O Protestantismo Norte-americano: Séculos 17 a 19

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Ementa: como principal matriz do protestantismo brasileiro, o seu congênere norte-americano é merecedor de análise cuidadosa. O período estudado vai desde o início da colonização inglesa das Treze Colônias, através de anglicanos e puritanos, até as grandes transformações que se seguiram à Guerra Civil.

1. Primórdios (1607-1700)

1.1 Antecedentes

Os primeiros cristãos a se fixarem no atual território dos Estados Unidos foram católicos romanos originários da Espanha e da França.

(a) Nova Espanha
A colonização espanhola da América do Norte teve início com a conquista do México por Hernando Cortés, em 1519-21. A administração colonial espanhola com freqüência oprimiu a população nativa, mas os missionários muitas vezes realizaram um trabalho notável entre os indígenas. Os principais missionários foram os franciscanos, que atuaram na Flórida, Texas, Novo México e Califórnia. No Novo México, em 1630, cerca de 35 mil índios cristãos concentravam-se ao redor de vinte e cinco estações missionárias. Em 1680, os índios pueblo destruíram Santa Fé e mataram dois terços dos missionários. Em 1691-1711, Eusébio Kino trabalhou no Novo México e no Arizona. O grande pioneiro da Califórnia foi Junípero Serra, que em 1769 fundou uma missão em San Diego. Nos próximos 75 anos, foram fundadas 21 estações missionárias, sendo a última San Francisco Solano (1823). Nesse período, cerca de 100 mil índios foram batizados.

(b) Nova França
A França teve o controle do Canadá e do meio-oeste dos futuros Estados Unidos desde a fundação de Québec por Samuel de Champlain em 1608 até a derrota diante dos ingleses em 1759. Além de trabalhar entre os colonos franceses, os sacerdotes também evangelizaram os índios. Embora os franciscanos tenham dado uma contribuição significativa, os principais missionários foram os jesuítas, destacando-se entre eles o padre Jean de Brebeuf. Chegado em 1626, ele obteve considerável êxito na conversão dos índios hurons, demonstrando grande sensibilidade cultural e genuíno interesse pelo bem-estar dos mesmos. Brebeuf foi morto pelos índios iroqueses em 1649. Uma admirável missionária foi Marie Guyart (1599-1672), ligada à ordem das ursulinas. Os jesuítas fundaram diversas missões no vale do Rio Mississipi até a Luisiana, as quais, todavia, produziram poucos resultados permanentes.

1.2 Os primeiros grupos

A Inglaterra foi a principal responsável pela colonização do território norte-americano e dela vieram os primeiros grupos protestantes a se fixarem nos Estados Unidos. A ruptura de Henrique VIII com Roma (1534) foi o primeiro passo para a criação da Igreja Anglicana, que se tornou protestante nos reinados de seus filhos Eduardo VI (1547-53) e Elizabete I (1558-1603). No reinado de Maria Tudor (1553-58), que tentou tornar a igreja inglesa novamente católica, muitos líderes protestantes refugiaram-se em Genebra e em outras cidades reformadas suíças e alemãs. Ao retornarem à pátria, já no reinado de Elizabete, alguns desses líderes e muitos que haviam permanecido na Inglaterra, mobilizaram-se em prol de uma reforma mais sistemática da igreja. Foi isso o que deu origem ao puritanismo na década de 1560.

(a) Virgínia
A primeira colônia inglesa do Novo Mundo foi a Virgínia, que teve início com a fundação de Jamestown em 1607. Como parte da incorporação da colônia, a Igreja da Inglaterra tornou-se a sua igreja oficial. Embora em um grau menor que na Nova Inglaterra, a religião teve bastante destaque na Virgínia. Seu primeiro código de leis tornou compulsória a freqüência aos cultos dominiciais e continha normas rigorosas contra o adultério, a violação do dia do Senhor e os excessos no vestuário. A preocupação missionária em relação aos índios também estava presente. John Rolfe casou-se com a lendária Pocahontas em parte para comunicar-lhe a fé cristã. Alexander Whitaker, o principal ministro dos primeiros tempos sempre se preocupou em converter os indígenas. A chegada de escravos africanos a partir de 1619 traria grandes conseqüências para a sociedade e para a igreja.

(b) Plymouth
Os primeiros puritanos a migrarem para a América estabeleceram-se em Plymouth, Massachusetts, em 1620. Quando o escocês Tiago I sucedeu Elizabete no trono inglês (1603-1625), sua recusa em apoiar a causa dos puritanos desapontou os protestantes mais radicais, entre os quais estavam algumas igrejas locais separadas da igreja nacional. Uma delas, localizada em Scrooby, Nottinghamshire, resolveu mudar-se para um ambiente mais amistoso. Inicialmente, foram para a Holanda, mas não se adaptaram à nova cultura. Além disso, temiam que seus filhos abandonassem os seus princípios religiosos sob a pressão de interesses econômicos e de outras igrejas. Doze anos depois, resolveram transferir-se para o Novo Mundo, sob o patrocínio de comerciantes ingleses. Embarcados no Mayflower em setembro de 1620, pretendiam ir para a Virgínia, mas os ventos tempestuosos os desviaram para Cape Cod, onde chegaram em novembro. Antes de desembarcarem, os homens assinaram um acordo pelo qual se comprometeram a manter a solidariedade do grupo e a renunciar à busca individual do lucro. William Bradford (†1657), o primeiro governador e historiador da colônia, escreveu um comovente relato dos rigores do primeiro inverno, no qual morreu a metade dos “peregrinos”. Eventualmente, os colonos superaram as dificuldades iniciais e após a primeira colheita realizaram uma celebração especial de ação de graças, com vários dias de duração, juntamente com seus amigos indígenas. Em 1630, a colônia tinha somente 300 residentes, mas continuou a prosperar e em 1691 uniu-se à colônia de Massachusetts.

1.3 Os puritanos da Nova Inglaterra

Muito mais importante para a história política e religiosa dos Estados Unidos foi outra colônia puritana que se estabeleceu um pouco ao norte de Plymouth. A experiência dos puritanos da Nova Inglaterra veio a dominar as percepções posteriores da história inicial do protestantismo norte-americano por diversas razões: líderes destacados (John Winthrop, John Cotton, Cotton Mather, etc.), influência social e política, contribuição democrática, ênfase à educação e energia moral.

Os primeiros puritanos ingleses queriam eliminar os vestígios do culto e das práticas católicas romanas que sobreviviam na Igreja da Inglaterra moldada por Elizabete I, Tiago I e seus conselheiros. Eles queriam completar a Reforma e completá-la sem demora. As suas principais convicções podem ser sintetizadas em quatro pontos: (1) Os puritanos criam que a humanidade depende inteiramente de Deus para a sua salvação. Os seres humanos são pecadores que não irão buscar reconciliação com Deus a menos que este tome a iniciativa de salvá-los (afirmação plena da soberania divina). (2) Os puritanos acentuavam a autoridade das Escrituras. Eles criam que a Bíblia tem uma autoridade “reguladora”: isto significa que, até onde possível, os cristãos devem fazer somente o que as Escrituras prescrevem diretamente. (3) Os puritanos criam, como o maior parte dos europeus daquela época, que Deus havia criado a sociedade como um todo unificado. A igreja e o estado, as esferas individual e pública, eram áreas complementares. Essa convicção estava por trás dos seus esforços em criar colônias nas quais todos os aspectos da vida refletissem a glória de Deus. (4) Os puritanos criam que Deus relaciona-se com as pessoas através de pactos ou acordos solenes. De modo especial, os puritanos congregacionais da Nova Inglaterra enfatizavam que as igrejas locais surgiam quando crentes individuais pactuavam-se para servir a Deus como um grupo e fazer a sua vontade. Quase todos os tipos de puritanos também sustentavam que Deus estabelecia alianças com nações, em particular aquelas que haviam recebido um conhecimento especial das verdades bíblicas. O puritanismo extraiu boa parte de sua força do sutil entrelaçamento dessas alianças (família, igreja e comunidade).

A grande migração puritana para o Novo Mundo ocorreu quando diminuíram os prospectos de reforma na Inglaterra. Carlos I, que sucedeu o seu pai Tiago I (1625-1649), não apenas tinha tendências católicas romanas, mas parecia decidido a governar a Inglaterra por direito divino. Ele entrou em conflito com o parlamento e, a partir de 1629, tentou governar sem convocar o mesmo. Ele encarregou o arcebispo de Cantuária, William Laud, de eliminar o puritanismo da Igreja Anglicana. Em 1628, um grupo de puritanos simpatizantes da estrutura eclesiástica congregacional adquiriu o controle da Companhia da Nova Inglaterra. Depois que a companhia foi reorganizada visando dar ênfase à colonização e não ao comércio, e depois de ter obtido um novo estatuto do rei concedendo maior autonomia administrativa, ocorreu a primeira migração para a Baía de Massachusetts, em 1630 (mais de 1000 colonos). Nos dez anos seguintes, pelo menos 20 mil colonos cruzaram o Atlântico, nem todos eles puritanos convictos.

1.3.1 Fé e vida

O puritanismo foi a religião dominante em quatro colônias americanas: Plymouth; Massachusetts (que absorveu Plymouth em 1691); Connecticut, que surgiu em 1636 quando vários pastores sob a direção do Rev. Thomas Hooker levaram colonos de Massachusetts para o vale do Rio Connecticut; e New Haven, fundada em 1638 sob a liderança do Rev. John Davenport e do governador Theophilus Eaton. Em 1662 estas duas últimas colônias tornaram-se uma só.

A primeira geração de colonos puritanos acreditou que seria possível realizar o seu grande projeto de reforma que se mostrara inviável na Inglaterra. O padrão foi estabelecido por Massachusetts e ficou conhecido como “New England Way” (O Caminho da Nova Inglaterra). Logo que chegaram, os ministros e os magistrados concordaram na necessidade de evidências mais visíveis de conversão. Deu-se uma nova ênfase à experiência de conversão como critério para a plena admissão na igreja. Os candidatos a membros deviam não só aceitar as doutrinas puritanas e viver com integridade, mas também testemunhar diante dos irmãos que haviam experimentado a graça redentora de Deus. Aqueles que pudessem testificar de modo aceitável acerca de sua salvação constituíam igrejas pela aliança de uns com os outros.

Somente tinham direitos políticos os homens que eram membros plenos das igrejas pactuadas. Ou seja, o pacto da graça qualificava o indivíduo tanto para ingressar na igreja quanto para exercer o direito de voto na vida pública da colônia. Essa vida pública por sua vez cumpria o pacto social com Deus, uma vez que os líderes eleitos pelos membros da igreja formulavam leis que honravam as Escrituras. Todavia, a Nova Inglaterra não era uma teocracia, pois os ministros não exerciam um controle direto da vida pública. Era, no entanto, um lugar em que os magistrados freqüentemente buscavam os conselhos dos pastores, inclusive quanto à melhor maneira de promover a vida religiosa das colônias.

Por algum tempo, o sistema funcionou. Sob a liderança de John Winthrop, o primeiro governador, metade dos homens da colônia filiou-se às igrejas e participou do governo. As agitações ocorridas na Inglaterra na década de 1640, quando os puritanos coligados com os parlamentaristas guerrearam contra o rei Carlos I, fizeram com que os puritanos de Massachusetts aprovassem a Plataforma de Cambridge (1648), que reafirmou a sua teologia reformada e a sua ordem eclesiástica de congregacionalismo não-separatista. Esse congregacionalismo insistia vigorosamente na uniformidade religiosa e buscava restringir ou excluir todos os dissidentes.

