2 Timóteo 1-4
Introdução
O Rev. Handley Moule confessou ter-lhe sido muito difícil ler a segunda carta de Paulo a Timóteo sem sentir as lágrimas brotarem nos olhos.[1] Isso é compreensível, já que se trata de um documento humano bastante comovedor.
Imaginemos o apóstolo Paulo, já idoso, definhando numa masmorra escura e úmida em Roma, de onde não deverá sair, a não ser para a morte. O seu trabalho apostólico está concluído, tanto que ele pode dizer: “completei a carreira”. Agora, no entanto, compete-lhe tomar providências para que, depois da sua partida, a fé seja transmitida sem se contaminar, genuína, às gerações futuras. Assim ele dá a Timóteo esta soleníssima missão. Cabe-lhe preservar, a qualquer preço, o que recebeu, e transmiti-lo a homens fiéis, que por sua vez sejam também idôneos para ensinar a outros (2:2).
Para bem captar a mensagem da carta e sentir todo o seu impacto, é necessário entender a situação no contexto em que foi escrita. Há quatro pontos a considerar.
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1. Trata-se de uma genuína carta de Paulo a Timóteo
A genuinidade das três epístolas pastorais foi quase que universalmente aceita na igreja primitiva. Alusões a elas possivelmente ocorrem na carta de Clemente de Roma aos coríntios, já no ano 95 d.C; provavelmente também nas cartas de Inácio e Policarpo, nas primeiras décadas do segundo século; e certamente ocorrem nas obras de Irineu, nos fins do século
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Paulo, o escritor da carta, estava preso em Roma
Foi pouco antes de morrer, durante a sua última e mais severa prisão, que Paulo enviou a sua segunda mensagem a Timóteo. Paulo escrevia à sombra de sua execução, que lhe parecia iminente. Além de ser uma comunicação muito pessoal ao seu jovem amigo Timóteo, esta carta foi também o registro de sua última vontade, o seu testamento à Igreja.
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Timóteo, a quem a carta foi endereçada, estava sendo colocado numa posição de responsabilidade, pela liderança cristã, muito além da sua capacidade natural
Por mais de 15 anos, desde que fora recrutado em sua cidade natal (Listra), Timóteo tinha sido o fiel companheiro missionário de Paulo. Viajara com ele durante a maior parte da segunda e da terceira viagem, tendo sido, durante as mesmas, enviado como fiel delegado apostólico a diversas missões especiais, como por exemplo a Tessalônica e a Corinto (1 Ts 3: 1ss; 1 Co 4: 17). Acompanhou Paulo, então, a Jerusalém (Atos 20: 1-5) e possivelmente tenha ido com ele na perigosa viagem a Roma. De qualquer forma, Timóteo certamente se encontrava em Roma durante a primeira prisão de Paulo, já que o apóstolo incluiu o seu nome, junto ao seu próprio, ao escrever da prisão as cartas a Filemom, aos Filipenses e aos Colossenses (Fm 1; Fp 1:1; 2:19-24; Cl 1:1).
Uma grande obra lhe estava sendo confiada e, como Moisés, Jeremias e muitos outros antes e depois dele, Timóteo se sentia muito relutante em aceitá-la. Será que algum leitor destas páginas encontra-se numa situação semelhante? Você é jovem, fraco e tímido, e ainda assim Deus o está chamando à liderança? Esta carta contém uma mensagem especial para todos os tímidos os servos do Senhor.
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Escrevendo a Timóteo, a preocupação de Paulo era com o evangelho, o depósito da verdade que lhe havia sido revelada e confiada por Deus
A carreira de Paulo como obreiro do evangelho estava virtualmente encerrada. Pelo espaço de cerca de 30 anos, ele havia fielmente pregado as boas novas, fundado igrejas, defendido a fé e consolidado a obra. Na verdade, havia “combatido o bom combate, completado a carreira e guardado a fé” (2 Tm 4: 7). Agora aguardava tão-somente a coroa de vitória junto à linha de chegada. Agora era um prisioneiro, logo depois seria um mártir.
