Primeira Igreja Presbiteriana do Recife
O início de uma bela história
Estamos nos aproximando do mês de agosto quando completamos 139 anos de fundação e 134 anos de organização. Será que todos nós conhecemos a nossa rica e bela história? Como se deu o início de nossa igreja? É preciso conhecer o passado, saber quem somos, e onde queremos chegar.
No dia 15 de janeiro de 1873 desembarcou no Recife, após 33 dias de viagem, o missionário John Rockwell Smith, vindo dos Estados Unidos. Ele era um jovem de 27 anos cheio de expectativas de pregar a Palavra de Deus numa região praticamente não alcançada pelo evangelho.
John Rockwell Smith nasceu em Lexington, Kentucky, EUA, em 1846. Graduou-se aos 25 anos pelo Union Theological Seminary, em Richmond, Virginia. Ele era um pastor de forte convicção calvinista como os missionários da igreja do sul dos Estados Unidos (PCUS) que trouxeram a semente da Palavra de Deus para ser semeada no Nordeste brasileiro. Seu desejo em pregar a Palavra ficou evidenciado quando ainda no navio que o trouxera, pregou a toda tripulação e passageiros, inclusive a um grupo de náufragos resgatado de um naufrágio a 60 milhas da costa.
No Recife, o Rev. Smith fixou residência na Rua Imperial, 31, no lº andar. Um mês após sua chegada, Smith escreveu uma carta à Missão dando relatório do seu trabalho: “A boa obra continua. Desde minha última carta, descobri um fato interessante. O trabalho aqui já se iniciara. Algumas semanas depois, uma carta do irmão Lane me informou de um colportor da Sociedade Bíblica Britânica nesta cidade […]. É um senhor de idade; seu nome é Manoel José da Silva Viana. É um português que viveu no Rio de Janeiro durante quase 20 anos, e é Diácono, ali, na Igreja do Dr. Kalley. O Sr. Viana visitou esta cidade três vezes. A primeira, em 1869, quando ficou seis meses e não alcançou qualquer resultado. A segunda visita durou nove meses e, nessa ocasião, reuniu de 10 a 20 pessoas à sua volta. Voltou agora, pela terceira vez, chegando aqui em novembro último, e trouxe sua família consigo, pretendendo ficar. Reuniu um pequeno grupo de aproximadamente trinta pessoas…”.
O catolicismo romano, na época, era a religião oficial no país. Não havia ainda separação entre Igreja e Estado, o que só aconteceria após a Proclamação da República, em 1889, e com a Carta Constitucional de 1891. O jovem pastor Smith foi por muitas vezes vaiado, insultado e ameaçado pelos católicos.
Alguns meses após sua chegada, Smith visitou o Presidente da Província no Palácio do Campo das Princesas. Para a entrevista usou um intérprete, pois não sabia falar ainda o português fluentemente. Obteve autorização para pregar o evangelho, mas, em caráter particular, dentro de uma casa residencial e não em templo. Ele poderia ensinar inglês, vender ou distribuir Bíblias e livros religiosos segundo o regulamento do Conselho de Instrução Pública, observando as leis do Império.
Pregou seu primeiro sermão no dia 10 de agosto de 1873, para um auditório de 10 adultos, três crianças, e também o missionário Boyle, que estava de passagem para o sul do país. O local da reunião foi uma casa situada no bairro de Santo Antônio, nas imediações da Rua Nova. Desde então, Smith passou a pregar nas manhãs dos domingos e fazia visitas durante a semana e aprendia português com um jovem professor. Em setembro, Smith passou a pregar também nas quintas-feiras já com um português melhor e mais compreensível. Escreveu uma longa carta à Missão, dizendo: “Pude pregar todas as manhãs de domingo e também me comprometi, […] com outro culto nas noites de quinta-feira. Nestes cultos, leio uma passagem da Escritura e faço alguns comentários […]. Estou lendo a Epístola aos Romanos, agora, com o intuito de chamar a atenção para dois fatos: o do pecado e o da justificação pela fé e pela graça, com suas conseqüências. O número de presentes não tem sido tão bom ultimamente como no início. A freqüência é geralmente 12 ou 13 pessoas, homens na maioria vindos do rebanho do Sr. Viana. A maioria não vem com regularidade. Mas devido ao fato de alguns terem vindo muitas vezes, espero que se tornem ouvintes do Evangelho com disposição; e que sendo visitados em suas casas possam, pela bênção de Deus, ser induzidos a se tornarem freqüentadores do culto. Dr. Kalley, do Rio de Janeiro, esteve na cidade durante o mês que passou. Batizou, no dia 19, 12 pessoas do pequeno rebanho recolhido pelo Sr. Viana.”
O Rev. Smith fez muitos amigos de todas as camadas sociais e pregava em vários pontos da cidade e na Rua do Imperador, 71. As portas ficavam agora abertas. Tornou-se um professor de inglês muito respeitado. Apesar disso, quando estavam reunidos para cultuar, vez e outra, ele e os primeiros convertidos, eram vaiados e insultados pelos católicos. Esses, instigados pelos padres, diziam: “Vamos apedrejá-los!”, vamos jogá-los no rio para irem nadando até o Palácio e se queixarem ao Presidente da Província. Esse americano barbudo precisa aprender a respeitar!”
Em 1878, o Rev. Smith e os 12 primeiros convertidos, animados pelos resultados alcançados, resolveram organizar a Igreja. Para isso, fizeram várias reuniões, discutiram muito e buscaram a orientação do Senhor. Um dos convertidos, Belmiro de Araújo César, que em 1887 viria a ser ordenado pastor, dizia sempre: “A Igreja deve ser organizada imediatamente… Adiante irmãos! Deus nos ajudará!”. Foi assim, que no dia 11 de Agosto de 1878, a exatos 5 anos após o início dos trabalho, o Rev. Rockwell Smith e seus 12 primeiros convertidos reuniram-se, em assembleia, e organizaram a Igreja Presbiteriana de Pernambuco, na Rua do Imperador nº 71, 1º andar.