Os puritanos também se esforçaram por criar um sistema educacional que preservasse o seu experimento. Em 1636 a legislatura de Massachusetts autorizou a criação de um colégio, instalado dois anos depois quando o jovem pastor John Harvard legou à nova instituição uma biblioteca de 400 volumes. Desde o início, o propósito primário do Harvard College foi a preparação de pastores, mas seus objetivos não se limitavam a isso. A educação primária e secundária também preocupou os líderes puritanos. A “Cartilha da Nova Inglaterra” (The New England Primer), um livro que ensinava noções básicas de leitura e redação através da Oração do Pai Nosso, dos Dez Mandamentos e do Credo dos Apóstolos, tornou-se o livro-texto mais popular de todas as colônias no século 18. Essa ênfase ao ensino fez da Nova Inglaterra um dos lugares mais alfabetizados do mundo.

1.3.2 Crises

À medida que o tempo passou, um número cada vez maior de filhos dos pioneiros deixou de ter a mesma experiência religiosa que os seus pais, não podendo assim se tornar membros plenos da igreja. O problema agravou-se quando esses filhos começaram a casar-se e ter os seus próprios filhos. Segundo a teologia reformada dos puritanos, os convertidos tinham o privilégio de trazer seus filhos para o batismo como selo da graça pactual de Deus. Agora, muitos daqueles que haviam sido batizados como crianças não estavam apresentando-se voluntariamente para confessar a Cristo; todavia, queriam que seus filhos fossem batizados. O dilema era delicado: os líderes puritanos desejavam preservar a igreja para os crentes verdadeiros, mas também queriam manter tantas pessoas quanto possível sob a influência da igreja. Um sínodo de ministros reunido em 1662 encontrou a solução através do “half-way covenant” (pacto do meio-termo), pelo qual a segunda geração podia apresentar os filhos para o batismo e filiação parcial à igreja. Todavia, a Santa Ceia e outros privilégios ficavam reservados para aqueles que pudessem testificar sobre uma atuação específica da graça de Deus em suas vidas.

Outras crises surgiram no final do século 17. A guerra contra os índios em 1675-76 trouxe devastação para as vilas mais afastadas e causou a morte de centenas de colonos. Em 1685, as colônias da Nova Inglaterra perderam as suas assembléias representativas e foram colocadas com Nova York e Nova Jersey sob o controle da coroa inglesa. Esse expediente foi um esforço do rei Tiago II (1685-88), um católico romano, no sentido de refrear os protestantes radicais do Novo Mundo. Em 1687, a Igreja da Inglaterra passou a oficiar o seu culto em Boston. As colônias recuperaram em parte a sua autonomia depois que o parlamento substituiu o rei por novos monarcas, William e Mary, em 1688. O novo estatuto de Massachusetts (1691) era muito mais secular que o original. Ele estipulava que o governador seria nomeado pelo rei. Ainda mais importante, agora o direito de eleger a legislatura colonial seria determinado pela propriedade e não pela filiação à igreja.

Uma das crises mais perturbadoras ocorreu em Salem Village, ao norte de Boston, em 1692. Embora os processos e execuções por feitiçaria não fossem desconhecidos na Nova Inglaterra, os eventos de Salem foram muito além de incidentes anteriores. Em conseqüência de diversos fatores religiosos, psicológicos e políticos e de vários meses de excitação descontrolada, vinte pessoas foram executadas (quase todas mulheres e a maioria por enforcamento). Finalmente, quando começaram a ser feitas acusações contra indivíduos de caráter ilibado e quando líderes como Increase Mather, o pastor de Boston, protestaram contra os procedimentos, o movimento rapidamente se esvaziou. Eventualmente, chegou-se à conclusão que o diabo estivera mais atuante nos acusadores e naqueles que lhes deram ouvidos do que nas pessoas acusadas. Até hoje esses episódios constituem-se em uma mancha na reputação dos puritanos.

Apesar desses problemas e do declínio religioso associado com a crescente prosperidade material dos habitantes da Nova Inglaterra, as igrejas puritanas continuaram a exercer um papel central na sua sociedade por longo tempo.

1.3.3 Dissidências

Em meados do século 17, vários indivíduos e grupos desafiaram o “caminho da Nova Inglaterra” e alguns deles foram banidos para a pequena colônia de Rhode Island.

(a) Os batistas, que partilhavam de várias das convicções dos puritanos, surgiram em Massachusetts logo após as primeiras migrações. A mais antiga igreja batista da Inglaterra, fundada por John Smyth nas proximidades de Londres em 1612, associou o calvinismo básico dos puritanos com as práticas batismais dos menonitas holandeses, que batizavam crentes adultos ao professarem a sua fé. Os puritanos sentiam-se ameaçados pelos batistas, especialmente por sua insistência em que o estado não tinha qualquer papel a desempenhar nas igrejas, bem como pela maneira como as suas práticas batismais rompiam o vínculo existente entre a fé pessoal, a orientação da igreja e a participação na sociedade mais ampla. John Clarke, o principal pioneiro batista da Nova Inglaterra, chegou em 1639 em Rhode Island, onde fundou a cidade de Newport. No mesmo ano, foi fundada a primeira igreja batista da América.

Outro personagem ligado aos batistas foi o controvertido Roger Williams (1603?-1683), que chegou a Massachusetts em 1631 depois de tornar-se conhecido como um zeloso pregador puritano. Irrequieto e contestador, Williams inicialmente fixou-se em Plymouth e em 1633 assumiu o pastorado da igreja de Salem. Dentro de pouco tempo, as suas opiniões atraíram a ira das autoridades da colônia. Ele afirmava que os puritanos no tinham direito às terras indígenas do Novo Mundo porque tais terras tinham sido espoliadas e, portanto, os estatutos coloniais eram ilegítimos. Além disso, indivíduos que não haviam confessado a Cristo não podiam ter responsabilidades em um pacto social. Os magistrados erravam ao impor a freqüência à igreja e outros deveres espirituais, uma vez que as verdadeiras ações cristãs procedem do coração.

Essas idéias ameaçavam quase todos os aspectos da vida da colônia e por isso Williams foi expulso. John Winthrop propôs que o seu banimento ocorresse na primavera, mas William resolveu partir em outubro de 1635. Após um inverno rigoroso, ele finalmente chegou à Baía de Narragansett em abril de 1636, onde fundou a cidade de Providence. Roger Williams é conhecido como o primeiro grande “democrata” dos Estados Unidos, uma reputação parcialmente justificada. Sob sua liderança, Rhode Island tornou-se a primeira região das colônias norte-americanas em que a liberdade de culto foi estendida a quase todos os grupos. Foi também a primeira colônia que tentou uma separação entre as instituições da igreja e do estado. Todavia, antes de tudo Williams foi um completo puritano. As suas razões para defender a liberdade de culto e a separação entre igreja e estado foram sobretudo religiosas.

(b) Anne Hutchinson (1591-1643) foi outra fiel puritana que incomodou as autoridades de Massachusetts. Ela emigrou para a Nova Inglaterra a fim de ficar perto do seu pastor, John Cotton, que se transferiu para Boston em 1633. Anne apreciava particularmente a sua mensagem sobre a livre graça de Deus. Logo após a sua chegada, ela iniciou uma reunião de meio de semana para comentar o sermão de Cotton no domingo anterior e tratar de outras questões espirituais. Eventualmente, surgiu a suspeita de que as suas idéias estavam se aproximando do antinomismo (para os puritanos, o erro segundo o qual os cristãos não precisam dos Dez Mandamentos para mostrar-lhes como viver). Em suas reuniões, ela argumentava que o crente possuía o Espírito Santo e, portanto, não estava preso às exigências da lei. Além disso, o simples fato de uma pessoa obedecer as leis da sociedade não queria dizer que ela era realmente cristã. Como John Cotton ensinava claramente, a salvação era pela graça e não pelas obras da lei.

As idéias de Hutchinson eram um corolário legítimo da teologia puritana básica. A dificuldade estava no choque dessas noções com o projeto dos puritanos na Nova Inglaterra. Se os indivíduos ficassem entregues a si mesmos, o que seria da sociedade piedosa que os puritanos desejavam tão ardentemente? As autoridades iniciaram um processo judicial em que a senhora Hutchinson fez a sua própria defesa, citando as Escrituras e argumentando cuidadosamente contra os líderes da colônia. Porém, quando parecia que Anne Hutchinson havia silenciado os seus opositores, ela cometeu o erro fatal de afirmar que o Espírito Santo comunicava-se diretamente com ela à parte das Escrituras. Assim sendo, ela e seus seguidores foram banidos em 1638. Após uma breve estadia em Rhode Island e em Long Island, Anne fixou residência na colônia de Nova York, onde pouco depois ela e a maior parte da sua família foram mortos pelos índios.

(c) Cotton Mather (1662-1728) foi o mais notável líder dos puritanos no período anterior ao Primeiro Grande Despertamento. Ele pastoreou a igreja Old North Church, em Boston, ao lado do seu pai, Increase Mather, e foi um grande defensor do Caminho da Nova Inglaterra. Todavia, Cotton também se mostrou muito tolerante para com outras expressões do cristianismo (no final da sua vida ele participou da ordenação de um pastor batista quando isso ainda era considerado um passo bastante radical). Ele foi também um escritor prolífico, tendo publicado mais de 400 livros e panfletos, manteve uma vasta correspondência e foi um ardoroso promotor da ciência (entre outras coisas, ele introduziu a vacinação contra varíola em Boston).

1.4 Outros grupos

1.4.1 Anglicanos

Fora da Nova Inglaterra, a Igreja Anglicana foi o principal grupo religioso existente nas antigas colônias inglesas. Ela tornou-se a igreja oficial da Virgínia, partes da cidade de Nova York (1693), Maryland (1702), Carolina do Sul (1706) e do Norte (1715) e Geórgia (1758). Todavia, os problemas eram muitos, a começar do enorme tamanho das paróquias e da carência de recursos. A falta de um bispo residente também criou sérias dificuldades. No entanto, a igreja contou com os serviços de alguns líderes dedicados como James Blair (1656-1743), que foi comissário ou administrador da igreja da Virgínia por mais de meio século. Entre outras coisas, ele fundou o “William and Mary College” em 1693. Outro líder destacado foi Thomas Bray (1656-1730), o comissário da Igreja da Inglaterra em Maryland entre 1696 e 1700. Durante sua breve estadia, ele fundou duas agências que se tornariam muito influentes: a Sociedade para a Promoção do Conhecimento Cristão (SPCK, 1699), que fornecia livros para ministros e leigos, e a Sociedade para a Propagação do Evangelho em Regiões Estrangeiras (SPG, 1701), voltada para missões entre os indígenas. John Wesley, o fundador do metodismo, passou dezoito meses frustrantes na Georgia com um jovem missionário (meados da década de 1730).

Ironicamente, a Igreja da Inglaterra eventualmente teve o seu maior êxito em regiões nas quais não era a igreja oficial. Durante os grandes reavivamentos de meados do século 18, os moradores da Nova Inglaterra que buscavam uma igreja mais moderada e menos entusiástica voltaram-se em grande número para o anglicanismo. Eventualmente os missionários anglicanos fundaram um certo número de igrejas fortes na Pensilvânia, Nova Jersey e Long Island.

