelas mulheres de Israel exaltando Davi dez vezes mais que
Saul não produziu nenhum impacto em Davi, mas arruinou a alma do monarca
inseguro. Doravante, Saul passou a perseguir Davi com rigor desmesurado. Saul
tentou matar Davi, usando o casamento dele com suas filhas. Mais tarde, tentou
matá-lo pelas mãos dos filisteus. Em seguida, sem qualquer disfarce, avançou
contra Davi com seu exército. Matar Davi tornou-se a maior obsessão de Saul. O
jovem belemita precisou fugir para desertos e cavernas, dormindo ao relento,
para escapar do sogro descontrolado. Não que Davi tivesse qualquer culpa ou que
tenha perdido a compostura nessa saga de perseguição. Davi sempre honrou o rei
e mesmo tendo oportunidade de vingar-se, jamais o fez.
A perseguição atroz durou mais de dez anos. Houve momentos em que Davi chegou a
refugiar-se entre os filisteus, os arqui-inimigos de Israel. Enquanto isso,
Saul ia de mal a pior. Perdeu o respeito dos filhos, dos soldados, e por fim,
da nação. Sua vida foi um declínio vertiginoso. Encerrou sua biografia,
buscando uma feiticeira e cometendo suicídio.
Mas por que Deus não colocou Davi no trono logo depois de sua unção? Por que
Davi foi matriculado na escola do quebrantamento antes de chegar ao palácio? A
verdade é que Deus forjou Davi na bigorna do sofrimento para que ele não fosse
um Saul II. O sofrimento não destruiu Davi, acrisolou-o. O sofrimento não foi
um sinal do desfavor de Deus, mas de seu cuidado providente. Davi tornou-se um guerreiro
experimentado, um líder destacado, um homem inspirador. Deus usou o rei Saul
para arrancar o Saul que estava escondido no coração de Davi, a fim de que Davi
não arruinasse o reino.
Deus não tem pressa em preparar seus líderes. O moinho de Deus mói devagar, mas
mói fino. Davi foi provado para ser aprovado. Ele foi aperfeiçoado na dor,
fortalecido no sofrimento e encorajamento nos livramentos. Aprendeu a ser um
estrategista e, também, a orar por causas impossíveis. Viu milagres extraordinários
e sinais do favor de Deus. No tempo oportuno, Deus abriu-lhe o caminho rumo ao
trono, para tornar-se rei de Israel, e o maior deles. Deus ainda continua
preparando homens e mulheres para grandes desafios, forjando-os na bigorna do
sofrimento.
Rev. Hernandes Dias Lopes