Texto:1,2, 7.1-7
Alguns anos atrás, participei de um curso de liderança e desenvolvimento empresarial, na ministração do modulo sobre crescimento e desenvolvimento empresarial o preletor descobriu que eu era pastor e me fez a seguinte pergunta: pastor Eli você quer que a sua igreja cresça? Para sua igreja crescer você não pode falar sobre estes três temas – pecado, morte e inferno. Porque as pessoas não gostam desses assuntos. Então, eu respondi: sendo assim a minha igreja não vai crescer, pois o homem é pecador e ele precisa se arrepender, o salário do pecado é a morte, todos pecaram logo irão morrer e se o homem não crer em Jesus irá para o inferno. Eu não posso deixar de falar desses assuntos pois eles estão na Bíblia.
O profeta Miqueias está nas ruas. Sua mensagem está estampada nos jornais, e suas manchetes se multiplicam nos outdoors, ao longo de nossas avenidas. A atualidade desse profeta é perturbadora. Ele toca nos temas mais polêmicos e denuncia os crimes mais hediondos, que ainda hoje afligem o povo tanto na cidade quanto no campo.
Miqueias não é um profeta da conveniência. Ele ergue a voz e denuncia a arrogância dos poderosos, a truculência dos ricos e a deslavada injustiça dos tribunais; ele também ergue a sua voz para condenar a conveniência vergonhosa dos profetas e sacerdotes que, por ganância, ajudam a sustentar um sistema injusto e opressor.
Os tempos mudaram, mas o homem não. A despeito de toda a nossa prosperidade e avanço científico; a despeito dos direitos internacionais serem promulgados e o respeito à soberania nacional garantida por lei, a desintegração de nossa sociedade avança a passos largos e resolutos.
Há um abismo entre o que as pessoas professam e o que elas praticam. Há uma inconsistência entre sua teologia e sua ética
Nos dias de Miqueias, o crime estava em alta, e os valores morais, em baixa. Essa realidade ainda é a mesma. As famílias estão se desintegrando. Os alicerces da virtude estão entrando em colapso. Os escândalos se multiplicam a partir dos palácios até as choupanas. O próprio povo da aliança está se desviando da verdade e entregando-se a rituais religiosos eivados de misticismo.
A linha divisória entre o certo e o errado está confusa. Nossa sociedade aplaude a ignomínia e faz troça da virtude. Chama luz de trevas, e trevas de luz. Estamos num atoleiro moral. Estamos no epicentro de uma grande confusão. Estamos vivendo a época de uma lógica ilógica, de uma retórica vazia, de ideologias falsas e de uma fé sincrética.
Estamos precisando de novos Miqueias, que saiam às ruas, que ergam sua voz, que emboquem a trombeta nos ‘templos e nos palácios. A voz de Deus precisa ser ouvida nos centros nevrálgicos da economia, nos corredores do comércio e nos bastidores do poder.
O seu tempo
Miqueias profetizou num período de declínio do Reino do Norte e de grandes tensões políticas e religiosas do Reino do Sul. Ele profetizou durante os reinados de Pecaías, Peca e Oseias, em Israel, e de Jotão, Acaz e Ezequias, em Judá (2Rs 15.23-30).
Em primeiro lugar, o contexto político. Miqueias deve ter profetizado num período superior a quarenta anos. Nesse tempo, a Assíria estava se tornando a grande potência mundial.
Em segundo lugar, o contexto econômico. A primeira metade do século 8 foi um período de grande prosperidade material para Israel, sob o governo de Jeroboão II e para Judá, sob o comando de Uzias. A Assíria ficou preocupada nesse período com os seus problemas internos, enquanto Israel e Judá viveram tempos de trégua, sem brigar entre si.
A época de ouro, de prosperidade e paz já fazia parte do passado. Agora, tanto a política interna quanto a externa sobrecarregava o povo com pesados impostos.
George Robinson faz um relato contundente acerca das questões econômicas desse período:
Os príncipes abusaram de seu poder. Os nobres roubavam os pobres. Os juízes aceitavam suborno. Os profetas adularam os ricos, e os sacerdotes ensinavam por soldo. A cobiça da riqueza dominava por todos os lados. Os tiranos opulentos escarneciam da possibilidade de serem apanhados. O materialismo suplantou quase o último vestígio do ético e do espiritual.
Em terceiro lugar, o contexto moral. A corrupção política e econômica, acobertada pelos juízes, sacerdotes e profetas fizeram das cidades redutos de desavergonhados pecados. Os valores morais foram tripudiados. A virtude escarnecida. Os pobres não tinham vez nem voz. Os ricos, embriagados pela ganância, assaltavam os pobres indefesos sem qualquer possibilidade de resistência. Os tribunais foram comprados por suborno. Os profetas calaram sua voz por conveniência. Os sacerdotes venderam sua consciência por dinheiro e prostituíram seu ministério. O descalabro moral atingiu toda a sociedade.