1.4.2 Católicos romanos

George Calvert (1580?-1632) e seu filho Cecil (1605-1675), primeiro e segundo Lordes Baltimore, foram os fundadores de Maryland, a única das colônias norte-americanas originais a ter uma significativa influência católica romana. George Calvert, que se converteu ao catolicismo em 1625, foi secretário de estado do rei Tiago I da Inglaterra. Calvert teve de renunciar por não poder jurar fidelidade à Igreja Anglicana quando Carlos I sucedeu o seu pai como rei naquele mesmo ano. Todavia, Carlos I estava ansioso em recompensar os Calvert pelos leais serviços prestados ao seu pai e a si próprio, desejo que cumpriu ao dar à família um grande título de propriedade no Novo Mundo (1632). A colônia resultante recebeu o nome da esposa católica de Carlos I, Maria Henrietta da França. Além de interesses econômicos, os Calvert queriam criar um refúgio para os católicos ingleses. Ao mesmo tempo, eles também estavam interessados em atrair colonos protestantes. Em 1649, Cecil promulgou para Maryland o famoso “Ato Concernente à Religião”, que ofereceu liberdade de culto a todos os que se considerassem cristãos, fossem eles católicos, anglicanos ou puritanos. Em 1691, a concessão original de Maryland foi retirada da família Calvert, sendo restituída em 1715, quando o quarto Lorde Baltimore ingressou na Igreja da Inglaterra. Maryland permaneceu na posse dos Calvert até a revolução americana e mesmo depois disso continuou a ser um centro do catolicismo americano.

1.4.3 Quakers

Outro grupo cristão inglês que veio para o Novo Mundo foram os quakers (quacres) ou “friends” (amigos), como preferiam chamar-se sob a inspiração de George Fox (1624-1691). Em 1656, duas mulheres quacres, Ann Austin e Mary Fisher, chegaram a Boston com sua mensagem sobre a “luz interior de Cristo” e sua crítica da religião formal e externa, sendo imediatamente expulsas pelas autoridades. A despeito das multas e açoites que sofreram, os quacres continuaram indo para Massachusetts, até que, em 1659-61, quatro deles foram enforcados por sedição, blasfêmia e contínua perturbação da paz. Logo, muitos quacres estabeleceram-se em Rhode Island, apesar da pequena simpatia de Roger William pelas suas doutrinas.

Os quacres acabaram fundando a sua própria colônia, a Pensilvânia, através de William Penn (1644-1718), filho mais velho do almirante de mesmo nome que capturou a Jamaica dos holandeses em 1655. William, o filho, uniu-se aos “amigos” em 1666, foi preso por escrever um folheto criticando as doutrinas da Igreja da Inglaterra e, enquanto na prisão, escreveu o clássico devocional No Cross, No Crown (1669). Desejoso de encontrar um refúgio para os seus correligionários, ele apoiou uma expedição quacre a Nova Jersey em 1677-78. Em 1681, ele recebeu do rei Carlos II uma enorme área de terra para saldar uma grande dívida de que seu pai era credor. A Pensilvânia (“selva de Penn”) tornou-se o lugar com maior tolerância religiosa em todo o mundo. Em 1682 fundou-se a cidade de Filadélfia e foi publicada a “Estrutura de Governo” da colônia. A Pensilvânia prosperou desde o início, recebendo colonos de muitas partes da Europa. Já em 1683, a cidade de Germantown (“cidade alemã”) foi fundada por menonitas alemães e quacres holandeses. Penn também se destacou pela maneira justa como tratou os indígenas. Ele residiu em sua colônia somente em dois breves períodos (1682-84 e 1699-1701). Um dos quacres mais destacados na história americana foi o pacifista e abolicionista John Woolman (1720-1772).

1.4.4 Presbiterianos

Desde o século 17, muitos calvinistas que aceitavam a forma de governo presbiteriana foram do continente europeu para os Estados Unidos. Dentre os primeiros estavam os holandeses que fundaram Nova Amsterdã (depois Nova York) em 1623. Os huguenotes franceses também foram em grande número para a América do Norte, fugindo da perseguição religiosa em sua pátria. Um numeroso contingente de reformados alemães igualmente emigrou para os Estados Unidos entre 1700 e 1770. Esses imigrantes formaram as suas próprias denominações e mais tarde muitos deles ingressaram na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos.

Muitos presbiterianos escoceses foram diretamente da Escócia para os Estados Unidos nos primeiros tempos da colonização. Todavia, foram os escoceses-irlandeses os principais responsáveis pela introdução do presbiterianismo naquele país. Durante o século 18, pelo menos 300 mil cruzaram o Atlântico. Eles se radicaram principalmente em Nova Jersey, Pensilvânia, Maryland, Virgínia e nas Carolinas. No oeste da Pensilvânia, eles fundaram Pittsburgh, a cidade mais presbiteriana dos Estados Unidos.

O primeiro líder do presbiterianismo norte-americano foi Francis Makemie (1658-1708), que nasceu na Irlanda, estudou na Escócia e foi enviado como missionário ao Novo Mundo. Makemie evangelizou em muitas regiões (Nova Inglaterra, Nova York, Maryland, Virgínia, Carolina do Norte e Barbados) e fundou uma igreja presbiteriana em Snow Hill, Maryland, em 1684. Em 1706, ele reuniu presbiterianos de diferentes origens (ingleses, galeses, escoceses, escoceses-irlandeses e da Nova Inglaterra) no Presbitério de Filadélfia, que adotou como padrão doutrinário a Confissão de Fé de Westminster. Em 1707, Makemie foi preso pelo governador de Nova York, Lord Cornbury, por pregar numa residência de Long Island sem uma licença. Makemie defendeu-se apelando ao Ato de Tolerância (Inglaterra, 1689), que concedeu liberdade religiosa aos quacres. Ele foi absolvido, mas teve de pagar as elevadas despesas do seu julgamento. Esse episódio firmou a imagem dos presbiterianos como defensores da liberdade e granjeou novo respeito pela denominação.

Em 1717 foi organizado o Sínodo de Filadélfia, constituído pelos Presbitérios de Filadélfia, New Castle (Delaware) e Long Island (depois Nova York). Ao todo, a denominação tinha apenas dezenove pastores, quarenta igrejas e cerca de três mil membros. Em 1729, foi aprovado o “Ato de Adoção”, que aprovou a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster como padrões doutrinários do Sínodo.

1.4.5 Reformados holandeses e alemães

A Igreja Reformada de Nova Amsterdã foi uma igreja oficial de 1628 até 1664, quando a cidade foi transferida para o controle dos ingleses e passou a denominar-se Nova York. Mais tarde, graças a novas ondas de imigrantes e pastores mais atuantes, surgiram fortes igrejas holandesas em Nova York e Nova Jersey. Quase ao mesmo tempo chegaram os imigrantes reformados vindos do sul da Alemanha, que em 1740 possuíam cerca de cinqüenta igrejas, quase todas na Pensilvânia.

Com isso, ampliou-se um fenômeno que viria a caracterizar a nova nação – sua grande diversidade religiosa –, fato até então desconhecido na Europa. Até meados do século 18, muitos outros grupos cristãos foram para a América, motivados principalmente pelo desejo de liberdade religiosa, como os menonitas, batistas alemães, schwenkfelders (Kaspar Schwenkfeld, 1489-1561), huguenotes e irmãos morávios, vários deles inspirados pelo movimento pietista.

1.4.6 Índios e escravos

Com algumas exceções, o contato dos ingleses com os índios foi mais um obstáculo do que um auxílio para a difusão da fé. Dois antigos pastores de Massachusetts, John Eliot (1604-1690) e Thomas Mayhew Jr. (1621-1657), fizeram um esforço significativo de evangelização dos indígenas americanos. Eliot, pastor congregacional em Roxbury, perto de Boston, reuniu um bom número de conversos em “praying towns” (cidades de oração) e traduziu a Bíblia para a língua algonquim. Seus esforços resultaram na criação da primeira sociedade missionária da Inglaterra, a Sociedade para a Propagação do Evangelho na Nova Inglaterra (1649). Em Martha’s Vineyard e outras ilhas próximas, Mayhew, seu pai (após a morte do filho) e outros membros da família alcançaram ainda maior êxito que Eliot, talvez porque aceitaram um pouco mais da cultura indígena na civilização cristã que estabeleceram. A chamada Guerra do Rei Filipe (1675-76) entre os colonos e os índios foi grandemente prejudicial para as missões indígenas. Os próprios índios cristianizados foram internados em uma ilha da baía de Boston e quase todos morreram devido ao frio, doenças e fome.

Os primeiros escravos africanos chegaram à Virgínia em 1619. Dentro de pouco tempo, a escravidão tornou-se um dos principais aspectos da sociedade das colônias sulistas. Foi também um importante fator econômico nas demais colônias, pois o tráfico de escravos enriqueceu muitos comerciantes de Nova York, Newport, Boston e outros centros comerciais do norte. A princípio, praticamente nenhum indivíduo ou denominação questionou a escravidão. Somente no final do século 17 alguns quacres e menonitas alemães começaram a protestar contra a mesma. O primeiro protesto conhecido surgiu em Germantown, Pensilvânia, em 1688. Nesse período inicial da história americana, aparentemente poucos escravos abraçaram a fé cristã.

1.5 Conclusões parciais

O que se pode concluir sobre o cristianismo da América do Norte depois de um século de colonização inglesa?

(a) Os padrões europeus continuavam a dominar a vida religiosa, seja na Nova Inglaterra puritana, na Virgínia anglicana ou na Pensilvânia quacre e menonita.

(b) O novo ambiente estava efetuando mudanças nesse legado europeu: tolerância religiosa, pluralismo, maior participação dos leigos, interesse missionário por grupos não-europeus.

(c) A maior parte dos colonos permaneceu em contato com as igrejas. A adesão integral na realidade era baixa (de 5% dos adultos no sul a 1/3 dos adultos na Nova Inglaterra), mas a participação relativamente regular nas atividades religiosas parece ter sido elevada. As evidências sugerem que em 1700 até 80% dos habitantes freqüentavam algum tipo de culto religioso com certa regularidade.

(d) A distribuição das igrejas refletia a herança étnica e denominacional das primeiras colônias. Em 1740, três das quatro denominações com maior número de igrejas eram inglesas e protestantes: congregacional (423 igrejas), anglicana (246) e batista (96), e a quarta era escocesa (ou escocesa-irlandesa) e protestante: presbiteriana (160). A seguir, vinham os grupos da Europa continental: luteranos (95 igrejas), reformados holandeses (78) e reformados alemães (51). Havia ainda 27 igrejas católicas romanas, quase todas em Maryland. Uma série de grupos menores concentrava-se na Pensilvânia e áreas adjacentes. Numa exceção entre os centros urbanos, Nova York, com suas nove igrejas de oito denominações, refletia em uma só localidade o pluralismo cristão que as colônias como um todo estavam começando a exibir.

2. Americanização (1700-1800)

Do início do século 18 até o início do século 19, três fenômenos contribuíram decisivamente para moldar a nacionalidade norte-americana e conferir um caráter peculiar ao cristianismo norte-americano: o Grande Despertamento, a Guerra da Independência e a Revolução Americana.

2.1 O Grande Despertamento

O reavivamento colonial foi denominado “um grande e geral despertamento” porque atingiu tantas regiões e tantos aspectos da vida colonial. Embora o despertamento tenha sido mais um surto de piedade avivamentista do que um evento distinto, ele foi enormemente importante tanto para as igrejas quanto para a sociedade americana. Na Nova Inglaterra, o reavivamento trouxe nova vida para muitas igrejas congregacionais e incentivou grandemente o crescimento dos batistas. Nas colônias centrais, os presbiterianos e os reformados holandeses, após algumas divisões iniciais, também cresceram rapidamente. No sul, que foi alcançado por último, o avivamento produziu um renovado crescimento dos batistas e começou a preparar o caminho para o grande movimento metodista do período posterior à revolução.