Timóteo é lembrado de que agora o precioso evangelho lhe foi confiado, que agora era a sua hora de assumir responsabilidade por ele, de pregá-lo e ensiná-lo, de defendê-lo contra os ataques e contra a falsificação, e de assegurar a sua correta transmissão às gerações vindouras. Em cada capítulo Paulo retorna ao mesmo assunto básico, ou a algum aspecto dele. De fato, podemos resumir a mensagem da carta de Paulo a Timóteo em quatro exortações:
PRIMEIRA EXORTAÇÃO: GUARDA O EVANGELHO!(CAPÍTULO 1)
Antes de abordar o tema principal deste capítulo, que é a exortação a Timóteo para não se envergonhar do evangelho e, sim, guardá-lo com toda a segurança (vs. 8-14), o apóstolo começa esta sua carta com a costumeira saudação pessoal (vs. 1, 2).
Segue-se uma oração de agradecimento (vs. 3, 5) e uma admoestação (vs. 6, 8). No parágrafo inicial deparamo-nos, de um modo muito vivido, com Paulo e Timóteo, o autor da carta e o destinatário, respectivamente.
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Paulo, apóstolo de Cristo Jesus (v. 1)
É assim, então, que Paulo se apresenta. Ele é um apóstolo de Cristo Jesus. O seu apostolado originou-se na vontade de Deus e consolidou-se na proclamação do evangelho de Deus, isto é, na “promessa da vida que está em Cristo Jesus”.
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Timóteo, o filho amado de Paulo (vs. 2-8)
Aqui Paulo chama Timóteo de “amado filho”, e em outra parte “filho amado e fiel no Senhor” (1 Co 4: 17), presumivelmente porque foi o instrumento humano usado para a conversão de Timóteo. A formação familiar, b. A amizade espiritual, c. O dom espiritual e d. A disciplina pessoal
Timóteo não deveria envergonhar-se desse ministério, nem temer exercê-lo.
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O Evangelho de Deus (vs. 9,10)
Examinando com mais cuidado a forma concisa com que Paulo apresenta o evangelho de Deus nestes versículos, constatamos que ele indica a sua essência (o que é o evangelho), a sua origem (de onde provém) e o seu fundamento (onde se baseia).
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Nossa responsabilidade perante o evangelho divino (vs. 11-18)
Paulo dá três respostas a esta pergunta:
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Nossa responsabilidade de comunicar o evangelho (v. 11)
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Nossa responsabilidade de sofrer pelo evangelho (v. 12a)
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Nossa responsabilidade de zelar pelo evangelho (vs. 12b-18)
Timóteo deveria “guardá-lo”. É precisamente o mesmo apelo que Paulo lançou no final da sua primeira carta (6: 20), com a única diferença de que agora ele o chama de “bom”, literalmente “belo” depósito. O verbo (phylassõj tem o sentido de guardar algo “para que não se perca ou se danifique” (AG). É empregado com a idéia de guardar um palácio contra saqueadores, e bens contra ladrões (Lc 11: 21; At 22: 20). Fora há hereges prontos a corromper o evangelho e desta forma roubar da igreja o inestimável tesouro que lhe foi confiado. Cabe a Timóteo colocar-se em guarda.
O apóstolo dá a Timóteo a base segura de que ele necessita. Timóteo não pode pensar em guardar o tesouro do evangelho com força própria; somente poderá fazê-lo “mediante o Espírito Santo que habita em nós (v.14). A mesma verdade é ensinada na segunda parte do versículo 12, que até aqui ainda não consideramos. A maior parte dos cristãos está familiarizada com a tradução “porque sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia”.
Cristo o confiou a Paulo, é verdade, mas o próprio Cristo cuidará do depósito. E agora Paulo o está confiando a Timóteo. E Timóteo pode ter esta mesma segurança.
