“Sou Cristão e melhor do que vós: creio só em Cristo, sem macular a religião com idolatria, como fazeis com a vossa. Aprendi a religião cristã e a pratico diariamente, e se vós a tivésseis aprendido, não serviriam aos inimigos portugueses”, Pedro Poti.
Por volta de 1501, algumas jovens do povo Potiguar acenaram para a embarcação de Gonçalo Coelho e, então, eles enviaram quatro dos seus marinheiros para barganhar com aquelas moças bonitas. Enquanto os quatro estavam naquela Baía, seus companheiros assistiram, de lá da embarcação, a terrível cena deles sendo apunhalados pelas costas a pauladas na praia. Os quatro portugueses foram “assados e devorados”, escreveu Américo Vespúcio em sua carta a Manuel I, Rei de Portugal. Américo Vespúcio chamou Akaîutebiró de “Baía da Traição”. O que Gonçalo Coelho não sabia era que os Potiguar já faziam parte de uma aliança franco-indígena contra os portugueses invasores.
O povo Potiguar se espalhava desde Pernambuco até o Maranhão. Povo guerreiro, com uma população de 100.000 pessoas, era tido como o mais poderoso povo indígena do litoral do Nordeste. Por meio de alianças, primeiramente, com os franceses, depois, com os holandeses, o povo Potiguar também fez forte oposição às invasões portuguesas. E é no contexto do Brasil Holandês que surge a história do valente Pedro Poti, Governador dos índios da Paraíba.
Pedro Poti, cujo nome indígena era Itaque, viu seu povo ser massacrado pelos portugueses, que não aceitaram a hospitalidade Potiguara oferecida aos holandeses, quando esses chegaram à Baía da Traição, em 1625. Muitos Potiguaras fugiram para o interior para não serem mortos, outros se refugiaram no Rio Grande do Norte, contudo, Pedro Poti fez parte de um grupo que partiu com os holandeses para a Europa, onde aprendeu a ler e escrever o neerlandês e se converteu à Fé Reformada, vivendo lá por 5 anos. Ao retornar, assumiu a liderança do seu povo contra os portugueses, fazendo oposição ao seu parente, Felipe Camarão.
Pedro Poti era um diplomata, militar, líder político e religioso, que defendeu a liberdade oferecida pelos holandeses aos povos indígenas do Brasil contra o sistema colonialista português. Ao retornar ao Brasil, ele trabalhou como mediador dos holandeses junto aos povos indígenas. A importância de Pedro Poti para o estabelecimento do Brasil Holandês é atestada por vários estudiosos e historiadores. Poti atuou de forma impressionante como um mediador intercultural entre holandeses e os diversos povos indígenas de culturas e línguas tão diferentes, conseguindo uni-los em uma aliança contra os portugueses.
Participou não apenas do primeiro culto realizado na Paraíba, como também da Primeira Ceia protestante em sua aldeia, Massurepe, em 1640. Durante a Insurreição Pernambucana, Poti liderou os Potiguaras contra os portugueses. Mas foi graças a uma única carta de sua autoria que chegou até nós, datada de 31 de outubro de 1645, dia da Reforma Protestante, que podemos conhecer o profundo ardor de Poti pela fé cristã.
Não foram poucas as tentativas de fazer com que Pedro Poti mudasse de lado, mas ele permaneceu firme, mesmo diante das investidas de seu primo Felipe Camarão, aliado dos portugueses. Da carta citada no parágrafo anterior, resposta a esse seu primo, eu retiro o trecho a seguir: “Fica sabendo que serei um soldado fiel aos meus chefes até morrer. Estou bem aqui e nada me falta; vivemos mais livremente do que qualquer de vós, que vos mantendes sob uma nação que nunca tratou de outra coisa senão nos escravizar”.
Pedro Poti foi aprisionado em 1649, durante a segunda batalha dos Guararapes. Durante meses, ele foi acorrentado numa masmorra a pão e água. De vez em quando, os padres jesuítas o tiravam de lá para obrigá-lo a renegar sua fé calvinista, mas o guerreiro potiguar permaneceu inabalável até que, em 1652, foi levado numa embarcação a Portugal, para lá ser julgado. Contudo, Poti nunca chegou lá. A história indica que o jogaram no mar. Pedro Poti morreu como herói da liberdade e o primeiro mártir brasileiro pela causa do Evangelho. A vida de Pedro Poti se confunde com os primórdios da chegada do protestantismo ao Brasil.
Rev. Fábio Ribas
Fonte: APMT