Os primeiros sinais do Grande Despertamento surgiram na década de 1720 em igrejas reformadas holandesas de Nova Jersey, quando o jovem pastor Theodore Frelinghuysen (1691-1784), que tivera contato com o pietismo na Holanda, desafiou as pessoas a terem um conhecimento mais profundo e experimental da fé cristã. Entre os indivíduos afetados por esse avivamento estava o presbiteriano Gilbert Tennent (1703-1764), que fora preparado para o ministério por seu pai, William Tennent, no modesto “Log College” (1736). Como pastor em New Brunswick, Gilbert tornou-se o líder do avivamento em sua denominação. Logo, surgiram dois grupos no presbiterianismo: o “New Side”, representando a preocupação puritana com uma fé experimental, e o “Old Side”, com sua insistência na doutrina correta, própria dos escoceses-irlandeses. De 1745 a 1758, houve dois sínodos rivais – Filadélfia (defensor da ortodoxia de Westminster) e Nova York (avivalista), que eventualmente se uniram.

O Grande Despertamento atingiu a Nova Inglaterra a partir de um avivamento ocorrido na cidade de Northampton, Massachusetts, em 1734-35. Em 1739, o avivamento ressurgiu e difundiu-se amplamente em toda a região. Embora composto de avivamentos locais, o Grande Despertamento produziu dois líderes “nacionais”, um pregador inglês e um teólogo da Nova Inglaterra.

2.1.1 George Whitefield (1714-1770)

Whitefield talvez tenha sido o protestante mais conhecido em todo o mundo no século 18. Com certeza ele foi o líder religioso mais conhecido nos Estados Unidos naquele século. Whitefield era um ministro da Igreja da Inglaterra e foi colega de John e Charles Wesley no Clube Santo de Oxford, nas décadas de 1720 e 1730. Mais tarde, ele iria transmitir aos irmãos Wesley algumas práticas que caracterizariam o movimento metodista, como pregações ao ar livre e a evangelização de pessoas comuns que tinham poucas ligações com as igrejas. Whitefield visitou rapidamente a Geórgia em 1738 para auxiliar na fundação de um orfanato. Ao retornar às colônias no ano seguinte, a sua reputação de pregador dramático o precedeu. A sua visita causou enorme impacto. Quando esteve na Nova Inglaterra no outono de 1740, multidões de até oito mil pessoas reuniram-se todos os dias para ouvi-lo, durante mais de um mês (nessa época, toda a população da Nova Inglaterra não passava de 290 mil habitantes). A campanha de Whitefield, um dos episódios mais notáveis de toda a história do cristianismo americano, foi o principal evento do Grande Despertamento da Nova Inglaterra. Ele haveria de retornar muitas vezes às colônias americanas, onde faleceu em 1770 como havia desejado: em meio a outra campanha evangelística.

Ao contrário de outros reavivalistas posteriores, Whitefield era um calvinista que acentuava o poder de Deus na salvação. Ele rompeu com John Wesley em 1741 por causa do arminianismo deste, com sua ênfase no livre arbítrio humano. (Mais tarde, eles reconciliaram-se como amigos, mas não em sua teologia, e Wesley pregou um afetuoso sermão memorial após a morte de Whitefield.) Por outro lado, Whitefield interessava-se muito mais pela pregação do que pela teologia. Ele sabia como falar às pessoas simples, com uma linguagem igualmente simples, e apelava fortemente ao coração. Além disso, ele também pregou quase todos os seus sermões extemporaneamente, sem anotações. Desse modo, Whitefield contribuiu para o estilo mais democrático e popular do cristianismo americano.

2.1.2 Jonathan Edwards (1703-1758)

Se Whitefield foi o pregador mais importante do Grande Despertamento, Edwards foi o principal apologista do movimento e o maior teólogo americano por mais de um século. Aos 21 anos, ele tornou-se pastor-auxiliar do seu avô, Salomon Stoddard (1643-1729), na Igreja Congregacional de Northampton, Massachusetts. Stoddard foi um líder notável que procurou ir além do “pacto do meio termo” ao defender que todos os que vivessem vidas externamente corretas podiam participar da comunhão. Ele também propôs que as igrejas congregacionais criassem um modelo de supervisão “conexional” ou “presbiteriano” para orientar as igrejas locais e os seus ministros.

Muitas das obras teológicas de Edwards resultaram do seu esforço em defender os reavivamentos coloniais como verdadeiras obras de Deus. O seu sermão “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”, pregado em Enfield, Connecticut, em 1741, é seu escrito mais conhecido, mas ele gastou a maior parte do seu tempo preparando estudos mais formais, inclusive uma profunda análise dos fenômenos do reavivamento, publicada com o título Tratado Sobre as Afeições Religiosas (1746). Essa obra argumenta que o verdadeiro cristianismo não é revelado pela quantidade ou intensidade das emoções religiosas, e sim quando um coração é transformado para amar a Deus e buscar a sua vontade.

Após a morte de Edwards, seus amigos publicaram sua obra A Natureza da Verdadeira Virtude (1765), onde ele insiste que a experiência da graça de Deus é o único fundamento para uma moralidade autêntica e duradoura. A experiência humana ordinária pode explicar a bondade humana ordinária, mas não a “verdadeira virtude”. Anteriormente, o livro A Liberdade da Vontade (1754) havia apresentado idéias calvinistas tradicionais acerca da salvação com um novo enfoque. Seu argumento básico foi que a vontade não é uma entidade verdadeira, mas uma expressão do motivo mais forte existente no ser da pessoa. Em outras palavras, a natureza pecaminosa não pode agradar a Deus a menos que Deus, por uma infusão da graça, transforme o caráter do pecador. Edwards deu sustentação à ênfase dessa obra através de outro livro, O Pecado Original (1758), no qual argumentou que toda a humanidade estava presente em Adão quando este pecou. Assim sendo, todas as pessoas partilham do caráter pecaminoso e da culpa que Adão trouxe sobre si mesmo.

Edwards foi um teólogo fascinado com a majestade e o esplendor do Ser Divino. Os grandes temas da sua teologia foram a grandeza e a glória de Deus, a total dependência da humanidade pecadora em relação a Deus no que se refere à salvação e a beleza etérea da vida de santidade. A obra de Jonathan Edwards e seus seguidores foi a contribuição mais significativa na área da teologia surgida na América do Norte no século 18. Ver Alderi S. Matos, “Jonathan Edwards: Teólogo do Coração e do Intelecto”, Fides Reformata III:1 (Janeiro-Junho 1998), 72-87; Gaustad, Documentary History, I:214-220; e Hardman, Issues in American Christianity, 52-57.

2.1.3 Efeitos religiosos dos reavivamentos

Os reavivamentos produziram, pelo menos por algum tempo, um aumento no número de adesões às igrejas e o fortalecimento espiritual de muitas comunidades cristãs. 2) A mensagem cristã foi levada de modo mais direto a grupos marginalizados da sociedade. Um exemplo inspirador foi o de David Brainerd (1718-1747), que se tornou um zeloso missionário junto aos indígenas do leste de Nova Jersey e cujo Diário foi publicado por Jonathan Edwards. No trabalho entre os escravos destacou-se o presbiteriano Samuel Davies (1723-1761), especialmente em Virgínia. 3) O avivamento também gerou um movimento de reforma social através de seguidores de Edwards. Samuel Hopkins (1721-1803), que foi pastor em Newport, Rhode Island, protestou insistentemente contra a escravidão. 4) O despertamento gerou um maior interesse pela educação, tanto para pastores quanto para leigos. Como conseqüência direta ou indireta do movimento, vários “colégios” importantes foram fundados: Princeton (presbiteriano, 1746), Brown (batista, 1760), Queens (mais tarde Rutgers; reformado holandês, 1764) e Dartmouth (congregacional, 1769), destinado especialmente aos indígenas convertidos.

Conclusão: o Grande Despertamento foi o primeiro acontecimento nacional dos Estados Unidos. Whitefield e suas façanhas evangelísticas foram tópicos comuns de discussão desde o Maine até a Geórgia. Pastores de todas as colônias corresponderam-se para incentivar o reavivamento. De igual modo, líderes contrários ao entusiasmo avivalista, como o Rev. Charles Chauncy, de Boston, também estabeleceram conexões para tentar levar o movimento ao descrédito. O despertamento acelerou o processo que cada vez mais levava os imigrantes europeus a se identificarem como “americanos”. Ao mesmo tempo, essa nova identidade produziu uma crescente suspeita contra a Europa, especialmente a Inglaterra. Conceitos religiosos utilizados no avivamento, tais como “liberdade”, “virtude” e “tirania”, muito em breve passaram a ter também conotações políticas. Finalmente, a ênfase dada pelos pregadores às pessoas comuns como objeto da graça de Deus, ao lado da importância de uma decisão pessoal com respeito ao evangelho, fortaleceram noções de igualdade, democracia e responsabilidade pessoal que contribuíram para o processo que levou à independência dos Estados Unidos.

2.2 A Época Revolucionária

Na segunda metade do século 18, a atenção de muitos americanos afastou-se do grande interesse religioso produzido pelo Grande Despertamento para concentrar-se em uma longa série de acontecimentos políticos e militares de grande relevância: a Revolução Americana (1775), a Declaração de Independência (1776), a Guerra contra a Inglaterra (até 1783) e a promulgação da Constituição Americana (1789).

Nesse período, o evento de maior significação para as igrejas foi a implantação da liberdade religiosa, uma ruptura radical com os princípios de uniformidade e união entre igreja e estado que haviam caracterizado a civilização ocidental por mais de mil anos. Essa foi a origem do que conhecemos hoje como denominacionalismo. A nível nacional, a liberdade religiosa foi garantida por dois importantes documentos. O artigo 6º da Constituição Federal declarou: “Nenhum teste religioso jamais será exigido como qualificação para qualquer ofício ou cargo público nos Estados Unidos”. Em 1791, a Primeira Emenda à Constituição dispôs que “o Congresso não promulgará nenhuma lei referente ao estabelecimento da religião ou que proíba o exercício da mesma”. Com isso, todas as igrejas passavam a ser associações voluntárias, teoricamente iguais perante a lei. (Todavia, em Massachusetts o congregacionalismo continuou a ser a igreja oficial até 1833!).

A nova realidade afetou alguns grupos mais do que outros, tais como os congregacionais, batistas e quakers, que já eram independentes. As igrejas filiadas a suas matrizes européias precisaram organizar-se nacionalmente, a começar da Igreja Anglicana. Sob a liderança de William White, foi criada a Igreja Episcopal Protestante dos Estados Unidos, cuja primeira convenção geral reuniu-se em Filadélfia em 1785. Dois anos depois, White e Samuel Provoost foram sagrados bispos pelo arcebispo de Cantuária. Em 1784 foi formada a Igreja Metodista Episcopal, que teve como primeiros líderes ou superintendentes o pioneiro Francis Asbury e Thomas Coke, nomeados pelo próprio Wesley, os quais em 1787 passaram a ser bispos. A primeira Conferência Geral reuniu-se em 1792. Os presbiterianos já eram autônomos, mas aproveitaram a oportunidade para completar a sua organização eclesiástica. Sua Assembléia Geral reuniu-se pela primeira vez em 1789.

O período revolucionário também viu o surgimento de novos grupos nos Estados Unidos, alguns deles bastante heterodoxos, como foi o caso dos unitários (antitrinitários), que haviam surgido na Inglaterra já no final do século 16. A primeira igreja unitária inglesa só foi organizada em 1773, em Londres. Em 1787, a King’s Chapel, de Boston, a mais antiga igreja episcopal da Nova Inglaterra, tornou-se a primeira igreja declaradamente unitária, sob a liderança de seu pastor, James Freeman. Mais tarde, o unitarismo iria causar um grande cisma nas igrejas congregacionais. Outro grupo não ortodoxo surgido nessa época foi o dos universalistas (no aspecto soteriológico). Os primeiros universalistas ingleses e americanos foram trinitários, mas eventualmente o movimento abraçou a posição unitária. Um líder influente foi Hosea Ballou (1771-1852), pastor residente em Boston. Os universalistas realizaram sua primeira convenção em Filadélfia, em 1790.