Naquele importante momento o Rev. Smith declarou: “Meus irmãos, a assembléia aqui reunida acaba de aprovar a fundação, por unanimidade, da IGREJA PRESBITERIANA DE PERNAMBUCO, sob a bênção de Deus, nosso Pai e Criador. Esta data será lembrada através dos anos que virão, pois esta igreja que agora nasce, nesse clima de tensão e de restrições à divulgação da Palavra, tem uma missão a cumprir na história do evangelismo deste país. Olhando para o futuro, vejo que daqui sairão os homens que, pela Graça de Deus, levarão o Evangelho aos confins deste Estado e do País e até a outras partes do mundo! Declaro fundada a IGREJA PRESBITERIANA DE PERNAMBUCO.”
Os membros fundadores presentes àquela assembleia foram os seguintes: Francisco Joaquim Pereira Pinto; Joaquim da Costa Wanderley; José Inácio de Araújo Pereira; Emile Fiaux; Belmiro de Araújo César; João Batista de Lima; Christiano Eugênio Peixoto; José Francisco Primênio da Silva; Amélia Rufino da Silva Pontes; Francisca Alves de Albuquerque; Domerinda Pereira de Araújo e Irinéia Maria dos Prazeres.
Um dos fundadores, Belmiro César tomou a palavra dizendo: “Meus irmãos! Um com Deus é a maioria. E nós somos 13! O Senhor há de nos guiar, de nos proteger, de nos guardar. Proponho que elejamos por aclamação nosso primeiro Pastor, o Rev. JOHN ROCKWELL SMITH, que há cinco anos vem realizando este extraordinário trabalho em nossa cidade”. Eleito o pastor, houve também a eleição de dois presbíteros e dois diáconos. Naquela assembleia também foi aprovado um plano de evangelização com abertura de três pontos de pregação, um na Travessa do Príncipe, outro na Rua Imperial e outro em Areias.
Assim, foi oficializada a instalação da Igreja Presbiteriana de Pernambuco que mais tarde seria chamada de Primeira Igreja Presbiteriana do Recife. Ela foi organizada com o desafio de cumprir uma missão, mesmo em meio às adversidades, provações e perseguições. O trabalho do Rev. Smith frutificou, três daqueles primeiros convertidos se tornaram ministros do evangelho (Belmiro de Araújo César, João Batista de Lima e José Francisco Primênio da Silva). Por não haver seminário na época, todo preparo teológico era dado pelo missionário plantador. O Rev. Rockwell Smith ensinou aos candidatos todas as matérias necessárias à formação teológica e pastoral. Aqueles primeiros ministros se mostraram posteriormente com excelente preparo teológico e em cultura geral.
Os pioneiros enfrentaram muitas perseguições como à movida pelo frade capuchinho Frei Celestino, inclusive através da imprensa. Em resposta a um folheto anônimo difamatório, Rockwell Smith escreveu o folheto “Resposta contra Resposta”. A imprensa escrita se tornou em uma valiosa ferramenta na defesa da fé e na sua propagação. Através dela aconteceu a conversão de Juventino Marinho, em 1895. Ele era um menino de Goiana, que mais tarde veio a ser ordenado pastor em 1889. O Rev. Juventino Marinho se tornou um baluarte na implantação do protestantismo na região.
O Rev. Rockwell Smith permaneceu no Recife até 1892. Durante esse período, ele organizou cinco igrejas no Nordeste, fundou o Jornal “Salvação de Graça”, e organizou o Presbitério de Pernambuco. Casou-se aos 34 anos com uma jovem do Alabama radicada em Santa Bárbara do Oeste, São Paulo. Em 1892, a missão o transferiu para Nova Friburgo-RJ, para dedicar-se à formação de pastores. Dirigiu o Seminário Presbiteriano do Sul, que depois foi transferido para São Paulo e por fim, Campinas. Em sua tarefa de educação teológica, Rockwell Smith, preparou mais de 50 ministros da Palavra. Ele morreu em 1918, em solo brasileiro, terra que Deus preparara para que a semente do evangelho germinasse e produzisse muitos frutos.
São passados todos esses anos desde que o pastor Rockwell Smith iniciou este trabalho (139 anos) e com os doze primeiros membros fundaram esta Igreja e a instalaram na Rua do Imperador, n° 71 (134 anos de organização). Foram anos de lutas pregando o evangelho salvador do Senhor Jesus Cristo. Estamos hoje aqui, pela providência de Deus, porque um dia Ele nos chamou e redimiu, usando os meios que Ele mesmo decretou. O Senhor usou John Rockwell Smith e aquele pequeno grupo de pessoas simples para dizer que Jesus é o único caminho que nos conduz ao Pai.
Que Deus nos conceda a graça de continuarmos essa caminhada expandindo o reino e sendo frutíferos, plantando novas igrejas e fazendo verdadeiros e produtivos discípulos para o nosso amado Senhor. Que Deus derrame sua graça abundantemente sobre a PRIMEIRA IGREJA PRESBITERIANA DO RECIFE para vivermos e propagarmos este evangelho da graça soberana de Deus, provado pelos nossos antepassados. Obrigado Senhor!
Ao Deus soberano, Senhor da história, seja dada toda honra e glória pelos séculos dos séculos!
Rev. Cláudio Henrique Albuquerque
Fonte: Site da Primeira Igreja Presbiteriana do recife
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