Miqueias clamou contra o pecado de Israel e de Jacó. Os pecados deles passaram por toda a gama de maldades, inclusive a idolatria (1,7a), a prostituição (1.7b), gula e cobiça (2.1,2), perversão da verdadeira doutrina e religião (2.6-9; 6.2-7), falsos profetas (3.5,6), ocultismo (3.7) e presunção (3.9-11).
Em quarto lugar, o contexto religioso. A situação religiosa do Reino do Norte, marcada pela idolatria, foi de mal a pior até que o cálice da ira de Deus se encheu, e a Assíria cercou, invadiu e tomou a cidade de Samaria. Esse reino perdeu sua autonomia política e jamais foi restaurado.
O Reino do Sul, numa alternância entre altos e baixos, não conseguiu realizar uma reforma espiritual profunda, mesmo no tempo áureo do rei Ezequias. O povo era religioso, ia ao templo e fazia suas ofertas, mas sua vida estava separada da fé.
Havia um abismo entre o que eles professavam e o que eles faziam. Havia um profundo conflito entre a teologia e a ética. Essa inconsistência perturbou Miqueias e uma única declaração engloba a ênfase de Amós na justiça (Am 5.24), a preocupação de Oseias por misericórdia (Os 6.6) e a súplica de Isaías por um andar humilde com Deus (Is 2.11; 6.1-8).
Assim, Miqueias ensinou que a verdadeira religião leva a pessoa a uma comunhão íntima com o Senhor, e que, dessa comunhão, emana conduta íntegra para com os membros da raça humana.
A sua mensagem
A mensagem de Miqueias concentra-se nos temas da injustiça social, verdadeira adoração e falsa segurança. J. Sidlow Baxter diz que o livro de Miqueias consiste em três discursos, cada um iniciado pela palavra: “ouvi” (1.2; 3.1;6.1).
Essa é uma divisão de acordo com a forma literária, não com o assunto, ficando assim: 1) declaração de juízo iminente (1—3); 2) promessa de bênção final (4—5); 3) pedido de arrependimento presente (6-7).
O profeta Miqueias pregou três grandes mensagens:
1-MIQUEIAS ERGUEU A VOZ CONTRA O PECADO (1-2) UMA MENSAGEM AMEAÇADORA DE JUÍZO. Charles Feinberg corretamente afirma que se a mensagem de Jonas é o amor de Deus a todas as nações, a de Miqueias é o juízo contra Samaria e Jerusalém. As profecias desse livro destinam-se especialmente às capitais que, como centros urbanos, influenciam toda a nação.
Miqueias ergueu sua voz contra os pecados da cidade de Jerusalém e Samaria, anunciando o julgamento iminente por causa da violência, da injustiça social e de uma religiosidade fingida. Ele denunciou com veemência a opressão dos pobres pelos ricos. Ele desmascarou os profetas da conveniência e mostrou a desfaçatez dos sacerdotes que se vendiam por dinheiro. Ele pôs o dedo na ferida e diagnosticou os males crônicos que adoeciam a nação.
Miqueias de forma contundente mostrou que o pecado atrai o juízo de Deus e os pecadores não ficarão impunes. Jack Miles chegou a dizer que em Miqueias Iavé é revelado mais como “um juiz internacional do que como um monarca”.
Isaltino Filho diagnostica os males que atraíram o justo juízo de Deus:
O livro de Miqueias é o evangelho da justiça social. Ele denuncia a opressão do fraco, o suborno entre os líderes, a expulsão de mulheres dos seus lares, a prática de toda espécie de roubo, grande parte dele em nome da religião (2.1,2,9; 3.2,9-11; 6.7,8,11,12; 7.2-6). Miqueias condena principalmente as classes superiores por sangrarem os pobres e indefesos (3.1-3). Tirar proveito dos pobres significa incorrer na ira do Todo-poderoso (6.11 -16).36
2-ELE PROCLAMOU A VONTADE DE DEUS (6.1-8)
UMA MENSAGEM DE ARREPENDIMENTO. Miqueias não apenas fez o doloroso diagnóstico, ele também ofereceu o remédio. Ele não apenas denunciou o pecado, mas também chamou o povo ao arrependimento.
A saída para a nação não era fazer vista grossa ao pecado nem buscar alianças políticas para se proteger, mas se voltar para Deus em sincero arrependimento.
O verdadeiro problema da igreja não é a presença ou ameaça do inimigo, mas a ausência e o distanciamento de Deus.
O profeta Miqueias chama o povo ao arrependimento, mostrando-lhe que os desajustes sociais, a opressão política e a decadência moral eram resultado de uma religião errada. A nação está socialmente desarrumada porque sua relação com Deus está errada. Os males que assolam a sociedade são consequência do afastamento de Deus.