2.3 Os presbiterianos

De 1741 a 1758, os presbiterianos dividiram-se em dois grupos por causa de diferenças acerca do avivamento e da educação teológica: Ala Velha (Sínodo de Filadélfia) e Ala Nova (Sínodo de Nova York). Na época da Revolução Americana, vários evangelistas notáveis como Samuel Davies, Alexander Craighead e Hugh McAden trabalharam com grande êxito no sul do país, especialmente na Virgínia e nas Carolinas. Os presbiterianos tiveram uma atuação destacada na revolução. O Rev. John Witherspoon (1723-1794), um escocês que foi presidente da Universidade de Princeton por vinte e cinco anos, foi o único pastor que assinou a Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 1776. Muitos presbiterianos lutaram na guerra da independência.

2.4 Desdobramentos teológicos

As mudanças introduzidas na teologia mediante acomodações ao raciocínio da revolução foram sutis, porém amplas. O que aconteceu entre os teólogos da Nova Inglaterra ilustra essas mudanças. Dois discípulos de Jonathan Edwards, Joseph Bellamy (1719-1790) e Samuel Hopkins (1721-1803), chegaram à conclusão de que Deus somente pune os pecados que os seres humanos efetivamente cometem, e não uma pecaminosidade herdada de Adão. Eles não repudiaram a teologia calvinista recebida de Edwards, mas a influência de idéias contemporâneas sobre a felicidade humana e os direitos individuais, bem como a necessidade de justificar todos os princípios intelectuais por meio da razão, ficam evidentes na sua obra. Pouco depois, teólogos como Jonathan Edwards Jr. (1745-1801) e Timothy Dwight (1752-1817), um neto de Jonathan Edwards, desenvolveram ainda mais alguns conceitos que valorizavam a capacidade humana inata e se afastavam de uma plena afirmação da soberania de Deus.

3. O “século protestante” (1800-1900)

Os evangélicos deram uma grande contribuição na Guerra da Independência, tanto no aspecto prático quanto ideológico. No entanto, após a Revolução as igrejas estavam claramente desorganizadas e o papel do cristianismo na nova cultura nacional não estava de modo algum garantido. A filiação formal às igrejas estava em declínio, tendo chegado ao seu ponto mais baixo na década de 1790 (de 5 a 10% da população adulta). Reagindo contra essa situação, as igrejas superaram a confusão reinante e empreenderam vigorosas campanhas para evangelizar o povo e cristianizar a cultura. Juntos, os representantes das igrejas coloniais e os dinâmicos líderes das novas denominações formaram uma frente protestante que dominou a percepção pública da religião nos Estados Unidos. O “império evangélico” esteve na vanguarda até que o pluralismo cristão e a diversidade cultural introduziram uma nova realidade.

3.1 A “América evangélica” (1800-1865)

3.1.1 O Segundo Despertamento

O Segundo Grande Despertamento foi o reavivamento mais influente da história do cristianismo nos Estados Unidos. Desde 1795 até por volta de 1810 surgiu um renovado interesse pelo cristianismo em todo o país. Por sua vez, essa renovação serviu de modelo e ímpeto para ondas semelhantes de reavivamento que continuaram a ocorrer em toda a nação até depois da Guerra Civil.

Na região da fronteira, o novo interesse religioso resultou do dedicado trabalho missionário de presbiterianos, batistas e metodistas. Um evento importante foi o “camp meeting” realizado em Cane Ridge, no Kentucky, em 1801. Os “camp meetings” eram vibrantes reuniões evangelísticas ao ar livre com a duração de vários dias, nos quais os participantes ficavam alojados em tendas e ouviam diferentes pregadores. Os resultados de Cane Ridge foram notáveis: ao lado de muitas manifestações emocionais houve um rápido crescimento das igrejas, não somente presbiterianas, mas principalmente metodistas e batistas. Os pregadores itinerantes metodistas (“circuit riders”) e os pregadores-colonos batistas espalharam-se pelo sul e pelo oeste em números impressionantes. Na década de 1830 esses dois grupos haveriam de ultrapassar os congregacionais e os presbiterianos, tornando-se as maiores denominações não somente no sul, mas em todo o território nacional.

Mark Noll fornece dados estatísticos impressionantes sobre as alterações verificadas nos percentuais de filiação religiosa nos Estados Unidos entre a independência e meados do século 19:

-1776
-1850

  • Congregacionais

    20,4%

  • Metodistas

    34,2%

  • Presbiterianos

    19,0%

  • Batistas

    20,5%

  • Batistas

    16,9%

  • Católicos romanos

    13,9%

  • Episcopais

    15,7%

  • Presbiterianos

    11,6%

  • Metodistas

    2,5%

  • Congregacionais

    4,0%

  • Católicos romanos

    1,8%

  • Episcopais

    3,5%

No leste, o interesse pelo avivamento manifestou-se entre vários ministros congregacionais de Connecticut. A manifestação mais visível ocorreu como resultado do trabalho de Timothy Dwight (1752-1817), o neto de Jonathan Edwards que se tornou presidente do Yale College em 1795. Em 1802 houve um grande avivamento no campus que levou à conversão de um terço dos 225 estudantes, muitos dos quais tornaram-se agentes do avivamento na Nova Inglaterra, no Estado de Nova York e no oeste. Logo, quase não havia um lugar em que os cristãos não estivessem orando pelo avivamento ou agradecendo a Deus por terem-no recebido.

Esses reavivamentos tiveram em comum com os despertamentos do período colonial um forte interesse pela salvação pessoal e pela renovação do cristianismo dos dois lados do Atlântico. Mas houve também importantes diferenças. Enquanto o primeiro despertamento foi liderado por congregacionais (Jonathan Edwards), anglicanos (George Whitefield) e presbiterianos (Gilbert Tennent), o segundo foi rapidamente dominado pelos metodistas, batistas e discípulos de Cristo (Barton Stone e Alexander Campbell). O Segundo Despertamento também produziu efeitos mais duradouros que o primeiro. A grande quantidade de sociedades voluntárias surgidas nos Estados Unidos nas três primeiras décadas do século 19 foi um resultado direto do daquele reavivamento.

Um dos alunos de Timothy Dwight, Lyman Beecher (1775-1863), dedicou-se a arregimentar as forças do reavivamento em organizações permanentes que visavam evangelizar e reformar os Estados Unidos. Graças aos seus esforços, e aos de pessoas com a mesma visão, foram fundadas entidades como a Junta Americana para Missões Estrangeiras (1810), a Sociedade Bíblica Americana (1816), a Sociedade de Colonização para escravos libertos (1817), a União Americana das Escolas Dominicais (1824), a Sociedade Americana de Tratados (1825), a Sociedade Americana de Educação (1826), a Sociedade Americana para a Promoção da Temperança (1826), a Sociedade Americana de Missões Nacionais (1826) e muitas outras organizações. Essas agências deram ao Segundo Despertamento uma duradoura influência institucional que o primeiro não produziu.

A teologia do Segundo Grande Despertamento também foi diferente da tradição reavivalista anterior. Com sua ênfase na soberania de Deus sobre todas as coisas, Edwards e Whitefield haviam acentuado a incapacidade de os pecadores salvarem a si mesmos. Em contraste, a teologia dos principais avivalistas do século 19, tanto no norte quanto no sul, sugeriu que Deus havia concedido a todas as pessoas a capacidade de irem a Cristo. Essa mudança de perspectiva estava relacionada não somente com os eventos políticos e intelectuais mais amplos, mas com o grande desejo de uma teologia de ação que pudesse incentivar e justificar a expansão dos reavivamentos.

3.1.2. Dois grandes líderes

Dois líderes personificaram de maneira especial as principais ênfases desse avivamento. O primeiro foi o inglês Francis Asbury (1745-1816), que viajou extensamente através dos Estados Unidos promovendo a causa metodista e liderou a organização oficial dessa denominação em 1784. Pelo fato de ter percorrido mais de 450 mil km, em grande parte a cavalo, ele conheceu o interior americano melhor que qualquer um dos seus contemporâneos e foi também o homem mais conhecido do seu tempo. Quando Asbury chegou aos Estados Unidos em 1771, somente quatro missionários metodistas davam assistência a cerca de 300 pessoas. Quando ele faleceu, havia 2 mil pastores e mais de 200 mil metodistas no país.

Outro líder imensamente influente foi Charles Grandison Finney (1792-1875), o mais famoso avivalista americano na parte intermediária do século 19. Convertido de modo dramático em 1821, ele imediatamente começou a pregar de maneira vigorosa. Um grande reavivamento em Rochester no inverno de 1830-31 deu-lhe notoriedade nacional. Nessa época, ele rompeu definitivamente com o seu presbiterianismo de origem, que ele julgava excessivamente burocrático e possuidor de uma teologia que não valorizava a capacidade humana natural. Finney estabeleceu o seu quartel general no Oberlin College, em Ohio, um centro de evangelismo e reforma social. Ele escreveu livros que também divulgaram amplamente as suas idéias, como Lectures on Revivals (1835) e Systematic Theology (1846-47). Seu impacto foi especialmente forte no sentido de moldar as práticas do avivamento. Entre as suas “novas medidas” estava o “banco ansioso” (anxious bench), uma área especial, geralmente na frente do auditório, à qual as pessoas eram chamadas para orar e ser exortadas quanto à condição das suas almas. Outro recurso era o “protracted meeting”, as reuniões noturnas que se prolongavam por várias semanas. Quando os críticos diziam que as novas medidas davam excessiva ênfase à ação humana na conversão e quase nenhuma a Deus, ele se defendia dizendo que elas funcionavam.

Em sua teologia, Finney foi ainda mais arminiano que John Wesley. Este sustentava que a vontade humana é incapaz de escolher a Deus sem a sua graça preparatória. Finney rejeitou esse requisito: ele cria que era possível uma condição permanente de vida espiritual superior para todo aquele que a buscasse de todo o coração. Seguindo os teólogos da Nova Inglaterra, ele aceitava uma noção governamental da expiação segundo a qual a morte de Cristo foi uma demonstração pública da disposição de Deus em perdoar os pecados antes que o próprio pagamento pelo pecado. Finney envolveu-se com um grande número de iniciativas religiosas e sociais, mas seu maior impacto, assim como o de Asbury, foi no sentido de modificar o caráter do evangelicalismo norte-americano tornando-o menos calvinista, mais arminiano e assim melhor identificado com os valores e as aspirações da nova república.

3.1.3. Os batistas

O Segundo Grande Despertamento estimulou um enorme esforço missionário, voltado tanto para o próprio país como para o exterior. Um dos grupos que mais se destacaram nesse aspecto foram os batistas. Especialmente nos estados do sul e nos novos estados do oeste americano eles se tornaram líderes na evangelização da fronteira. Em 1812 havia perto de 200 mil batistas nos Estados Unidos; em 1850 já eram mais de um milhão.

No período anterior à Guerra Civil, a teologia batista foi predominantemente calvinista. Uma importante confissão redigida para uma convenção de New Hampshire em 1833 tornou-se uma declaração de fé batista amplamente utilizada. (Ver Reily, História Documental, 129-132). À exceção dos princípios de organização eclesiástica, as partes doutrinárias dessa confissão aproximavam-se do tipo de teologia promovido por congregacionais e presbiterianos conservadores. Ao mesmo tempo, as práticas batistas davam grande ênfase à conversão pessoal e os batistas também partilhavam da confiança americana nas capacidades de um povo livre. Isso atenuava junto a muitos batistas as doutrinas calvinistas da eleição incondicional e da expiação limitada. Mas durante todo o século 19, os batistas continuaram parecidos com os calvinistas mais antigos em sua teologia formal.