Aqui há um estímulo muito grande. Em última análise, é Deus mesmo quem preserva o evangelho. Ele se responsabiliza por sua conservação. “Sobre qualquer outro fundamento a obra da pregação não se sustentaria nem por um momento”.[2] Podemos ver a fé evangélica encontrando oposição em toda parte, e a mensagem apostólica sendo ridicularizada. Talvez vejamos uma crescente apostasia crescer na igreja, muitos de nossa geração abandonando a fé de seus pais. Mas não temos nada a temer! Deus nunca permitirá que a luz do evangelho se apague. É verdade que ele o confiou a nós, frágeis e falíveis criaturas. Ele colocou o seu tesouro em frágeis vasos de barro, e nós devemos assumir a nossa parte na guarda e na defesa da verdade. Contudo, mesmo tendo entregue o depósito aos cuidados de nossas mãos, Deus não retirou as suas mãos desse depósito. Ele mesmo é, afinal, o seu melhor vigia; ele saberá preservar a verdade que confiou à Igreja. Isto nós sabemos, porque sabemos em quem depositamos a nossa confiança, e em quem continuamos a confiar.
Vimos que o evangelho é a boa nova da salvação, prometida desde a eternidade, concretizada na História por Cristo, e oferecida à fé.
A nossa primeira responsabilidade reside na comunicação do evangelho, fazendo uso de velhos métodos ou procurando novos caminhos para torná-lo conhecido por todo o mundo.
Se assim procedermos, certamente sofreremos por ele, já que o autêntico evangelho nunca foi popular. Ele humilha muito o pecador.
E ao sermos chamados a sofrer pelo evangelho, somos tentados a adaptá-lo, a eliminar aqueles elementos que ofendem e provocam oposição, a silenciar as notas que ferem os sensíveis ouvidos modernos.
Mas devemos resistir a esta tentação. Pois, antes de tudo, fomos chamados a guardar o evangelho, conservando-o puro, a qualquer preço, preservando-o de toda corrupção.
Guardá-lo fielmente. Difundi-lo ativamente. Sofrer corajosamente por ele. Esta é a nossa tríplice esponsabilidade perante o evangelho de Deus, de acordo com este primeiro capítulo.
Aprendemos, pois, que o homem não é somente o que ele recebe de seus pais, amigos e mestres, mas também o que Deus mesmo faz dele, quando o chama para um ministério especial, dotando-o com recursos espirituais apropriados.
SEGUNDA EXORTAÇÃO: SOFRE PELO EVANGELHO!(CAPÍTULO 2)
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Passando a verdade adiante (vs. 1 e 2)
O primeiro capítulo termina com a pesarosa referência que Paulo fez à generalizada deserção dos cristãos na província romana da Ásia (1: 15). Onesíforo e sua casa talvez tenham sido a única exceção. Agora Paulo insta com Timóteo para que ele se mantenha firme, em meio à debandada geral. Esta é a primeira de uma série de exortações similares na carta, que começam com su oun ou su de, “tu, pois” ou “mas tu”, ordenando que Timóteo resista a várias coisas predominantes naquela época.
É como se Paulo lhe dissesse: “Não te importes com o que outras pessoas possam estar pensando, dizendo ou fazendo. Não te importes com a fraqueza e a timidez que talvez estejas sentindo. Quanto a ti, Timóteo, sê forte!”
No restante deste segundo capítulo de sua carta, Paulo prossegue abordando o ministério do ensino, ao qual Timóteo foi chamado, Como ilustração, Paulo faz uso de seis vividas metáforas. As três primeiras são suas imagens favoritas: o soldado, o atleta, e o lavrador. Em cartas anteriores ele já fizera uso delas, em várias ocasiões, para salientar muitas verdades. Aqui todas elas enfatizam que a obra de Timóteo exigirá vigor, envolvendo tanto labuta quanto sofrimento.
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Metáfora 1: o soldado dedicado (vs. 3,4)
Participa dos meus sofrimentos, como um bom soldado de Cristo Jesus. 4Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou.
