Genebra -Suíça
Valdinei Aparecido Ferreira *, O Estado de S.Paulo
30 de outubro de 2017 | 03h00
Presbiterianos não querem que a igreja cresça a qualquer custo, mas almejam que as pessoas cresçam em bondade e misericórdia.
João Calvino (1509-1564) era ainda criança quando Martinho Lutero (1483-1546) afixou as 95 teses à porta da Catedral de Wittenberg, em 1517. A conversão de Calvino ao protestantismo se deu somente em 1533, quando a Reforma Luterana já avançava para a sua segunda década de existência. Coube a esse francês bastante reservado, em 1536, apresentar a sistematização mais ampla e didática dos insights doutrinários de Martinho Lutero na obra intitulada Instituição da Religião Cristã. Refugiado em Genebra, ao lado de outros refugiados das perseguições movidas pela Igreja Católica Romana, João Calvino deu forma à doutrina e ao modo de organizar a igreja cristã reformada.
As igrejas presbiterianas são descendentes da Reforma da Igreja de Genebra, liderada por João Calvino. Entretanto, foi na Escócia que esse ramo reformado adotou a designação presbiteriana. O nome é proveniente do modo de tomar decisões e governar a igreja. Os membros da igreja elegem, dentre os próprios leigos, pelo voto direto, seus representantes para o Conselho da Igreja. As decisões administrativas, disciplinares e doutrinárias são tomadas por esse conselho de presbíteros. Daí serem chamadas de presbiterianas, ou seja, igrejas que são governadas não por bispos, mas pelos presbíteros. John Knox (1514-1572), um discípulo de João Calvino, foi o principal reformador da igreja na Escócia. Francis Makemie (1658-1708) levou o presbiterianismo para os Estados Unidos quando este ainda era uma colônia inglesa. Aliás, o único clérigo a assinar a Declaração da Independência dos EUA foi o pastor presbiteriano John Whiterspoon.
Em 1859 chegou ao Brasil o missionário presbiteriano Ashbel Green Simonton. A Primeira Igreja Presbiteriana no Brasil foi organizada no Rio de Janeiro, em 1862. Caberia à Alexander Blackford organizar, na cidade de São Paulo, em 1865, a Primeira Igreja Presbiteriana. Os missionários presbiterianos foram recebidos com entusiasmo pela elite intelectual brasileira, quase sempre em conflito com o obscurantismo da Igreja Romana da época.
Afinal, em que creem os presbiterianos? Como vivenciam sua fé? O que significa ser presbiteriano? Ser presbiteriano é pertencer a uma igreja que é uma comunidade. Os presbiterianos não são uma corporação religiosa, igreja composta apenas pelo clero, ou uma empresa religiosa, dirigida por “pastores-proprietários”, para atender as necessidades de consumidores religiosos. Presbiterianos não querem ser “a única igreja verdadeira” sobre a terra. Presbiterianos não querem que a igreja cresça a qualquer custo, mas almejam que as pessoas cresçam em bondade e misericórdia.
Presbiterianos lembram-se a cada dia do que Cristo disse: “…tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso e fostes ver-me” (Mt 25.35-36). Ser presbiteriano implica viver a fé cristã de forma madura e coerente. O presbiteriano não foge das complexidades da vida com respostas prontas. Menos ainda se vale o presbiteriano da infantilização por meio do cultivo do pensamento positivo, chavões e superstições, mascarada sob a designação imprecisa de fé. A fé presbiteriana possui um fundamento – Cristo. Antes e acima de tudo, trata-se de fé em Cristo, o Salvador.
* É pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo e doutor em Sociologia