Apesar de sua defesa intransigente da autonomia das igrejas locais, os batistas logo começaram a trabalhar em conjunto, especialmente na área de missões. Em 1814 foi fundada a Convenção Missionária Geral, voltada para missões estrangeiras, e em 1832 a Sociedade Batista de Missões Nacionais. Por causa das tensões entre o norte e o sul em torno da escravidão, foi formada em 1845 a Convenção Batista do Sul, quando os batistas pela primeira vez assumiram uma estrutura denominacional completa (a Convenção Batista do Norte só foi criada em 1905). Muitos batistas resistiram contra essa nova denominação predominantemente calvinista. Alguns eram arminianos, como os “batistas do livre arbítrio” ou “batistas gerais”. Outros, embora calvinistas, eram defensores intransigentes da autonomia da igreja local e não viam com bons olhos as atividades missionárias e educacionais conjuntas que retiravam recursos e pessoal do controle das congregações locais. Mais tarde, esses dissidentes influenciaram o surgimento de uma ênfase conhecida como “landmarkismo” na Convenção Batista do Sul, nome extraído do influente livro An Old Landmark Re-Set (1854), de James R. Graves.

3.1.4. Visão missionária

As missões protestantes dos países de língua inglesa tiveram início em 1793, quando William Carey partiu da Inglaterra para a Índia. Pouco depois, os americanos também deram início ao seu trabalho missionário no exterior. Esse movimento resultou de um reavivamento ocorrido no Williams College, em Massachusetts, que rapidamente alcançou os estudantes do recém-criado Seminário Teológico de Andover, no mesmo estado. Andover, a primeira escola de teologia dos Estados Unidos, foi fundado em 1807 por um grupo de congregacionais trinitários da Nova Inglaterra em protesto contra o desvio do Harvard College para o unitarismo.

Sob a liderança de Samuel J. Mills, Jr. (1783-1818), foi fundada em 1810 a Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras, que dois anos depois enviou para a Índia e o Extremo Oriente os primeiros missionários americanos, o mais famoso dos quais foi Adoniram Judson (1788-1850). Judson tornou-se batista ainda durante a viagem para a Índia e em 1814 ajudou a criar a Convenção Missionária Geral ou Convenção Batista Trienal. Ele trabalhou por quase quarenta anos na Birmânia. Devido a problemas de saúde, Samuel Mills não pode seguir para o exterior, mas viajou amplamente pelo oeste americano e contribuiu para a criação da Sociedade Americana de Missões Nacionais (1826).

3.1.5. Os presbiterianos

Em 1788, o Sínodo de Nova York e Filadélfia dividiu-se em quatro (Nova York e Nova Jersey, Filadélfia, Virgínia e Carolinas). No dia 21 de maio de 1789, reuniu-se pela primeira vez a “Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América”. Naquela época, a Igreja Presbiteriana era a denominação mais influente do país. Em 1800, contava com 180 pastores, 450 igrejas e cerca de 20 mil membros.

Em 1801, presbiterianos e congregacionais iniciaram um trabalho cooperativo conhecido como “Plano de União”. O objetivo era evangelizar com mais eficiência a população que estava indo para o oeste, a chamada “fronteira”. O resultado foi um avanço fenomenal. Em 1837, a Igreja Presbiteriana já contava com 2140 pastores, quase 3000 igrejas e 220 mil membros. O Seminário de Princeton foi fundado em 1812 (entre seus grandes professores estiveram Archibald Alexander, Charles Hodge, A.A. Hodge e Benjamin B. Warfield).

Devido a uma controvérsia sobre os requisitos para a ordenação de ministros, surgiu em 1810 a Igreja Presbiteriana de Cumberland, no Tennessee. Uma divisão mais séria ocorreu entre os grupos conhecidos como Velha Escola e Nova Escola, aquele sendo mais apegado aos padrões de Westminster do que este. Em 1837, a Velha Escola obteve a maioria na Assembléia Geral, cancelou o Plano de União de 1801 e excluiu quatro sínodos inteiros, dividindo ao meio a denominação. Foi criada a Junta de Missões Estrangeiras. Finalmente, em 1857 e 1861 ocorreram novas divisões, desta vez ocasionadas pelo problema da escravidão. As igrejas Nova Escola e Velha Escola do sul, favoráveis à escravidão, separaram-se das do norte. Eventualmente, foram criadas duas grandes denominações presbiterianas, a Igreja do Sul (PCUS, 1867) e a Igreja do Norte (PCUSA, 1870).

3.1.6 Grupos periféricos

Ao lado das denominações evangélicas principais, vários grupos periféricos surgiram nos primeiros anos da república americana. Um desses grupos foi iniciado por William Miller (1782-1849), um colono do Estado de Nova York que anunciou o retorno de Cristo para 1843-44. Quando isso não ocorreu, alguns abandonaram o movimento, mas outros perseveraram. Ainda outros continuaram a sustentar convicções adventistas em diversos movimentos menores. Um destes, sob a liderança de Ellen White (1827-1915), concluiu que Cristo havia de fato voltado como Miller tinha predito, mas que o retorno foi espiritual, para a presença do Pai. Esse foi o início dos modernos adventistas do sétimo dia.

Se os milleritas estavam na linha divisória entre os evangélicos e os sectários, os mórmons liderados por Joseph Smith (1805-1844) ficaram claramente do lado de fora. Nascido em uma família profundamente religiosa originária da Nova Inglaterra e residente no Estado de Nova York, Miller começou a ter visões de seres celestiais no início da década de 1820. Alguns anos depois, declarou ter recebido do anjo Moroni o Livro de Mórmon, que detalhava o relacionamento especial de Deus com os habitantes pré-históricos da América e as tribos perdidas de Israel. Um ano após publicar a tradução do livro (1830), Smith e seus seguidores mudaram-se para Ohio. Depois que Smith foi morto por uma turba em Illinois, Brigham Young tornou-se seu sucessor e liderou os mórmons em sua grande migração para a região do Lago Salgado, em Utah (1846-48).

Outro acontecimento notável do início do período republicano foi a criação de denominações afro-americanas. Tal foi o caso da Igreja Metodista Episcopal Africana, fundada por Richard Allen (1760-1831) em 1814, em Filadélfia. Na década seguinte, as igrejas e denominações negras estavam atuando em diversas áreas, como missões e reforma social. Em 1845, os negros batistas do norte fundaram a Sociedade Missionária Batista Africana. No sul escravagista, tais oportunidades foram muito mais limitadas.

Outro grupo que adquiriu grande visibilidade nesse período foi a Igreja Católica. Em 1789, quando houve a eleição do primeiro bispo católico dos Estados Unidos, havia cerca de 35 mil católicos no país, sessenta por cento deles em Maryland, e pouco mais de trinta sacerdotes. Em 1830, o número total de católicos havia ultrapassado a casa dos 300 mil. Nos trinta anos seguintes, enquanto a população nacional aumentou duas vezes e meia (de 13 para 31,5 milhões), a população católica cresceu quase dez vezes, totalizando mais de 3 milhões de pessoas. A causa mais importante desse aumento foi a imigração, principalmente da Irlanda e da Alemanha.

No mesmo período, chegaram da Europa muitos imigrantes protestantes, particularmente luteranos e pietistas alemães, reformados holandeses e luteranos escandinavos. Entre 1800 e 1920, os Estados Unidos receberam cerca de 40 milhões de imigrantes, entre os quais estava uma significativa minoria protestante. Muitos desses imigrantes formaram igrejas que inicialmente eram ligadas a organizações européias, mas depois se tornaram denominações autônomas.

3.1.7 Teologia protestante

Os teólogos estavam entre os intelectuais mais respeitados dos Estados Unidos antes da Guerra Civil. A obra de quase todos eles exibia algumas convicções comuns como a inspiração divina das Escrituras, um interesse pelos problemas teológicos definidos pela tradição calvinista dos puritanos e de Edwards e o uso da filosofia escocesa do senso comum como método intelectual. Essa filosofia afirmava que os sentidos físicos comunicam informações fidedignas sobre o mundo exterior e dava ênfase ao sentido moral (consciência) acerca do mundo espiritual. Esses teólogos também se interessavam pela cultura americana, afirmando os princípios de liberdade política, republicanismo e oportunidades democráticas que haviam sido abraçados pela Revolução.

O último estágio da evolução do pensamento que havia começado com o Grande Despertamento e com Jonathan Edwards foi denominado de Teologia de New Haven (ou da Nova Inglaterra). Timothy Dwight, neto de Edwards e presidente do Yale College na virada do século (1759-1817), foi um personagem chave no sentido de modificar algumas doutrinas do calvinismo colonial para utilização no século 19. Todavia, quem desenvolveu de modo mais consistente a Teologia de New Haven foi seu discípulo mais destacado, Nathaniel William Taylor (1786-1858). Em 1822, Taylor tornou-se o primeiro professor da nova Escola de Teologia de Yale, onde se considerava um herdeiro de Edwards e um campeão na luta contra o unitarismo. Porém, Taylor era acentuadamente diferente de Edwards em suas convicções acerca da natureza humana. Ele certa vez afirmou que as pessoas têm “capacidade para o contrário” quando confrontadas com escolhas morais. Com isso ele quis dizer que a pecaminosidade resulta de atos pecaminosos e não de uma natureza pecaminosa herdada de Adão. De fato, todas as pessoas pecam, mas elas não estão condicionadas a fazê-lo em virtude da natureza humana em si. A Teologia de New Haven foi um poderoso estímulo para o reavivamento e as reformas, uma vez que fornecia uma justificativa para as pessoas confiarem em Deus ao mesmo tempo em que exerciam ao máximo as suas próprias capacidades. Essa teologia emergiu da tradição calvinista, mas a sua ênfase na capacidade humana levou-a em direção ao metodismo que exercia grande influência sobre a religiosidade americana.

O unitarismo combatido por Taylor e seus companheiros teve o seu melhor representante na pessoa de William Ellery Channing (1780-1842). Channing havia crescido sob a influência das pregações de Samuel Hopkins, o discípulo mais fiel de Edwards, e teve uma experiência de conversão enquanto estudava em Harvard. Em 1803, tornou-se pastor da Igreja Congregacional de Federal Street, em Boston, onde permaneceu o restante da sua vida. Sua presença, bem como o liberalismo do Harvard College, fizeram de Boston a cidadela do unitarismo. Num famoso sermão pregado em 1819, Channing investiu contra as doutrinas tradicionais da Trindade, da divindade de Cristo, da depravação total e da expiação vicária. Em outras ocasiões, ele afirmou a perfectibilidade dos seres humanos, a paternidade de Deus, a perfeição moral de Cristo e a realidade da ressurreição. Ele cria que a Bíblia registrava a inspiração, mas não era inspirada em si mesma.

Charles Finney (1792-1875), quando ainda presbiteriano, leu as obras de Nathaniel W. Taylor e concluiu que o mesmo estava correto: os seres humanos têm dentro de si a capacidade de escolher a Cristo e viver vidas santas. Após deixar o presbiterianismo, ele leu a obra Plain Account of Christian Perfection, de John Wesley, e teve confirmada a sua crença na possibilidade da “inteira santificação”. Quando Finney tornou-se professor de teologia no Oberlin College (1835), sua teologia adquiriu forma definitiva com os seguintes componentes: compromisso com as “novas medidas” no avivamentismo, compromisso com a reforma moral e crença em um segundo estágio, mais maduro, na vida cristã. Esta última convicção foi desenvolvida por diferentes professores de Oberlin, que usavam expressões como “santidade”, “perfeição cristã” e “batismo do Espírito Santo”, que mais tarde exerceriam grande influência no desenvolvimento de teologias evangélicas, “holiness” e pentecostais. A influência de Finney foi ampliada consideravelmente por seus colaboradores, entre os quais o primeiro presidente de Oberlin, Asa Mahan (1799-1889), um enérgico proponente da Teologia de Oberlin.