A aplicação de tal versículo não é somente restrita a pastores. Cada cristão é, num certo grau, um soldado de Cristo, ainda que seja tímido como Timóteo. Não importando qual seja o nosso temperamento, não podemos evitar o conflito cristão. Se queremos ser bons soldados de Cristo, devemos dedicar-nos à batalha, comprometendo-nos com uma vida de disciplina e de sofrimento, e evitando tudo o que possa nos “envolver” e assim nos desviar do seu propósito.
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Metáfora 2: o atleta sujeito às regras (v.5)
Igualmente o atleta não é coroado, se não lutar segundo as normas.
Agora Paulo desvia os seus olhos da imagem do soldado romano para a do competidor nos jogos gregos. Em nenhuma competição atlética do mundo antigo (assim como hoje também) o competidor dava uma demonstração de força ou de habilidade ao acaso. Cada esporte tinha as suas regras para a competição, e às vezes também para o treino preparatório.
Assim, Timóteo deve confiar o depósito a homens fiéis. Somente se ele, como Paulo, perseverar até a fim, combatendo também o bom combate, completando a carreira e guardando a fé, somente assim poderá ele esperar receber, no último dia, a mais desejável de todas as coroas: “a coroa da justiça” (2Tm4:7-8).
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Metáfora 3: o lavrador diligente (v.6)
O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos.
Tendo o atleta de competir com honestidade, o lavrador, por sua vez, tem de trabalhar arduamente. O sucesso na lavoura só é conseguido com muito trabalho. Isso é verdade particularmente em países em desenvolvimento, antes de se ter as técnicas da mecanização moderna.
A que espécie de colheita se refere o apóstolo? Duas interpretações apresentam maiores evidências bíblicas.
Primeira, a santidade como colheita. Verdadeiramente, a santidade é “fruto (ou colheita) do Espírito”, sendo que o próprio Espírito é o principal agricultor, que produz uma boa safra de qualidades cristãs na vida do cristão. No entanto, nós também temos que fazer a nossa parte. Temos de “andar no Espírito” e “semear no Espírito” (Gl 5: 6; 6: 8), seguindo os seus impulsos e disciplinando-nos, para fazermos a colheita da santidade. Como o Rev. Ryle enfatiza repetidas vezes em seu notável livro Santidade: “não há prêmio sem esforço”. Por exemplo:
“Jamais abandonarei a minha convicção de que não há progresso espiritual sem esforços. Não creio no sucesso de um agricultor que se contenta em apenas semear os seus campos, abandonando-os em seguida até a colheita, assim como não creio ser possível que um crente alcance muita santidade sem ser diligente em sua leitura bíblica, em suas orações e no bom uso dos seus domingos. Nosso Deus é um Deus que se importa com os meios, e nunca abençoará a alma de quem se julga ser tão elevado e espiritual a ponto de achar que pode progredir sem eles”.[3]
A segunda interpretação é que a conquista de conversões é também uma colheita. “A seara na verdade é grande”, disse Jesus referindo-se aos muitos que esperam por ouvir e receber o evangelho (Mt 9: 37; cf. Jo 4: 35; Rm 1:13).
Olhando retrospectivamente para este capítulo, podemos agora compor em nossas mentes o retrato completo do obreiro ou ministro cristão ideal, que Paulo vem pintando com toda essa variedade de palavras e imagens.
Como bons soldados, como atletas fiéis ao regulamento, e como laboriosos agricultores, devemos nos dedicar completamente à obra.
Como obreiros que não têm do que se envergonhar, devemos ser acurados e claros em nossa exposição.
Como vasos para uso nobre, devemos ser corretos em nosso caráter e em nossa conduta, gentis e bondosos em nosso trato. Deste modo, cada metáfora se concentra em uma característica particular, contribuindo para o todo do retrato e, de fato, delineando a condição necessária para ser útil.
