RAYMOND LULL – O MISSIONÁRIO APOLOGETA ENTRE OS SARRACENOS

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Imagine esta cena: dois homens em luta acirrada, até que um deles golpeia fortemente seu adversário, mas este ainda consegue ferir o outro com sua espada! Quem são eles? O que os levou a tão odioso embate?

O homem com a espada é um escravo sarraceno. O outro, o seu senhor. Cansado do “fanatismo” cristão de seu senhor, um dia, aquele escravo amaldiçoa a Cristo. Seu senhor, descontrolado pela ira, o golpeia pela terrível blasfêmia. Embora o escravo o tenha ferido, o senhor sobrevive. O escravo segue à prisão, mas com medo das possíveis torturas que poderiam estar reservadas a ele, tira a própria vida dentro de sua cela. Há ainda um último detalhe inusitado nessa história: o senhor ferido à espada é Raymond Lull, missionário cristão que comprara o escravo sarraceno com o objetivo de que este lhe ensinasse a língua árabe para que, finalmente, pudesse pregar aos muçulmanos.

A história acima teria desanimado qualquer missionário que estivesse se empenhando em levar o Evangelho da salvação e da vida eterna aos povos muçulmanos. Raymond Lull não se intimidou, ao contrário, durante nove anos insistiu no aprendizado da língua árabe, esforçando-se mais ainda em levar vida em vez de morte aos “inimigos da Cristandade”.

Sim, a esta altura, o leitor já suspeita que estamos nos tempos das Cruzadas. Após o rápido avanço dos muçulmanos, que conquistaram cidades importantíssimas, como Damasco (635), Jerusalém (638) e Alexandria (642), vemos a Igreja Católica preparar o contra-ataque e a reconquista do que havia sido perdido. Durante séculos de avanço bélico, feridas ficaram e a imagem do Evangelho foi maculada diante dos povos muçulmanos. Até que em 1219, Francisco de Assis, após duas tentativas fracassadas, consegue pregar ao Sultão do Egito, mas a barreira linguística torna a exposição apenas uma débil empreitada gestual.

O novo espírito, contudo, fora lançado: alcançar os muçulmanos pela pregação do Evangelho e não pelas armas! É nesse contexto que nasce, em 1232, na cidade de Maiorca, numa ilha ao sul da Espanha, Raymond Lull. De família Católico-Romana, família abastada, Raymond se envolve com as Cruzadas e as lutas da cavalaria.

Casado, Lull tem uma vida devassa e promíscua de adultérios. Até que, como ele mesmo narra, enquanto compunha uma música erótica, ele se vê surpreendido por uma visão de Jesus crucificado. Na semana seguinte, Lull retorna à composição profana e, mais uma vez, a visão de Jesus crucificado o assombra a tal ponto que decide entregar sua vida ao serviço do Senhor.

A princípio, havia decidido entrar no mosteiro, mas uma nova visão iria definir o rumo missionário de Lull. Já se dedicando à vida de monastério, vê-se numa floresta e se encontra com um peregrino. Este lhe denuncia sua vida egoísta de reclusão, enquanto, mundo afora, tantos ainda não conhecem o Senhor Jesus.

A partir de então, Lull se dirige aos muçulmanos. Devo confessar que, até antes da pesquisa feita para este artigo, eu conhecia Raymund Lull, o filósofo! Lull escreveu mais de 280 livros! Como filósofo e teólogo, ele tem sido redescoberto, graças às recentes traduções de seus trabalhos. Uma das características que mais me inspiram na vida de Lull é o seu imenso esforço em comunicar o Evangelho.

Ars magna de Lull nasce como um projeto de se criar um sistema de língua filosófica perfeita por meio do qual seria possível converter os infiéis. Ele foi um dos primeiros a escrever livros em língua vernácula, por isso a maior parte de suas obras se encontra em árabe e catalão, além de serem metrificadas em forma de poesia popular.

Ainda que limitado pelo seu tempo e pela influência da escolástica medieval, é notável o esforço de Lull em ir às terras muçulmanas para debater e provar que o Cristianismo era a verdadeira religião. Seu ministério foi marcado pela apologética e pela formação educacional de missionários que pregassem em língua sarracena. Ele também lançou as bases para as futuras escolas em línguas orientais. Não é por acaso que nosso missionário ficou conhecido na história como Raymond Lulle docteur des missions. Contudo, após mais uma defesa do Evangelho em praça pública, na cidade de Bugia, já com mais de 80 anos de idade, Deus lhe reservou o martírio por apedrejamento, em 30 de junho de 1315.

Rev. Fábio Ribas

Fonte: APMT

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