Nem todos os calvinistas do século 19 estavam interessados em rever a sua herança em resposta às circunstâncias contemporâneas. Entre aqueles que insistiram em preservar o calvinismo tradicional estavam os teólogos do Seminário de Princeton. Esse seminário, fundado em 1812, por mais de um século foi o centro do calvinismo conservador americano. As convicções do primeiro professor do seminário, Archibald Alexander (1772-1851), determinaram as ênfases dessa teologia. Alexander era um homem de profunda piedade pessoal cuja teologia formal associou algumas ênfases do calvinismo europeu (Calvino, a Confissão de Westminster e Francisco Turretino) com uma defesa anticatólica das Escrituras através de recursos intelectuais definidos pela filosofia escocesa do senso comum.

Um discípulo de Alexander, Charles Hodge (1797-1878) transformou essa perspectiva teológica em um poderoso sistema de pensamento ao longo dos seus cinqüenta e seis anos como professor em Princenton. Hodge utilizou as mesmas fontes que Alexander havia usado para defender a glória de Deus (em vez da felicidade humana) como o propósito da vida, afirmar o poder do Espírito Santo na salvação (contra idéias de autodeterminação humana) e defender as Escrituras como a fonte apropriada da teologia (em contraste com a experiência religiosa ou os ditames da razão). Hodge certa vez afirmou orgulhosamente que nunca havia surgido uma nova idéia em Princeton, com o que ele quis dizer que a instituição queria transmitir a fé reformada como esta havia sido definida nos séculos 16 e 17. Todavia, Hodge e os princetonianos fizeram algumas adaptações à sua época, especialmente ao utilizarem os métodos científicos correntes como modelo para o seu trabalho. A fórmula de Hodge, “a Bíblia é para o teólogo o que a natureza é para o cientista”, foi usada para preservar o calvinismo tradicional, mas tomou como certos alguns conceitos e procedimentos que eram uma parte importante da vida intelectual americana no século 19.

No sul, com sua ordem social mais conservadora, as formas mais antigas da teologia tradicional sobreviveram de maneira ainda mais vigorosa do que no norte. James H. Thornwell (1812-1862) e Robert Dabney (1820-1898) foram defensores eficazes de um calvinismo não diluído pelas idéias modernas de autodeterminação pessoal. Thornwell, que era ligado ao Seminário Teológico de Columbia, tinha um calvinismo semelhante ao de Hodge, com a diferença de que dava maior ênfase à integridade da igreja e dos seus níveis superiores de jurisdição como um princípio espiritual. Dabney articulou uma forma moderada do calvinismo de Westminster, dando atenção especial às maneiras pelas quais a providência divina atua lado a lado com o curso regular da natureza, antes que em oposição ao mesmo. O calvinismo conservador dos dois teólogos também foi influenciado decisivamente pelo seu contexto sulista, pois eles acharam natural defender tanto a teologia tradicional quanto a ordem social tradicional da escravidão.

Outros teólogos destacados do sul foram os batistas J. M. Pendleton (1811-1891) e J. R. Graves (1820-1893), os articuladores do landmarkismo (termo derivado de Provérbios 22.28), uma concepção segundo a qual a organização eclesiástica e as práticas batistas eram as únicas formas cristãs fiéis ao Novo Testamento, sendo que igrejas que manifestavam esse rigoroso compromisso batista retrocediam até a época do Novo Testamento. Também notabilizaram-se Barton W. Stone (1772-1844) e Alexander Campbell (1788-1866), líderes dos chamados “cristãos” ou “discípulos de Cristo”, um movimento restauracionista que buscava recuperar a pureza original de um cristianismo voltado apenas para a Bíblia.

Outro pensador muito influente foi Horace Bushnell (1802-1876), pastor da Igreja Congregacional de Hartford, Connecticut. Com sua ênfase na experiência, ele antecipou as teologias protestantes, tanto liberais quanto conservadoras, que adotariam a experiência como seu princípio fundamental. Bushnell foi influenciado por Friedrich Schleiermacher e mais ainda por Samuel Taylor Coleridge, de quem aprendeu uma concepção mais romântica de Deus, da humanidade e do mundo. Em sua obra mais famosa, o tratado intitulado Christian Nurture (1847), ele argumentou contra os aspectos grosseiros do avivamentismo popular e defendeu um cristianismo centralizado no ambiente doméstico.

Uma tradição teológica que partilhava da mesma inquietação quanto ao evangelicalismo reavivamentista surgiu no seminário reformado alemão de Mercersburg, na Pensilvânia. Essa teologia foi articulada principalmente por John Williamson Nevin (1803-1886) e Philip Schaff (1819-1893). Nevin estudou com Charles Hodge em Princeton, mas concluiu que o calvinismo do seu mestre era excessivamente “puritano” e que o evangelicalismo americano em geral era muito influenciado por um reavivalismo mecânico. Após tornar-se professor do pequeno seminário de Mercersburg em 1840, ele sentiu o impacto do Catecismo de Heidelberg e de teólogos alemães interessados na renovação das tradições da Reforma. Respondendo a essas influências, Nevin criticou o reavivamentismo americano por dar excessiva ênfase ao indivíduo. Ele também atacou a ortodoxia calvinista americana por dar pouca ênfase à obra de Cristo e à Ceia do Senhor. Schaff, que passou a trabalhar com Nevin em 1844, trouxe consigo uma apreciação pela nova filosofia idealista alemã e um profundo compromisso com a renovação da igreja nos moldes pietistas. A maior influência desses teólogos somente se faria sentir no século XX.

3.1.8 As igrejas e a Guerra Civil

A Guerra Civil (1861-65) entre o norte e o sul dos Estados Unidos foi o mais sangrento conflito armado de que aquele país já participou, com mais de 620 mil soldados mortos. O sul ficou devastado, somente conseguindo recuperar-se economicamente em meados do século XX. Houve duas razões principais para a guerra: a definição dos Estados Unidos como nação (um país unido ou um grupo de estados que podiam separar-se à hora que quisessem?) e o problema da escravidão. Um momento decisivo foi a emancipação dos escravos, decretada pelo presidente Abraham Lincoln em 1863.

O cristianismo teve presença marcante na crise que resultou na Guerra Civil e na própria guerra. Como na Revolução Americana, a fé cristã em si não foi uma causa do conflito, mas ela proporcionou uma rede de influências que intensificaram as divergências políticas, sociais e culturais que resultaram no conflito. Tão intensos quanto o compromisso religioso com a guerra foram os amplos efeitos religiosos que ela precipitou. No aspecto prático, as igrejas foram usadas como postos de recrutamento e as tropas eram enviadas para a batalha mediante a realização de um culto. As mulheres foram mobilizadas para fazer uniformes para os exércitos. Os ministros ficaram em situação difícil, presos entre a sua consciência e a lealdade regional. Leonidas Polk, o bispo episcopal da Luisiana, tornou-se um general no exército sulista. Muitos hinos foram escritos, dos quais o mais famoso foi “The Battle Hymn of the Republic” (Vencendo Vem Jesus).

3.2 Os últimos anos da “América Protestante” (1865-1918)

Após a Guerra Civil, ocorreram enormes mudanças na sociedade americana que afetaram profundamente o cenário religioso. O protestantismo clássico – os grupos que se consideravam os protetores da herança cristã americana e os construtores de uma sociedade nitidamente protestante – viu a sua influência declinar com a passagem dos anos. Na segunda metade do século 19 houve um grande crescimento do número de cristãos não-protestantes (católicos, ortodoxos) ou que não eram de língua inglesa (alemães, holandeses, escandinavos), bem como de não-cristãos (judeus, muçulmanos, orientais). Além disso, surgiram crescentes tensões dentro da própria comunidade protestante majoritária. Todavia, por algum tempo os protestantes brancos anglo-saxônicos continuaram a exercer forte influência e a dedicar-se com entusiasmo a atividades missionárias (nacionais e estrangeiras) e sociais.

3.2.1 Missões

O ímpeto de difundir o evangelho tornou-se ainda mais forte após a Guerra Civil. Um reavivamento ocorrido em 1857-58, às vezes denominado o “despertamento dos homens de negócios” por causa da participação de destacados empresários urbanos na promoção do mesmo, havia estabelecido um modelo para o evangelismo urbano posterior e também elevado as expectativas quanto às atividades missionárias no exterior.

O evangelista mais conhecido da segunda metade do século 19 foi Dwight Lyman Moody (1837-1899). Moody nasceu no interior de Massachusetts e passou parte da adolescência em Boston, vindo ali a converter-se. Pouco antes da Guerra Civil, mudou-se para Chicago, onde se envolveu com o trabalho da Associação Cristã de Moços e passou a dar assistência às crianças pobres da cidade. Em 1873, convidou o cantor evangélico Ira Sankey (1840-1908) para acompanhá-lo numa campanha evangelística na Inglaterra. Os resultados foram muito além das suas mais ousadas expectativas. Regressaram dois anos mais tarde aos Estados Unidos cercados de enorme celebridade e deram início a uma série de memoráveis campanhas que marcaram profundamente as igrejas e a sociedade. Essa revitalização chegou num momento em que o país sofria com o fracasso da reconstrução do sul, o temor da influência católica e os problemas da expansão urbana e industrial.

Moody inaugurou um novo estilo de pregação e evangelismo, mais comedido e melhor adaptado à época do pós-guerra, que seria seguido por muitos de seus sucessores até os nossos dias (Billy Graham). Ele ampliou a sua influência através de importantes instituições que fundou, como um centro de treinamento para obreiros leigos em Chicago (o futuro Instituto Bíblico Moody) e as conferências missionárias de verão realizadas perto da sua residência em Northfield, Massachusetts. Dessas conferências resultou a criação do Movimento Voluntário Estudantil (1876), que inspirou milhares de jovens a dedicarem suas vidas ao esforço missionário mundial.

Os principais promotores de missões estrangeiras nessa época foram homens como o presbiteriano Arthur Tappan Pierson (1837-1911), um dos fundadores da Missão do Interior da África; o batista Adoniram Judson Gordon (1836-1895), fundador do Instituto de Treinamento Missionário de Boston; A. B. Simpson (1843-1919), o fundador da igreja Aliança Cristã e Missionária; John R. Mott (1865-1955), autor da famosa senha “A evangelização do mundo nesta geração”; e principalmente Robert Eliott Speer (1867-1947), que, após participar do Movimento Voluntário Estudantil, foi por mais de quarenta anos (1891-1937) o secretário da Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos.

Nas últimas décadas do século 19 houve um crescimento impressionante das missões protestantes norte-americanas através do mundo, coincidindo com a própria expansão econômica, política e militar dos Estados Unidos. Isso criou uma mistura de motivações missionárias e nacionalistas que por vezes gerou sérios problemas. Na mesma época, ganhou ímpeto a tendência de aproximação dos missionários e agências de diferentes denominações, que resultou na realização de grandes conferências missionárias dos dois lados do Atlântico e contribuiu para o surgimento do movimento ecumênico do século XX.

3.2.2. Envolvimento social

Além do interesse por missões, as igrejas americanas também se envolveram em atividades políticas e de reforma social, como a campanha contra a venda e o consumo de bebidas alcoólicas (o movimento da temperança). Os protestantes preocuparam-se especialmente com os problemas gerados pela expansão econômica e o resultante crescimento das cidades. Os centros urbanos tornaram-se lugares em que os muitos imigrantes e outras minorias viviam na pobreza, sem usufruir a prosperidade que beneficiava a tantos ao seu redor. Um das iniciativas mais bem-sucedidas no sentido de enfrentar esses problemas foi o Exército de Salvação. Essa organização religiosa e caritativa foi criada na Inglaterra na década de 1860 por William Booth, sendo levada para os Estados Unidos em 1880. No início do século XX, o Exército da Salvação já possuía mais de novecentos locais de atendimento no país, proporcionando assistência religiosa, alimento, abrigo, assistência médica, educação primária, treinamento profissional, assistência jurídica e outros serviços.