Somente se nos entregarmos sem reservas às nossas labutas como soldados, corredores e agricultores, poderemos esperar resultados. Somente se cortarmos a verdade em linha reta e não nos desviarmos dela, seremos aprovados por Deus e não teremos do que nos envergonhar. Somente se nos purificarmos do que é ignóbil, de todo erro e pecado, seremos vasos para uso nobre, úteis ao Senhor da casa. Somente se formos bondosos e avessos às intrigas, como fiéis servos do Senhor, Deus concederá aos nossos adversários arrependimento, conhecimento da verdade e livramento do diabo.
Tal é a nossa responsabilidade de labutar e sofrer pelo evangelho. Assim, não é de se estranhar que este capítulo 2 tenha começado com a exortação: “fortifíca-te na graça que está em Cristo Jesus”.
TERCEIRA EXORTAÇÃO: PERMANECE NO EVANGELHO!(CAPÍTULO 3)
Deitado em sua cela, prisioneiro do Senhor, Paulo ainda se preocupa com o futuro do Evangelho. Sua mente vagueia pensando ora na maldade dos tempos, ora na timidez de Timóteo. Timóteo é tão fraco, e a oposição tão forte! Parece estranho que um homem assim seja chamado, em tal situação, a combater pela verdade. Assim o apóstolo começa com um vivido esboço desse cenário e, em oposição a tal pano de fundo, conclama Timóteo, a despeito dessa situação caracterizada por um generalizado desvio de Deus, e a despeito da fraqueza de temperamento de Timóteo, a continuar fiel ao que aprendera.
. Enfrentando tempos difíceis (vs. 1,2a) –Sabe, porém, isto: nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; 2pois os homens serão egoístas,. ..
Por que será que Paulo inicia este capítulo dando uma ordem tão enfática a Timóteo: “sabe, porém, isto”? Afinal, a existência de uma ativa oposição ao evangelho era evidente.
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Os homens maus são descritos (vs. 2-9)
O restante deste primeiro parágrafo do capítulo 3 dedica-se a uma perfeita descrição de tais homens. Paulo delineia particularmente a conduta moral (vs. 24), a observância religiosa (v.5) e o zelo proselitista (vs. 6-9) deles.
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Permanecendo firme na fé (vs. 10-15)
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A origem e o propósito da Escritura (vs. 15b-17)
Duas verdades fundamentais a respeito da Escritura são afirmadas aqui. A primeira concerne à sua origem (de onde ela provém) e a segunda ao seu propósito (o que ela pretende).
A primeira verdade é que “toda Escritura é inspirada por Deus”; ela é “soprada” por Deus. Alguns teólogos traduziram as primeiras palavras do versículo 16 assim: “toda Escritura inspirada é proveitosa”. Tal tradução daria lugar a uma dupla limitação da Escritura.
A segunda verdade abordada neste trecho refere-se a que Paulo explica o propósito da Escritura:“ela é útil ao ensino”. E isso decorre precisamente do fato de ser inspirada por Deus. Somente a sua origem divina garante e explica a sua utilidade para o homem. Para mostrar o que isso significa, Paulo emprega duas expressões.
Considerando tudo o que foi dito neste capítulo, podemos apreciar a relevância da mensagem de Paulo à nossa sociedade pluralista e permissiva.
Os “tempos difíceis”, em que estamos vivendo, são desconcertantes. Às vezes nos perguntamos se o mundo e a igreja ficaram loucos, por serem tão estranhos os seus pontos de vista e tão frouxos os seus padrões. Alguns cristãos foram arrastados de seus ancoradouros por uma onda de pecado e de erro. Outros procuram esconder-se, como se fosse a melhor esperança de sobrevivência, a única alternativa para não capitularem. Mas estes processos não são cristãos. “Tu, porém”, Paulo nos diz, como o disse a Timóteo, “permanece naquilo que aprendeste, ainda que a pressão para se acomodar seja muito forte. Não importa que sejas jovem, inexperiente, tímido e fraco. Não importa se acontecer de ficares testemunhando sozinho.