Isaltino Filho está correto quando ressalta que Miqueias não é um economista nem um sociólogo, mas um profeta, um pregador da Palavra de Deus. Ele analisa a vida do seu povo pela revelação divina. A decadência da religião não era tanto uma questão litúrgica, mas um abandono da ética social.
3 – UMA MENSAGEM DE PROMESSA DE RESTAURAÇÃO. Miqueias não apenas deu o diagnóstico e o remédio, mas também prometeu a cura eficaz.
Denunciar o pecado sem chamar o povo ao arrependimento produz desespero e não esperança. Onde há arrependimento há também restauração. Miqueias não é um profeta pessimista como pensam alguns estudiosos. Ele sempre oferece uma porta de saída, ele sempre anuncia o escape da graça. A misericórdia de Deus prevalece sobre sua ira. A graça de Deus é maior do que nosso pecado.
James Wolfendale diz que na mensagem de Miqueias Deus tempera julgamento com misericórdia. Ele disciplina Sião, mas o Redentor vem para Sião como um homem de Belém da Judeia, e como o Poderoso Conquistador que subjugará seus inimigos e, então, Jerusalém será a igreja-mãe da cristandade. O templo será destruído, mas um edifício mais nobre será erguido em suas ruínas. A lei se cumprirá no evangelho.
Uma afirmação abrangente e resumida expressa o glorioso resultado da presença e obra do Pastor real:yhwh zeh Sãlôrn (este será paz).
O termo paz- expressa inteireza, integridade, perfeita integração; nenhuma parte da vida ou das atividades que a rodeiam será contrária, contraditória ou de qualquer modo oposta ao Rei-Pastor, a seu povo e à sua vontade e plano para ele. Isto significará que todo pecado, toda influência corruptora, todos os poderes destruidores serão removidos. Isto será cumprido pelo Rei-Pastor.
Será útil uma breve relação do que Miquéias proclama a respeito do Governante:
Ele vem como um Governante
É divino
Nasce de mulher em trabalho de parto
Vem da linhagem e cidade de Davi
Ele abre os portões
Ele quebra os laços dos opressores
Ele reúne os filhos do pacto
Restaura-os como o remanescente do povo escolhido
Permanece firme para governar, dirigir e servi-lo
Pastoreia seu rebanho e o faz habitar em segurança
Permanece soberanamente no controle de todas as forças
Exerce autoridade e poder divinos
Faz as demais nações, grandes ou pequenas, dobrarem-se diante dele
Guia-as a seus caminhos, sua obra e sua adoração
Ele é a paz, e traz a paz aos seus, de toda tribo, língua e nação.
Miquéias não introduz nenhum elemento novo do conceito messiânico. Mas ele delineia alguns aspectos mais clara e definidamente do que tinha sido feito antes. Ele traça as linhas de Abraão, Moisés e Davi mais claramente e também as entrelaça. Faz isso quando ele, um filho da vida rural, vê o turbilhão causado pelas nações, pequenas e grandes, em sua própria terra. Miquéias, entretanto, proclama a incomparável grandeza, misericórdia e bondade de Yahwéh (7.18-20), bem como a certeza da pessoa e da obra do Messias por vir”(G. V. Revelação Missianica)
As suas ênfases
O profeta Miqueias é uma fonte de onde jorra muitas verdades importantes. Queremos destacar algumas aqui.
Em primeiro lugar, as cidades são redutos de pecado e opressão.
Em segundo lugar, quando os maus governam, o povo geme.
Em terceiro lugar, o pecado sempre atrai o juízo divino.
Em quarto lugar, a decadência moral é a antessala do desastre político.
Em quinto lugar, a soberania de Deus abrange não apenas o seu povo, mas todas as nações.
Em sexto lugar, a misericórdia de Deus é mais profunda do que o abismo mais profundo do pecado.
Conclusão – O Deus do pacto é fiel à sua aliança. Miqueias coloca no velador a candeia da gloriosa doutrina do pacto. O povo de Judá é disciplinado e não destruído. O povo de Deus recebe perdão e não condenação. E isso porque Deus é fiel à sua aliança feita a Abraão, Moisés e Davi. Ainda que sejamos infiéis, Deus permanece fiel, porque não pode negar a si mesmo. Deus é imutavelmente fiel aos compromissos do pacto. Ele é consistente com sua natureza e é da sua natureza ter prazer na misericórdia e ser rico em perdoar (7-18-20).
Nota de referência
1-Groningen, Gerard Van -Revelação Messiânica no Velho Testamento, Luz Para o Caminho Campinas, SP 1995;
2- Lopes, Hernandes dias – Miqueias: a justiça e a misericórdia de Deus / Hernandes Dias Lopes. São Paulo, SP: Hagnos 2009. (Comentários expositivos Hagnos)
Pr. Eli Vieira