Outra iniciativa de grande impacto foi o movimento do Evangelho Social, que esteve em evidência desde aproximadamente 1880 até o início da Grande Depressão, em 1929. Um dos primeiros articuladores do movimento foi Washington Gladden (1836-1918), um ministro congregacional que atuou em Massachusetts e Ohio e foi ardoroso defensor dos direitos dos trabalhadores. Charles Sheldon, um pastor do Kansas também contribuiu para popularizar o Evangelho Social através do seu famoso livro Em Seus Passos (1897). Porém, o mais importante expoente desse movimento foi Walter Rauschenbusch (1861-1918), um pastor batista de origem alemã que trabalhou por dez anos no bairro novaiorquino conhecido como Hell’s Kitchen (“cozinha do inferno”) antes de tornar-se professor de história da igreja no Seminário de Rochester. Seu contato direto com a exploração dos operários e a indiferença das autoridades fizeram dele um crítico da ordem estabelecida. Todavia, seu principal interesse foi buscar nas Escrituras uma mensagem para os problemas da sociedade industrial. Esse esforço resultou em alguns livros marcantes publicados no início do século XX: O Cristianismo e a Crise Social (1907), Orações do Despertamento Social (1910), Cristianizando a Ordem Social (1912) e Uma Teologia do Evangelho Social (1917).

3.2.3 Desafios intelectuais

O novo ambiente urbano posterior à Guerra Civil ofereceu pressões comerciais mais intensas, maior acesso à educação superior e crescente contato com pessoas de diferentes grupos étnicos e religiosos, fatores esses que contribuíram até certo ponto para solapar o caráter evangélico da fé nacional. Além dessas mudanças sociais, ocorreram alguns deslocamentos intelectuais que apontavam para a fragmentação do cristianismo protestante que por mais de um século havia dominado a religião pública dos Estados Unidos.

O período pós-guerra testemunhou o surgimento da moderna universidade americana, começando com Harvard, em 1869, e Johns Hopkins, em 1876, seguidas de Stanford, Universidade de Chicago, Yale, Princeton, Columbia, Michigan e Winsconsin. Os recursos para essas instituições vieram da nova classe de riquíssimos empresários como Ezra Cornell, Johns Hopkins, Cornelius Vanderbilt, Leland Stanford, James Duke e John D. Rockefeller. O objetivo das mesmas não era mais a formação do caráter, como havia sido tradicionalmente, mas a instrução especializada, em nível de pós-graduação, segundo o modelo alemão de vida acadêmica. Essa tendência foi acompanhada do enfraquecimento da influência cristã nessas instituições e de uma quase ilimitada confiança na ciência.

Certas proposições acerca da Bíblia também causaram um grande impacto. Boa parte dos estudos avançados vindos da Europa no final do século 19 parecia minar a antiga confiança que a maior parte dos americanos havia depositado na veracidade das Escrituras. As novas concepções da crítica histórica transformaram a Bíblia de uma fonte inquestionável de autoridade religiosa em um problema que exigia crescente atenção e gerava crescente controvérsia.

Ao contrário do que aconteceria a partir de 1920, as primeiras adaptações dos protestantes às novas condições sociais e às idéias críticas modernas foram relativamente isentas de traumas. As atitudes quanto à evolução constituem um bom exemplo. Na primeira década e meia após a publicação da obra de Charles Darwin, A Origem das Espécies (1859), tanto líderes religiosos quanto cientistas demonstraram grande ceticismo quanto à teoria da evolução através da seleção natural. Pensadores progressistas como Horace Bushnell se uniram a conservadores como Charles Hodge e moderados como Phillips Brooks no sentido de rejeitar essa teoria como uma afronta às sensibilidades morais e às pressuposições teistas. Por outro lado, o mais notável dos primeiros defensores de Darwin nos Estados Unidos foi Asa Gray, um botânico de Harvard que insistia que a teoria da evolução era compatível com o desígnio inteligente de Deus com relação ao universo, bem como com o cristianismo ortodoxo, trinitário.

Mais tarde, quando o mundo científico gradualmente veio a aceitar os princípios evolucionários gerais, os protestantes começaram a dividir-se. Charles Hodge considerou a evolução proposta por Darwin como “ateísmo”, porque ele não encontrou nas obras desse autor qualquer espaço para o propósito divino no controle do mundo. Do outro lado estavam pensadores que alteraram radicalmente algumas concepções cristãs tradicionais para adaptá-las ao modelo evolucionário, mas não havia muitos deles até o início do século XX. Muito mais comum do que a pura e simples rejeição ou aceitação do darwinismo foram as tentativas de fazer pequenos ajustes tanto no pensamento cristão tradicional quanto nas concepções populares acerca do cosmos, como foi o caso de alguns professores de Yale e Princeton. Esses protestantes sentiam que a fé cristã histórica e a crença tradicional no ordenamento divino do mundo podiam harmonizar-se com a crença em algum tipo de evolução.

Benjamin B. Warfield (1851-1921), professor do Seminário de Princeton e principal defensor da inerrância das Escrituras no final do século 19, escreveu em 1888 que não julgava haver qualquer afirmação geral na Bíblia ou no relato da criação que fosse oposta à evolução. Outros indivíduos que tentaram reter a antiga fé com alguma mistura de elementos modernos foram, por exemplo, os presbiterianos William G. T. Shedd (1820-1894) e Charles A. Briggs (1841-1913), e os batistas Augustus H. Strong (1836-1921) e Edgar Young Mullins (1860-1928). As diferenças que existiam entre eles eram consideráveis, mas o que tinham em comum era um protestantismo que ainda possuía as marcas do século 19. Eles estavam tão preocupados em preservar quanto ou mais que em inovar; estavam interessados em assimilar (ou pelo menos considerar plenamente) os últimos avanços da ciência e prontos a utilizar certas associações de recursos teológicos que no século seguinte tornaram-se incompatíveis, escrevendo suas teologias para orientar tanto a igreja quanto a cultura geral.

Ao mesmo tempo, os novos conhecimentos romperam o relacionamento existente entre o protestantismo evangélico e a vida intelectual da nação ao eliminarem o controle protestante da educação superior americana e abrirem a porta para interpretações seculares da vida. Mais que isso, no alvorecer do século XX, surgiram dois pólos de teologia protestante radicalmente opostos: modernismo e fundamentalismo. Os modernistas eram protestantes que sentiam ser necessário adaptar a fé cristã às normas definidoras da cultura moderna. Os representantes mais destacados dessa posição foram homens como o ministro congregacional Theodore Munger (1830-1910), o professor e presidente do Seminário Union de Nova York, Arthur Cushman McGiffert (1861-1933), e especialmente o deão da Escola de Teologia da Universidade de Chicago, Shailer Mathews (1863-1941), autor do conhecido livro A Fé do Modernismo (1924).

As respostas fundamentalistas aos novos desafios abrangeram um amplo espectro. De um lado houve intelectuais respeitados como J. Gresham Machen (1881-1937), professor de Novo Testamento no Seminário de Princeton e autor do livro Cristianismo e Liberalismo (1923); do outro lado, proponentes do dispensacionalismo pré-milenista como Cyrus I. Scofield (1843-1921), autor da edição comentada da Bíblia que leva o seu nome. Um movimento protestante ainda mais conservador no final do século 19 foi o que recebeu o nome de “holiness” (santidade), derivado do metodismo e um precursor direto do pentecostalismo do século XX.

 

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Williams, Peter W., America’s Religions: Traditions and Cultures (Nova York: Macmillan, 1990).

Períodos: Mark Noll, A History of Christianity in the United States and Canada (1992).

 

I. Primórdios

1.      Expansão européia e colonização católica: Nova Espanha, Nova França, Maryland
2.      A Reforma inglesa e os puritanos: Inglaterra, Virgínia, Plymouth
3.      Outros primórdios: batistas, anglicanos, quakers, presbiterianos, reformados e pietistas, índios e escravosII. Americanização
4.      Renovação da piedade (1700-1750): Solomon Stoddard e Cotton Mather; o Grande Despertamento (George Whitefield e Jonathan Edwards); seus efeitos
5.      As igrejas na revolução: patriotas e monarquistas; a fé dos fundadores; a escravidão
6.      A revolução nas igrejas: separação igreja-estado; democracia populista; teologia americanaIII. O “Século Protestante”
7.      Mobilização evangélica: o Segundo Grande Despertamento; metodistas e batistas; Finney; mulheres; missões
8.      Os “forasteiros”: adventistas, mórmons, negros, católicos, imigrantes
9.      A “América Evangélica” (1800-1865): missões, educação, teologia, política
10.  [O Canadá cristão]
11.  Os últimos anos da “América Protestante” (1865-1918): evangelismo e missões, reforma moral, política protestante, o Evangelho Social, o movimento ecumênicoIV. A Emergência do Pluralismo Religioso
12.  A Guerra Civil
13.  Grupos não-brancos e não-protestantes: negros, ortodoxos, católicos
14.  O protestantismo abalado: desafios intelectuais e teológicos
15.  Legados da “América Cristã”(a)   Sydney Ahlstrom, A Religious History of the American People (1972)

I. Prólogo Europeu: catolicismo, Reforma, puritanismo, colonização
II. A Fundação do Império Protestante: Nova Inglaterra, Rhode Island, colônias do sul e colônias centrais (holandeses, puritanos, quakers, anglicanos, pietistas reformados e luteranos)
III. O Século de Despertamento e Revolução: presbiterianismo, o Grande Despertamento, Jonathan Edwards e teologia, catolicismo, iluminismo, revolução
IV. A Era Dourada do Evangelicalismo Democrático: unitarianismo, teologia da Nova Inglaterra, o Segundo Grande Despertamento, metodistas e batistas, presbiterianos e congregacionais, seitas e movimentos comunitários
V. Religiões Competidoras: luteranismo, catolicismo, anti-catolicismo e movimento natisvista, judaísmo, romantismo
VI. Escravidão e Expiação: reformas humanitárias, escravidão e divisão, Guerra Civil e reconstrução, igrejas negras, igrejas brancas do sul
VII. As Dores da Transição: crescimento urbano, imigração, teologia liberal, evangelho social, tensões no protestantismo e catolicismo, protestantismo militante

(b)   Edwin Gaustad, A Religious History of America (1990)

I.        A Era da Exploração (1492-1607): índios americanos; primeiros esforços missionários e colonizadores dos franceses, espanhóis e ingleses
II. A Era da Colonização (1607-1775): a religião das colônias inglesas
III. A Era da Expansão (1775-1898): revolução e separação igreja-estado,despertamento e inovações, evangelização do oeste, abolicionismo e Guerra Civil, diversidade religiosa e imigração, urbanização e industrialização
IV. A Era do Império (1898-1962): da Guerra Hispano-Americana até o Vaticano II; tema: o ingresso dos EUA no cenário mundial; missões domésticas e mundiais; grupos religiosos; controvérsias teológicas.

 

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Pastor Eli Vieira é casado com Maria Goretti e pai de Eli Neto. Responsável pelo site Agreste Presbiteriano, Bacharel em Teologia, Pós-Graduado em Missiologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, Recife-PE e cursando Psicologia na UNINASSAU. Exerce o seu ministério pastoral na Igreja Presbiteriana do Brasil desde o ano 1997 ajudando as pessoas a encontrarem esperança e salvação por meio de Jesus Cristo. Desde a sua infância serve ao Senhor, sendo educado por seus pais aos pés do Senhor Jesus que me libertou e salvou para sua honra e glória.

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