Até aqui seguiste o meu ensino; permanece, pois, daqui para a frente, naquilo em que vieste a crer. Conheces as credenciais bíblicas da tua fé. A Escritura é inspirara por Deus, e útil. Mesmo em meio a estes tempos difíceis, em que os homens maus e impostores vão de mal a pior, ela pode te suprir e te equipar para o teu trabalho. Que a Palavra de Deus te faça um homem de Deus. Permanece leal para com ela, e ela te conduzirá à maturidade cristã.”
QUARTA EXORTAÇÃO: PREGA O EVANGELHO!(CAPÍTULO 4)
Este capítulo contém parte das últimas palavras proferidas ou escritas pelo apóstolo Paulo. São, certamente, as últimas que foram preservadas. Foram escritas a semanas, talvez não mais do que poucos dias antes do seu martírio. De acordo com antiga tradição fidedigna, Paulo foi decapitado na Via Ápia. Por trinta anos ininterruptos trabalhara como apóstolo e evangelista itinerante. Fez, na verdade, o que ele mesmo escreve aqui: combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé (v.7).
A primeira parte do capítulo toma a forma de uma comovente incumbência. “Conjuro-te, perante Deus”, assim começa. O verbo diamartyromai tem conotações legais e pode significar “testificar sob juramento” numa corte de justiça, ou “adjurar” uma testemunha a assim proceder. No Novo Testamento refere-se a qualquer “elocução solene e enfática”. A exortação de Paulo é endereçada, em primeiro lugar, a Timóteo, seu delegado apostólico e representante em Éfeso. É aplicada, também, a cada homem chamado a um ministério evangelístico ou pastoral, ou mesmo a todos os cristãos.
Há três aspectos da exortação a serem estudados, os quais são: sua natureza (o que Paulo de fato está comissionando a Timóteo), sua base (os argumentos sobre os quais Paulo baseia a sua exortação)e uma ilustração pessoal dela, do exemplo do próprio Paulo em Roma.
A natureza da exortação (v.2)
Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.
Timóteo deve “pregar” esta palavra; ele deve falar o que Deus falou. Sua responsabilidade não é somente ouvir essa palavra, crer nela e obedecê-la, nem somente guardá-la de toda falsidade; nem somente sofrer por ela e permanecer nela; mas, sim, pregá-la a outros. São as boas novas de salvação para os pecadores. Assim ele deve proclamá-la como um arauto em praça pública (kèryssö, cf. këryx, “um arauto” em 1: 11). Para fazê-la conhecida, deverá levantar a sua voz para todos, sem temor.
Paulo prossegue mostrando quatro sinais que deverão caracterizar a proclamação a ser feita por Timóteo.
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Uma proclamação urgente– O verbo ephistëmi, “instar“, significa literalmente “assistir”, e assim “estar de prontidão”, “estar disponível”. Aqui, contudo, parece ter o sentido não somente de alerta e zelo mas de insistência e urgência. “Nunca perca o teu sentido de urgência” (CIN). Numa forma lânguida e indiferente, certamente não se faz
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Uma proclamação contextual–O arauto que anuncia a Palavra deve corrigir, repreender e exortar.
c.Uma proclamação paciente–Mesmo devendo instar (esperando obter das pessoas rápidas decisões em resposta à Palavra), devemos ter “toda a longanimidade na espera por essa resposta”. Nunca devemos nos valer do uso de técnicas humanas de pressão ou tentar forçar uma “decisão”.
d, Uma proclamação inteligente
Não devemos só pregar a palavra, mas também ensiná-la, ou melhor, pregá-la “com toda a doutrina” (këryxon. . . en pasë... didachè). Tal é a instrução de Paulo a Timóteo. Ele deve pregar a Palavra anunciando a mensagem dada por Deus, mas deve fazê-lo com um sentido de urgência, deve aplicá-la ao contexto da situação presente, deve ser paciente em seu modo de ser e inteligente na sua apresentação.
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A base da exortação ( vs. 1, 3-8)
Pede que Timóteo olhe a três direções: primeiro para Jesus Cristo, o juiz e rei que retorna; em segundo lugar, ao cenário contemporâneo; e, em terceiro, a ele, Paulo, o idoso prisioneiro à beira do martírio.
Conclusão
Helen Roseveare, ela chegou no Congo com 28 anos de idade, a Dra. Helen era médica com doutorado em medicina na Universidade de Cambridge com formação também em enfermagem, solteira, sozinha ela foi para o interior do Congo, em uma em que aquele país passava por uma guerra civil. Ali ela começou a trabalhar, pregar a Palavra de Deus incansavelmente. Ela fundou uma escola de enfermeiras treinou em poucos anos cem enfermeiras missionárias e espalhou por todo o país.
Não havendo hospitais naquela região que ela trabalhava como médica, ela escreveu para sua igreja na Inglaterra que enviou uma boa oferta e construiu um hospital com cem leitos, mas o Congo era um país muito perigoso naquela época, certa feita a Dra. Helen foi sequestrada por um grupo de rebeldes guerrilheiros, e eles a levaram-na e a mantiveram-na em cativeiro durante um longo período… Ela escreveu em seu diário algumas coisas, ela disse: eles me puxavam pelos pés, batiam em minha cabeça, chutavam-me na boca, quebraram os meus dentes, me humilharam, insultaram, agrediram dia a dia.
Semanas depois ela escreveu: em uma das noites o horror ultrapassou todos os limites, e fui violentamente abusada sexualmente, eu senti que Deus havia me abandonado.
Dias depois, ela escreveu: Logo depois senti uma impressionante presença de Deus que me dizia, Helen estes não são os seus sofrimentos, são os meus e o Senhor me encontrou com braços abertos e indizível amor, seu conforto foi total e eu entendi que o seu amor me era suficiente.
Ela foi liberta do cativeiro voltou para a Inglaterra, ficou praticamente um ano internada para se recuperar dos dentes quebrados, ossos quebrados, do trauma psicológico emocional, durante um ano.
Depois recebeu alta dos médicos daquele hospital inglês, voltou para a sede da missão (Cruzada de Evangelização Mundial), dizendo eu quero voltar para o Congo. E a diretoria disse: nós não vamos enviá-la a situação do Congo está mais difícil do que antes. Ela disse: se vocês não me enviarem eu saiu da missão para voltar para o Congo porque Deus me quer naquele lugar, eu ainda não preguei a palavra a todos que Deus colocou em meu coração.
E a missão a enviou para o Congo, ela voltou para o mesmo lugar, percebeu que os guerrilheiros havia destruído aquele lugar… ela deixou aqueles país com centenas de pessoas que ouviram a palavra de Deus. Ela foi uma mulher que rodou o mundo dando testemunho, mobilizando jovens para obra missionária.
Antes dela morrer, ela escreveu um artigo, que resume bem o ensino da teologia reformado da centralidade da palavra de Deus, não apenas uma palavra litúrgica, não apenas uma palavra que tem espaço em nossa biblioteca porque está em nossa língua, mas uma palavra que nos desafia e nos transforma: quando nos transforma e nos empele a pregar este evangelho que tanto mexe com o nosso coração.
Dra. Helen escreve neste artigo o seguinte: “O PROBLEMA É QUANDO NÃO QUEREMOS SÓ JESUS, QUEREMOS JESUS E MAIS ALGUMA COISA, QUEREMOS JESUS E A POPULARIDADE, QUEREMOS JESUS E O SUCESSO, QUEREMOS JESUS E OS APLAUSOS, QUEREMOS JESUS E O RECONHECIMENTO, QUEREMOS JESUS MAS TAMBÉM SERMOS OS PRIMEIROS, E SERMOS OS MELHORES, NÃO MEUS IRMÃOS, NÓS DEVEMOS DESEJAR SÓ JESUS”.
Fonte: Adapitado do Comentário de John Stott de 2 Timóteo
[1] Moule, p. 16.
[3] Holiness.J. C. Ryle (James Clarke 1952), p. 21.
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